Ibovespa salta mais de 6% e é o melhor investimento de agosto, enquanto bitcoin (BTC) despenca 10% e fica na lanterna; confira o ranking completo
Agosto, o mês do desgosto? Não para o Ibovespa. Contrariando o ditado popular sobre o azar que domina o período, o principal índice acionário brasileiro quebrou uma série de recordes e liderou o ranking de melhores investimentos.
Apesar da derrapada na sessão de hoje, o Ibovespa subiu 6,5% no acumulado desde o início de agosto. Impulsionado principalmente pela perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos, o índice registrou o melhor desempenho mensal deste ano.
Já a medalha de prata ficou, não ironicamente, com o ouro. Com o apetite de bancos centrais ao redor do mundo em alta, o ETF GOLD11 — fundo de índice que busca refletir a cotação do metal precioso em barra — apresentou ganhos de pouco mais de 2%.
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Completa o topo do ranking outro índice que, dessa vez, não está ligado às ações e sim à renda fixa. O Índice de Debêntures ANBIMA – IPCA, que espelha o comportamento de uma carteira de dívida privada, subiu 1,5% em agosto.
A ponta negativa da tabela, por outro lado, ficou com o bitcoin (BTC). A criptomoeda devolveu parte da alta acumulada nos últimos meses e caiu 10%, mas ainda sobe mais de 60% neste ano. Confira abaixo o ranking completo dos melhores investimentos de agosto:
Investimento | Rentabilidade no mês | Rentabilidade no ano |
Ibovespa | 6,54% | 1,36% |
Ouro (GOLD11) | 1,79% | 40,08% |
Índice de Debêntures Anbima – IPCA (IDA – IPCA)* | 1,50% | 6,49% |
Tesouro Prefixado 2029 | 1,37% | -1,32% |
Índice de Debêntures Anbima Geral (IDA – Geral)* | 1,25% | 8,18% |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2033 | 1,15% | -1,53% |
Tesouro Selic 2026 | 0,91% | 7,22% |
Tesouro Selic 2029 | 0,87% | 7,28% |
IFIX | 0,86% | 2,48% |
CDI* | 0,83% | 7,01% |
Tesouro IPCA+ 2045 | 0,79% | -8,29% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2040 | 0,68% | -0,93% |
Tesouro Prefixado 2026 | 0,65% | 3,39% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2032 | 0,60% | 0,64% |
Poupança antiga** | 0,57% | 4,02% |
Poupança nova** | 0,57% | 3,39% |
Tesouro IPCA+ 2029 | 0,57% | 0,95% |
Tesouro IPCA+ 2035 | 0,27% | -2,77% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055 | 0,25% | -4,38% |
Dólar PTAX | -0,10% | 16,85% |
Dólar à vista | -0,36% | 16,10% |
Bitcoin | -10,28% | 61,01% |
O que levou o Ibovespa às alturas?
O grande pontapé para a disparada do Ibovespa veio dos Estados Unidos. Mais especificamente do Federal Reserve (Fed) e as expectativas para a reunião dos dirigentes do banco central norte-americano, marcada para 17 e 18 setembro.
No início do mês já havia uma perspectiva de que o Fed iniciaria os cortes nos juros no próximo encontro. E as apostas nesse cenário só foram fortalecidas ao longo de agosto, não restando mais dúvidas para o mercado de que haverá um afrouxamento monetário.
“Chegou a hora de a política monetária se ajustar. A direção da viagem é clara, e o momento e o ritmo dos cortes nos juros dependerão dos dados recebidos, da perspectiva em evolução e do equilíbrio de riscos”, declarou Jerome Powell, o presidente do Fed, em Jackson Hole, um dos principais eventos da política monetária mundial.
A questão agora é sobre a magnitude dessa redução: enquanto boa parte do mercado enxerga a chance de um corte de 25 pontos-base, também há apostas mais ousadas, de 50 pontos-base.
Por que a possível alta da Selic pode ser uma boa notícia para o mercado local
Qualquer que seja o tamanho da redução, ela deve contrastar com a decisão do Banco Central brasileiro a respeito dos rumos da política monetária por aqui.
O país iniciou o corte nos juros muito antes do Fed sequer começar a discutir o afrouxamento nos EUA. Mas as reduções foram interrompidas em junho e agora a previsão é que o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) volte a apertar a taxa Selic. O Copom se reúne de novo no mesmo dia do Fed, na chamada Super Quarta.
Com o os juros caindo nos Estados Unidos e subindo no Brasil, a expectativa é que players internacionais voltem os olhares para o País em busca de investimentos com retornos mais elevados — e aumentem o fluxo estrangeiro no mercado local.
A perspectiva de elevação da Selic é baseada na desancoragem do cenário inflacionário — o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 4,5% em 12 meses, no topo da meta a ser perseguida pelo BC —, incertezas sobre o quadro fiscal e falas dos próprios dirigentes do Copom.
Nesta semana, por exemplo, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, reforçou que o BC segue dependente de dados para definir a política de juros. A declaração veio depois de o próprio diretor manter sobre a mesa a possibilidade de aumento da Selic para controle da inflação na semana anterior.
Vale destacar que Galípolo foi confirmado, também nesta semana, como o indicado do governo para a presidência do BC. Ele substituirá Roberto Campos Neto no comando da autoridade monetária a partir de 2025.
Ações da Azul (AZUL4) despencam e B3 (B3SA3) dispara: as maiores altas e quedas do Ibovespa
Enquanto o cenário para os juros definiu a ponta positiva do ranking de melhores investimentos do mês, a lista de maiores altas e quedas da bolsa foi mais influenciada pela temporada de balanços e pelo noticiário corporativo.
A Azul (AZUL4), por exemplo, foi penalizada em ambos os casos, registrando fortes quedas após divulgar o resultado do segundo trimestre e também após o surgimento rumores de um possível pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos.
Com isso, as ações tombaram mais de 30% em agosto. Veja abaixo:
Empresa | Código | Variação no mês | Variação no ano |
Azul | AZUL4 | -32,63% | -66,33% |
Vamos | VAMO3 | -12,17% | -24,53% |
Alpargatas | ALPA4 | -10,47% | -23,91% |
Yduqs | YDUQ3 | -10,05% | -55,31% |
Cogna | COGN3 | -9,21% | -60,46% |
Natura | NTCO3 | -9,31% | -16,52% |
Localiza | RENT3 | -5,98% | -34,14% |
São Martinho | SMTO3 | -4,61% | -2,87% |
Carrefour | CRFB3 | -3,24% | -28,03% |
3R Petroleum | RRRP3 | -2,55% | 1,85% |
Já o grande destaque positivo do mês foram as ações do IRB Brasil Re (IRBR3). Ao contrário dos resultados da companhia aérea, o balanço do ressegurador agradou analistas e investidores ao demonstrar resiliência na operação.
Apesar de um aumento de R$ 257 milhões nos custos decorrentes de sinistros adicionais das enchentes do Rio Grande do Sul, além de R$ 107 milhões provisionados para futuros sinistros, a companhia reportou lucro líquido de R$ 65 milhões.
Confira outros destaques de agosto:
Empresa | Código | Variação no mês | Variação no ano |
IRB(Re) | IRBR3 | 64,04% | 8,53% |
Petz | PETZ3 | 39,14% | 23,29% |
Marfrig | MRFG3 | 29,09% | 50,52% |
Lojas Renner | LREN3 | 28,81% | -0,12% |
Bradesco PN | BBDC4 | 26,03% | -5,15% |
Bradesco ON | BBDC3 | 25,22% | -4,62% |
BRF | BRFS3 | 24,79% | 90,30% |
Minerva | BEEF3 | 18,92% | 0,13% |
GPA | PCAR3 | 17,36% | -23,40% |
B3 | B3SA3 | 16,87% | -10,83% |
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Assim como o Ibovespa, o bitcoin também começou o mês embalado pela expectativa de corte nos juros dos EUA e o maior apetite ao risco dos investidores ao redor do globo. Mas, ao contrário do que ocorreu no mercado acionário, agosto terminou com desgosto para o BTC.
Vale relembrar que juros mais baixos tendem a favorecer a procura por ativos mais arriscados como o bitcoin, demais criptomoedas, ações e outros ativos de renda variável. Mas a perspectiva de afrouxamento monetário nos EUA não foi suficiente para o BTC sustentar os ganhos.
Um fator que pesou para a criptomoeda logo na primeira semana do mês foi o pânico que tomou conta dos mercados financeiros globais.
O ativo chegou a tombar quase 20% no dia em que uma alta de juros promovida pelo banco central japonês e os temores de desaceleração da economia dos EUA, entre outros fatores — veja aqui o que mais derrubou as bolsas na ocasião —, provocaram uma aversão ao risco em nível mundial.
Outro evento que prejudicou as cotações foi a “desova” promovida por uma das baleias do mercado, como são conhecidos os investidores com posições multimilionárias em criptoativos.
O investidor em questão não foi identificado, mas transferiu mais de dois mil bitcoins em apenas uma operação e embolsou cerca de US$ 142 milhões.
E, segundo informações da comunidade cripto, a baleia misteriosa ainda detém uma posição em BTC avaliada em mais de US$ 1 bilhão que, se despejada, pode voltar a causar impacto no mercado.
*Colaboraram Carolina Gama e Micaela Santos