Zero IPOs, retração do mercado de capitais, mais reestruturações de dívidas… o que a BR Partners (BRBI11) espera para 2025
Excesso de capital, modelo de partnership e negócios de alta liquidez fechados durante o ano são alguns dos fatores que explicam o que levou a BR Partners (BRBI11), holding de gestão de investimentos, a aprovar a distribuição de R$ 81,9 milhões em dividendo aos acionistas em novembro.
Mas há um outro motivo que vale detalhar – e que vem norteando as previsões da empresa para o ano de 2025 e 2026, como explica Vinicius Carmona, sócio e diretor de Relações com Investidores da companhia.
“Estamos bem céticos em relação à política fiscal do país e acho que a tributação de dividendos está próxima a acontecer, por isso pensamos em distribuir o máximo (de dividendos) possível neste ano”, disse ele em entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro.
A empresa, inclusive, já estuda dois mecanismos de distribuição de lucro para que minoritários e associados não sofram tanto com a possível tributação de dividendos. A alternativa mais viável seria a de aumentar o payout da companhia, hoje de até 65%, ou seja, porcentagem limite do lucro que pode ser compartilhado.
Outra saída seria a de transformar os pagamentos em cash bônus aos associados em despesas de pessoal, o que poderia mexer na rentabilidade do negócio e faria dessa a essa saída menos viável do ponto de vista rentável.
Carmona afirma que, historicamente, a companhia sempre paga dividendo porque o modelo de gestão partnership prevê um alinhamento direto entre os sócios e a distribuição de dividendos. Por isso a tributação de dividendos interferiria diretamente no negócio.
A insegurança com a política fiscal e econômica do país faz com que a holding também tenha os pés no chão sobre o que esperar da própria operação.
BR Partners: não há condição para IPO em 2025
Se em 2024 a BR Partners fez sua primeira emissão de letra perpétua, o que reforçou o capital e alongou o passivo da companhia, de um para dois anos após essa captação, para 2025 a expectativa é de que o mercado cresça com crédito privado, negócios em M&A e reestruturações de empresas – aliás, negócios que já estavam em alta neste ano.
A promessa de IPO, no entanto, é nula, na visão da companhia.
“Não há nenhuma perspectiva de IPO para 2025, ah não ser que aconteça um evento muito inesperado que mude drasticamente as condições de mercado”, afirma Vinicius, que justifica a perspectiva com o fato de que na sua visão “não há motivo para IPO com um fiscal arrebentando e um nível de juros que analistas precificam hoje a 15%”.
Na opinião dele, o custo de capital está muito alto por dois fatores simples de entender: primeiro, porque o investidor está sem apelo a tomar risco com a Selic no patamar atual, de 12,5%, que deixa o investidor preso em aplicações do Tesouro ou outras para ter um retorno certo maior que isso. “Não há muito incentivo para o investidor tomar risco no equity”, afirma.
Segundo que, para uma empresa optar por um IPO, caso o investidor tope tomar risco para tanto, ela teria de dar um desconto grande e ser altamente diluída, além de abrir mão de uma fatia muito grande. Ou seja, não seria tão atrativo nem para o emissor, nem para o investidor. “Olhando os fundamentos macroeconômicos não existe estímulo para isso”, diz o diretor de RI.
Até mesmo para 2026 a discussão sobre possíveis IPOs se torna incerta, na opinião Vinicius, dado as perspectivas de cenário previstas para 2025 dentro e fora do país.
Para além dos IPOs, o diretor de RI acredita que o mercado de equity deve seguir tão seletivo quanto foi neste ano, o que é ruim porque impede que gestores desenvolvam uma estratégia de longo prazo. A preocupação maior nesses casos são com a liquidez, com o resgate para a cobertura de crédito, o que limita a escolha desses gestores a poucas ações de empresas que eles estudam e conhecem bem.
Mercado de capitais deve retrair até 30%
Carmona acredita que o mercado de capitais como um todo teve um 2024 incrível, com recorde de emissão de dívidas, graças a um juro médio de 10% ao ano, e a um mercado em pleno desenvolvimento no Brasil. As empresas passaram a não depender mais de uma relação bilateral com bancos e ganharam confiança para buscar crédito com foco na alavancagem.
A questão é que, na opinião dele, esse deve ser um mercado ativo, mas ainda assim, não deve ser tão promissor quanto foi em 2024. “ Neste ano, o emissor conseguiu emitir dívidas financeiras a spreads bem menores e alongar dívidas de cinco anos para cima que, em um cenário mais inseguro como promete ser 2025, será mais complicado esse patamar de juros”, diz o diretor de RI.
A tendência, para ele, talvez seja até a redução de capex pelas empresas porque os projetos terão de ser muito rentáveis para cobrir o custo de capital necessário para os projetos.
“Acredito muito mais em um ritmo de emissões ali de R$ 40 a 50 bilhões por mês, pela Anbima, do que os atuais R$ 60 a R$ 70 bilhões mensais que vemos hoje. Estamos falando de uma desaceleração de 25% a 30%. Acho razoável imaginar isso”, diz ele.
A previsão é difícil de ser feita, mas Vinicius se baseia nos negócios que a própria BR Partners tem fechado ou não já em dezembro. “A única certeza é que toda essa volatilidade atrapalha demais o mercado de capitais”.
O cenário macroeconômico atual não é feito só de preocupação – há vários bons indicativos na mesa, lembra Vinicius. O ano fecha com o PIB crescendo e a melhora de receita e outros indicadores operacionais de boa parte das empresas listadas na bolsa. Além da população com acesso a crédito, benefícios sociais acontecendo e aumento de consumo.
Mas a BR Partners acredita que essa indisciplina do governo com os gastos públicos pode trazer uma inflação maior mais para frente que pode colocar tudo a perder.
Com os passivos bem alongados e a atividade econômica indo bem, as grandes empresas criaram uma “gordura” para passar bem por esse cenário mais incerto de 2025, acredita o diretor de RI. “Agora, as pequenas e médias, sem acesso ao mercado de capitais, com spreads maiores e menos acesso a crédito, essas vejo que 2025 sentirão mais”, afirma ele.
Um indicador que chamou muita atenção da holding recentemente, conta, foi a demanda maior para o time de reestruturação de dívidas a pedidos de empresas que faturam R$ 300 milhões a R$ 800 milhões por ano.
“Óbvio que tem alguns setores que passaram mais perrengue, como a cadeia de grãos, no agronegócio, e o setor de comercialização de energia, mas a perspetiva é que setores mais suscetíveis a esse cenário de juro alto, como o varejo, recorram às reestruturações”, diz.
M&A devem seguir em crescimento
Levando em conta essa tendência de mais reestruturações financeiras por empresas de pequeno e médio porte, o cenário de M&A (fusões e aquisições) deve seguir em crescimento, com a consolidação de alguns setores.
Neste sentido, os segmentos farmacêuticos, financeiros, indústrias e saúde podem trazer boas oportunidades, ainda que o diretor de RI não veja áreas específicas de consolidações.
“Muitos deals estão sendo tocados por aqui há alguns meses e estão próximos de um fechamento. Em 2025, para M&A, deve ser parecido com 2024 ou um pouco melhor levando em conta essas prováveis consolidações futuras”, diz ele.
Mas o que esperar da BRBI11 em 2025?
Com valuation atrativo, Retorno sobre Patrimônio líquido acima de 20% ao ano e pagamento de dividendos, BR Partners (BRBI11) é uma das 10 recomendações da carteira de ações brasileiras de dezembro de Larissa Quaresma, analista de Equity Research na Empiricus.
Nos nove primeiros meses do ano, a holding atingiu uma receita total de R$ 437,3 milhões, 40,4% a mais que no mesmo período do ano anterior. O lucro líquido, também de janeiro a setembro, cresceu quase na mesma proporção — saltou 35,3% para R$ 151,5 milhões.
Uma das áreas mais promissoras da holding é a de gestão de patrimônio, segmento que nasceu há menos de um ano e que em setembro já acumula R$ 4,3 bilhões sob gestão, crescimento de 32% com relação a junho de 2024.