Mercado financeiro

tendência agora é de revisões para cima

O consenso do mercado projeta, por ora, um crescimento de 2,2% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024, de acordo com a pesquisa Focus, do Banco Central. Mas, com os números fortes da atividade econômica em junho, uma parcela dos economistas passou a apostar que a expansão da economia brasileira em 2024 ficará na casa de 2,5% ou um pouco mais, havendo até quem estime algo próximo de 3%.

Com a divulgação ao longo da semana das pesquisas do IBGE para o varejo e os serviços em junho, todos os dados oficiais para calcular estimativas de PIB no segundo trimestre foram conhecidos. Além disso, o Banco Central também divulgou na sexta-feira o seu índice de atividade, o IBC-Br, de junho. Apesar de não entrar nos modelos de projeções dos economistas, o IBC-Br é uma “proxy” (aproximação) para o PIB e ajuda a sinalizar a temperatura da economia.

Desse modo, a expansão da economia em 2024 pode ficar próxima do que sugeriu nesta semana o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Brevemente, devemos rever o crescimento da economia brasileira para além dos 2,5% previstos [pela Secretaria de Política Econômica]”, disse Haddad no início da semana a uma plateia de agentes do mercado financeiro em evento da Warren em São Paulo.

Com todos esses novos números fortes ou, no mínimo, dentro do esperado pela maioria dos economistas, um gatilho de revisões altistas para o PIB foi disparado.

Após a divulgação do IBC-Br ontem, o JPMorgan elevou sua projeção para a alta do PIB do Brasil em 2024 de 2,5% para 2,9%, mesmo valor observado em 2023. O Banco ABC Brasil aumentou de 2,4% para 2,6%, enquanto a Kínitro Capital e a Terra Investimentos ajustaram de 2,5% para também 2,6%.

“Cerca de um mês atrás, atualizamos nossas previsões para o PIB do segundo trimestre com base em dados de maio mais fortes do que o esperado. Por sorte, nos encontramos em uma situação semelhante agora”, escreveram, em relatório, Cassiana Fernandez, chefe de pesquisa econômica para a América Latina e economista-chefe de Brasil do JPMorgan, e os economistas Vinicius Moreira e Mirella Sampaio. “Isso nos mantém no agora familiar caminho dos anos anteriores, quando a realidade superou nossa previsão inicial — mesmo quando começamos com uma visão mais construtiva.”

Daniel Xavier, economista-chefe do ABC Brasil, destaca que os desempenhos foram positivos e disseminados setorialmente no segundo trimestre. As vendas do varejo restrito, aponta, acumularam alta de 1,5% no período, em relação ao primeiro trimestre; a indústria e os serviços subiram 0,7% cada, e o varejo ampliado (inclui veículos, material de construção e atacarejo) avançou 0,3%.

Os principais motores para esse crescimento, diz Xavier, têm sido o mercado de trabalho aquecido, com massa de salários e empregos em alta, a expansão dos gastos e transferências do governo, a resiliência do setor de commodities e um efeito muito abaixo do que se imaginava das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a atividade nacional agregada.

Com alta de 1,4% em junho, o IBC-Br subiu 1,1% no segundo trimestre, ante o primeiro, e deixou uma “herança estatística” de crescimento de 1% para o terceiro trimestre e de 2,8% para o ano, estima o ABC. Traduzindo esses resultados para o PIB do IBGE, a indicação, segundo o banco, é de um avanço de 0,9% no segundo trimestre, ante o primeiro.

Depois dos dados divulgados nesta semana, a G5 Partners elevou sua projeção para o PIB em 2024 de 2,3% para 2,5%, mas o economista-chefe Luis Otávio Leal diz não duvidar de que esse número possa ir além. “Achamos que haverá uma desaceleração no segundo semestre por causa dos juros mais altos, mas estamos vendo um mercado de crédito mais resiliente do que o esperado”, afirma.

O ASA também passou a acreditar em um ritmo mais forte de crescimento em 2024 e ajustou sua projeção de 2,3% para 2,5%. As chances, no entanto, continuam sendo mais para esse número ser maior do que menor.

“A nossa projeção para o PIB de 2024 de 2,2% já há algum tempo tem viés positivo. Provavelmente, subiremos essa expectativa nos próximos dias. O crescimento deve ficar ao redor de 2,5%, talvez ligeiramente acima”, afirma Rodolfo Margato, economista da XP.

David Beker, chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America (BofA), tem visto as projeções de mercado se aproximarem da sua estimativa. Desde o começo do ano, ele tinha a visão de que o PIB de 2024 cresceria acima de 2% e, no fim de abril, projetou 2,7%.

“Já víamos uma força maior do consumo, um mercado de trabalho robusto, e essas tendências só se reforçaram desde então. Quando aconteceram as enchentes no Rio Grande do Sul, reconhecemos que havia um risco para baixo, mas ficamos monitorando. Continuamos avaliando os dados e, basicamente, a economia segue caminhando na direção que a gente projetava”, afirma.

Beker nota que algumas casas têm revisado o PIB de 2024 para cima, mas colocado o de 2025 para baixo. Ele, no entanto, continua projetando um crescimento ao redor de 2,5% para o ano que vem, bem acima do consenso atual do Focus, de 1,9%. A lógica, segundo Beker, é que o PIB potencial do Brasil está maior — em 2,2%, na sua conta — e a taxa de desemprego “de equilíbrio” (aquela que não acelera a inflação) está menor, em 7,5%, de 8,3% anteriormente.

“Mais para o fim do ano, acho que vem alguma desaceleração [da atividade], porque, queira ou não, a política monetária está acima do neutro. Mas é uma desaceleração marginal”, afirma.

Nesta semana, quem ajustou a projeção de PIB de 2024 para cima, mas reduziu a de 2025 foi o Santander. A estimativa para este ano subiu de 2% para 2,3%, diante da perspectiva de que, agora, o desemprego deverá atingir seu ponto mais baixo apenas no primeiro trimestre de 2025. “Estamos impressionados com a atual força da economia brasileira”, escreve, em relatório, a equipe liderada por Ana Paula Vescovi.

Para 2025, no entanto, a projeção foi reduzida de 1,8% para 1,5%. “Vemos condições financeiras mais restritivas persistindo por mais tempo por meio de uma Selic mais alta”, afirmam. Uma política fiscal expansionista e incertezas sobre as contas públicas tiram espaço para juros mais baixos, ao pressionar a demanda e contribuir para um dólar mais caro.

Os dados de junho trouxeram “mais confiança” para a avaliação do C6 Bank de que o segundo trimestre foi forte e ajudaram a “bater o martelo” para a projeção de alta de 1,2% do PIB, em relação ao primeiro trimestre, mas não fizeram o banco mudar sua estimativa de crescimento de 2,5% para 2024, diz a economista Claudia Moreno.

“Estávamos com o ‘tracking’ interno de PIB mais perto de 3% e tínhamos a expectativa de que poderíamos ter de revisar nossa projeção, mas as divulgações de varejo e de serviços em junho puxaram de volta para 2,5%. Não é que os dados tenham sido ruins, foram bons, mas vieram um pouco mais fracos do que a gente esperava”, afirma.

No momento, o único fator que, talvez, possa forçar o C6 a revisar para cima a estimativa de PIB em 2024 nos próximos meses é o Rio Grande do Sul, diz Moreno. “Tanto a indústria quanto o varejo parecem já ter normalizado dos efeitos da enchente: caíram bastante em maio e subiram em junho. Mas a pesquisa de serviços foi esquisita, o setor ficou de lado em maio e despencou em junho. O IBGE explicou que isso tem a ver com o deflator, com parar de cobrar energia elétrica. Então, ainda pode ter uma ‘devolução’ [com altas] nos próximos meses, o que não colocamos na conta.”

Com informações do Valor Econômico

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