Stuhlberger vê Brasil com ‘muita cautela’ em meio a tendência “explosiva” para o fiscal
Um dos maiores gestores da história agora se encontra com apetite reduzido para investimentos no Brasil. Na avaliação de Luis Stuhlberger, sócio da Verde Asset — gestora com mais de R$ 21 bilhões em ativos sob administração —, o cenário doméstico é de cautela, em meio à inflação ainda resiliente, incertezas em relação aos juros e problemas do lado fiscal.
“Se do lado do Banco Central, temos uma surpresa positiva, do lado do fiscal, estamos com surpresas negativas crescentes e perigosas”, afirmou o gestor durante a Expert XP, encontro anual do mercado financeiro na cidade de São Paulo.
A surpresa positiva, segundo ele, é a indicação, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Gabriel Galípolo para suceder Roberto Campos Neto à frente do Banco Central.
Mas “se olharmos para a tendência da dívida, ela está explosiva. Não acho que o mercado atualmente reflita a nossa situação fiscal, mas uma hora ou outra, vai começar a olhar para isso.”
Para Stuhlberger, o Brasil vive uma política robusta de expansão de gastos nos últimos quatro anos — e no início desta semana, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva propôs aumentar ainda mais as despesas fora do arcabouço fiscal.
Na segunda-feira (26), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o governo federal vai reformular o auxílio-gás para oferecer botijões de gás para mais de 20 milhões de famílias até o fim de 2025, no novo programa Gás Para Todos.
“O Legislativo não tem sido um parachoque adequado e Executivo viu aparecer um vale-gás de R$ 13,5 bilhões abrindo portas para mais despesas fora do arcabouço. Vemos isso com preocupação”, contou Stuhlberger.
Segundo o gestor, o juro real a níveis elevados como os atuais é “necessário pela maneira como o Brasil vem sendo coordenado com gastos”.
“É um equilíbrio tênue. Com o ministro Fernando Haddad acalmando o mercado, o carry fica mais alto e se aproxima dos 8%. Isso forma um equilíbrio viável, mas é uma dinâmica muito perigosa de ser rompida em algum momento.”
Nas projeções do gestor da Verde, a inflação no Brasil deve ficar mais próxima de 4,5% em 2025 do que do patamar de 4%, apesar da política monetária mais restritiva do Banco Central em relação aos juros.
Para Stuhlberger, a nomeação de Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do BC, como sucessor de Roberto Campos Neto à frente da autarquia foi uma “surpresa positiva” — e confirma as perspectivas de aumento da Selic daqui para frente.
“O Galípolo é mais uma surpresa positiva do que negativa. Apesar de em alguns momentos antagônicas, as declarações dele no fim do dia mostraram comprometimento com a meta de inflação. Na avaliação do mercado, existe apenas 15% de chance de a taxa não subir. Isso vai acontecer.”