Renda Fixa

Só os conservadores se salvaram: títulos públicos sofrem em setembro, mês que teve até greve do Tesouro Direto; veja as maiores altas e quedas

Em setembro, foi melhor ser conservador, ao menos no Tesouro Direto. No mês marcado pelo início de um novo ciclo de alta na taxa básica de juros, a Selic, os títulos públicos prefixados e indexados à inflação amargaram perdas, e apenas o Tesouro Selic se salvou.

Os títulos indexados à taxa básica tiveram desempenho em torno de 0,9% no período, enquanto os papéis prefixados e atrelados ao IPCA de maior prazo tiveram perdas da ordem de 3% ou mais.

O mês também contou com um fato inusitado, a paralisação do Tesouro Direto por um dia em razão da greve de servidores federais do Tesouro Nacional.

No dia 24 de setembro, não foi possível comprar títulos públicos por meio do programa, nem foram atualizados os preços e taxas dos papéis. Apenas os resgates estavam disponíveis.

Veja a seguir o desempenho dos títulos públicos ainda ofertados para compra no Tesouro Direto em setembro:

As maiores altas e quedas do Tesouro Direto em setembro

InvestimentoRentabilidade no mêsRentabilidade no ano
Tesouro Selic 20290,93%8,14%
Tesouro Selic 20260,89%8,02%
Tesouro Prefixado 2027-0,41%
Tesouro IPCA+ 2029-1,20%0,83%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2035-2,27%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2035-2,59%-1,00%
Tesouro Prefixado 2031-2,72%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2040-3,55%-2,05%
Tesouro IPCA+ 2035-3,73%-3,63%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055-4,70%-5,47%
Tesouro IPCA+ 2045-6,61%-10,19%
Fechamento em 26/09/2024
Obs.: A rentabilidade dos títulos públicos considera o preço de compra na manhã da data inicial e o preço de venda na manhã da data final, conforme cálculo do Tesouro Direto.
Fonte: Tesouro Direto.

Alta de juros e risco fiscal pesam sobre os papéis prefixados e indexados à inflação

O crescimento econômico acima do esperado e a inflação perigosamente próxima ao teto da meta levaram o Banco Central a voltar a aumentar os juros neste mês, mesmo com o início do tão aguardado ciclo de cortes de taxas nos Estados Unidos.

À decisão, seguiu-se uma ata dura da reunião do Copom, que dá a entender que, depois da alta de 0,25 ponto percentual, levando a Selic a 10,75%, o ciclo de ajustes será acelerado, e a próxima alta pode ser de 0,50 ponto.

A notícia favorece, é claro, a renda fixa indexada à Selic e ao CDI, como o Tesouro Selic, que passa a render mais.

Os juros futuros, porém, não se acalmaram com essa postura do BC nem com o alívio monetário no EUA. Mesmo com o alívio após o anúncio de estímulos à economia chinesa nos últimos dias, os juros futuros ainda terminaram o mês em alta, machucando os títulos públicos prefixados e indexados à inflação, os quais se desvalorizam quando as taxas de mercado (e suas remunerações) aumentam.

O mercado se mostra temeroso em relação ao risco fiscal, pois entende que o crescimento econômico e a pressão inflacionária advêm de estímulos por parte do governo.

Os temores pioraram após a divulgação do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas pelo Ministério do Planejamento, que mostrou que o governo irá congelar cerca de R$ 2 bilhões do Orçamento a menos do que o inicialmente esperado. Ou seja, na prática, esses recursos foram liberados para gastos.

Isso sinalizou ao mercado que a União não está se comprometendo com o ajuste fiscal como deveria, além de contar com receitas ainda incertas para aumentar a arrecadação.

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