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Qual é o risco de trajetória da renda fixa?

As taxas de juros seguem em alta e, com elas, a volatilidade nos títulos de renda fixa. Como professor de finanças e responsável por recomendar investimentos, observo com atenção como esse cenário afeta as decisões dos investidores. Vejo a inquietação nos olhares e escuto as perguntas sobre manter ou não posições, especialmente em tempos em que os preços marcados a mercado variam intensamente. É compreensível, afinal, poucos gostam de ver suas carteiras flutuando para baixo, mesmo que momentaneamente.

A marcação a mercado na renda fixa

Primeiro, é importante entender o que significa essa marcação a mercado. Essa metodologia avalia o preço de um título com base nas condições diárias de oferta e demanda. Assim, reflete as expectativas sobre as taxas de juros, inflação e outros fatores econômicos. Já a marcação na curva, ou accrual, segue a taxa contratada do título até o vencimento, apresentando uma valorização mais estável.

Entretanto, essa estabilidade costuma não ser real, já que se o investidor quiser vender seu título a qualquer momento, terá que faze-lo a preços de mercado. Nesse caso, a marcação a mercado demonstrará a sua vantagem, que é a transparência. Isso mesmo, se por um lado a estabilidade da marcação na curva gera conforto no dia a dia, ela pode gerar surpresas caso o investidor decida vender seu título.

O risco da trajetória

Há alguns anos falo sobre o “risco de trajetória” para referir-me à volatilidade enfrentada por um título de renda fixa ao longo de seu período de maturação, entre o momento da compra e o vencimento. Embora o investidor conheça o ponto de partida (o valor de aquisição) e o ponto final (o valor de resgate), a trajetória que o preço do título percorre nesse intervalo pode ser incerta e influenciada por variações de mercado, como mudanças nas taxas de juros, expectativas de inflação e risco de crédito.

Esse risco é inerente aos títulos marcados a mercado, onde as oscilações diárias podem impactar temporariamente a rentabilidade percebida, apesar de, no vencimento, ou mesmo numa venda antecipada, a rentabilidade real auferida pelo investidor ser a mesma nas duas metodologias de marcação.

Em tempos de alta dos juros, como o atual, títulos marcados a mercado podem mostrar rentabilidades negativas, ainda que temporárias. É justamente nesse ponto que muitos se perguntam: devo vender? A resposta, para quem tem uma exposição adequada ao seu perfil, é não. Lembrar da importância da diversificação e que o valor final do título, quando levado até o vencimento, será o mesmo, independentemente da marcação, é uma estratégia importante para manter a serenidade. É fundamental ter em mente que momentos de volatilidade são parte da trajetória e não o destino final.

O cenário atual é favorável para a renda fixa

Para os que ainda não completaram a exposição em renda fixa recomendada, o cenário atual pode ser particularmente interessante. As taxas de retorno estão em patamares muito interessantes (principalmente na renda fixa indexada à inflação), oferecendo a oportunidade de alavancar os ganhos futuros. Claro, é necessário considerar a tolerância ao risco e o horizonte de investimento, mas, para muitos, este pode ser o momento de fortalecer a carteira e aproveitar as condições de mercado.

No entanto, as decisões financeiras não são apenas sobre os números e gráficos. Elas refletem nossos objetivos e sonhos, sejam eles garantir uma aposentadoria tranquila, viabilizar a educação dos filhos ou realizar um projeto pessoal. Ter um portfólio robusto e ajustado às condições de mercado é um passo essencial para transformar essas metas em realidade. É aqui que entra o conceito de planejamento financeiro de qualidade, que vai além de simplesmente investir; trata-se de manter a disciplina e a confiança em momentos de incerteza.

Confie no longo prazo

Aqueles que já possuem uma carteira alinhada devem resistir à tentação de desfazer-se dos ativos por conta das oscilações. Se a situação gera desconforto, vale uma conversa com um especialista de investimento, mas, de forma geral, manter-se firme é uma forma de respeitar o planejamento feito e confiar na estratégia de longo prazo. Por outro lado, quem ainda está construindo sua exposição à renda fixa pode encontrar agora um momento favorável para isso. As taxas atrativas de hoje podem se traduzir em ganhos significativos amanhã.

Em última instância, o “risco de trajetória” nos lembra a importância de manter o foco no destino, e saber aprender com as dificuldades do caminho. A volatilidade é parte do percurso e, com um planejamento cuidadoso, ela pode ser enfrentada com mais confiança. Afinal, é essa capacidade de resistir e de se manter no curso que, no longo prazo, ajuda a transformar nossos sonhos em realidade.

*Texto escrito por Martin Iglesias, especialista líder em Investimentos do íon. Para ler outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.

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