PIB do Brasil no 3º trimestre reforça alta de 0,75 ponto na Selic
O crescimento acima do esperado do PIB do Brasil pelo mercado deve reforçar uma alta de juros mais acentuada pelo Banco Central em dezembro. Economistas consultados pela Inteligência Financeira preveem agora alta de 0,75 ponto da Selic como “definitiva”, enquanto aumenta a chance de uma elevação por um ponto percentual.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB do terceiro trimestre avançou 0,9% frente ao segundo trimestre, com alta acumulada de 3,3%. O mercado financeiro esperava alta de 0,8% no ajuste sazonal.
A leitura destes economistas é de que o PIB cresceu de forma mais positiva entre julho e setembro do que entre abril a junho. Isso porque os gastos do governo, que cresceram 0,8%, tiveram influência menor sobre a economia. E o consumo das famílias puxou a expansão da indústria e de investimentos via Formação Bruta de Capital Fixo.
PIB do Brasil no 3º trimestre reforça resposta mais dura nos juros
O consumo das famílias continua como um dos principais motores do PIB do Brasil. Sob a ótica da demanda, o gasto de famílias subiu 1,5% frente ao segundo trimestre e 5,5% em relação a igual período de 2023.
Assim, economistas explicam que as despesas de brasileiros estão influenciando a expansão de outros setores da economia, com redução do peso do gastos do governo para estimular o PIB brasileiro.
Nesse sentido, ainda, o PIB do Brasil no terceiro trimestre cresceu de forma mais “orgânica”. É a descrição de Matheus Pizzani, economista-chefe da CM Capital.
Mas isso implica, por outro lado, que a inflação está mais difusa entre setores da economia, e “tende a dar mais evidências ao BC de que a intensificação do atual ciclo da Selic se faz necessária”.
De acordo com Sergio Valle, economista da consultoria MB Associados, o PIB do Brasil no terceiro trimestre veio “acima do PIB potencial” do País. O que, por sua vez, reforça pressões inflacionárias, sobretudo com a cotação do dólar a R$ 6.
“O IPCA muito provavelmente vai sentir essa pressão. E faz com que expectativas de inflação se aproximem do teto (da meta de inflação do BC) em 2025 e 2026”, explica Valle.
Frente ao cenário fiscal e a má recepção do pacote de ajustes de despesas de Haddad, porém, Valle afirma que “fica cada vez mais claro” que o BC deveria dar uma resposta mais firme à desancoragem da inflação. E, assim, subir a Selic a um ponto percentual na reunião do Copom em dezembro.
A MB Associados prevê uma taxa terminal da Selic a 14%.
Patamar ‘mínimo’ de alta é de 0,75 ponto; choque torna-se alta de 1 ponto
A revisão do PIB do Brasil em 2023 feita pelo IBGE de 2,9% para 3,2%, também faz pressão sobre a alta da Selic para dezembro. Esta é a avaliação de Arnaldo Lima, economista da Polo Capital.
“Esses sinais de crescimento acima do potencial levantam apostas de um ciclo mais longo de elevação da Selic, o que pode reduzir crescimento projetado para 2025”, diz Lima.
Se antes o extremo das projeções de alta para dezembro era uma elevação de 0,75 ponto da Selic, tanto o PIB quanto o pacote de ajuste de gastos do governo convenceram o mercado de que este deve ser o novo piso para o Copom.
Na visão de Luiz Leal, economista da consultoria G5 Partners, o novo “choque” nos juros pode ocorrer se o BC subir em 1 p.p.
Daniela Lima, economista-chefe da Kinea Investimentos, também prevê alta de magnitude de 0,75 ponto nos juros em dezembro.
“Em nossa visão, o BC deve acelerar o ritmo de alta para 75 pontos-base na próxima reunião”, afirma.