Participação de fintechs no mercado de capitais deve aumentar
O uso do mercado de capitais no financiamento de fintechs aumentou nos últimos anos, e a expectativa de empresas que atuam com esse segmento é que isso se torne mais comum a partir do próximo ano. Isso após a adaptação da indústria à Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Isso porque as novas regras trazem alterações relevantes em um instrumento muito usado por essas companhias, que são os fundos de investimentos em direitos creditórios (Fidcs).
Dessa forma, a regulamentação prevê uma postura mais ativa dos gestores que aprovam as operações a serem adquiridas pelos fundos e o registro obrigatório dos lastros.
“Vemos uma migração cada vez mais forte do financiamento saindo de fontes via equity para estruturas de crédito, sobretudo para estruturas de securitização. Com a CVM 175, esperamos uma melhora no arcabouço regulatório e na governança, com maior clareza, o que deve dar mais robustez para as estruturas”, disse Manuel Netto, sócio-fundador da Kanastra, que atua com serviços de backoffice para fundos e produtos securitizados.
Mais sofisticação e segurança
Para Carlos Costa, da Valor Capital, as novas obrigatoriedades, como o registro dos recebíveis, “aumentam o nível de sofisticação e de segurança” deste mercado, o que deve ter efeito na demanda por esses papéis e consequentemente em maiores oportunidades de captação para as fintechs.
Os Fidcs foram a segunda maior fonte de recursos para as fintechs em 2023, conforme dados de uma pesquisa feita pela PwC e pela Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD) divulgada em junho.
A participação dos fundos no financiamento dessas companhias mais do que dobrou entre 2020 e 2023, passando de 12% para 26%. No equity, principal fonte de recursos para esse mercado, o avanço foi de 37% para 38%.
“O Fidc é uma classe de ativos que deve surfar um bom momento nos próximos anos”, disse Edgar Erasmi, diretor-presidente da Polígono, em evento realizado na última semana sobre fintechs e mercado de crédito privado.
“Hoje, ele é um ativo mais testado. Já passou por bons e maus momentos e acho que finalmente está reduzindo aquele receio geral que o mercado tinha.”
Espera por mais acessos do mercado de capitais
Para Thaís Dias, vice-presidente da área de crédito privado do Itaú BBA, não há um “momento ideal” para as fintechs buscarem o mercado de capitais.
“O que esperamos é que as empresas acessem o mercado de capitais quando tiverem uma boa história para contar. O produto não precisa estar 100% redondo, ele vai mudar, às vezes, ao longo do caminho, mas é preciso ter uma boa tese, entender a estrutura, qual é a proposta do produto”, disse no mesmo evento.
Também não é possível estabelecer um tamanho mínimo para as captações, segundo Dias, mas as fintechs devem levar em consideração os custos das operações.
“Essas estruturas de mercado de capitais, como Fidcs, certificados de recebíveis ou debêntures securitizadas, têm custo mais alto que uma captação bilateral com bancos. Se você capta um volume muito pequeno, eles ficam muito altos frente ao volume buscado”, explica.
De janeiro a agosto, as emissões de Fidcs somaram R$ 43,33 bilhões, superando os R$ 41,49 bilhões registrados em todo o ano passado, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Com informações do Valor Econômico