Dólar

Para onde vai o dólar?

Lá fora, a vitória de Donald Trump como próximo presidente dos Estados Unidos. No Brasil, as incertezas sobre o caminho para as contas públicas, com a necessidade premente de cortes de gastos. Especialistas apontam que estes são fatores que seguem apontando na direção de um dólar mais alto. Mas qual o limite para esse movimento? 

“O sinal de curto prazo é de mais pressão no câmbio”, aponta Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo). ”No longo prazo, porém, tudo dependerá de o Brasil fazer a lição de casa do ponto de vista fiscal. E, ainda, de como será a política econômica americana, do que o Trump irá fazer ou deixar de fazer.”

O presidente eleito dos Estados Unidos defende uma agenda protecionista e já atacou a autonomia do Federal Reserve (o banco central norte-americano). E vem repetindo que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todos os bens importados pelos EUA.  

Trump tem ‘cara’ de um dólar mais forte

André Perfeito, economista

“De fato, o Trump tem ‘cara’ de um dólar mais forte”, diz o economista André Perfeito. “A política migratória, a política fiscal e a tributação maior de importações sugerem pressões inflacionárias, e isso quer dizer juros mais elevados. Se os Estados Unidos tributarem mais os bens de outros países, a tendência é que o Brasil exporte menos, tenha um superávit comercial menor, e isso fortalece o dólar”, explica.

Índice DXY

Essa possibilidade vem fazendo com que o dólar se valorize no mundo todo. Prova disso é que o índice DXY já subiu 2,4% neste mês até a quinta-feira (14). O indicador mede a variação da divisa dos Estados Unidos em relação a uma cesta de moedas estrangeiras,

No Brasil, a situação é particularmente delicada devido à necessidade cada vez mais urgente de um ajuste nas contas públicas. Para cumprir a meta de um resultado primário de zero em 2025, o governo precisaria cortar, então, mais de R$ 40 bilhões em gastos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está em negociações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Congresso e ministérios para tentar fechar um pacote.

Atualmente, essas dificuldades fiscais vêm fazendo o real ser uma das moedas que mais perdem valor em relação ao dólar. 

Alta de juros no Brasil é contrapeso 

Mas há contrapesos a essa tendência. Como lembra Perfeito, o Banco Central deixou claro na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) que não irá hesitar em subir os juros, em meio ao receio de que a atividade econômica mais forte e os gastos crescentes do governo pressionem a inflação. 

Desse modo, se o nível da taxa básica de juros, a Selic, continuar subindo, a tendência é que mais recursos entrem no país e que o real se fortaleça. “A questão fiscal ganhou uma dimensão tão grande que é difícil entender se o mercado vai aceitar bem o pacote de corte de gastos do governo.”

Dependendo do patamar que os juros alcançarem em meio a essa crise de credibilidade, o Brasil começará a ficar “bastante descontado”, avalia Perfeito. “Podemos ter uma situação de atrair capital por estarmos baratos. Isso pode acontecer mais para a frente, no final do primeiro trimestre, talvez no segundo trimestre, até o Banco Central subir bem os juros”.

Inflação nos EUA

Marçal, da FGV, avalia que se Trump de fato realizar mudanças profundas na política econômica norte-americana, como interferir no Federal Reserve, o dólar poderá perder força no médio e longo prazo. 

“Se Trump tentar baixar os juros na marra, a ferro e fogo, o resultado é que haverá inflação nos Estados Unidos. Isso pode gerar pressão para o nosso câmbio se apreciar. É um risco que entra no radar pelo fato de ele ter maioria nas duas casas, mas seria uma gritaria tão grande que é difícil acreditar que se chegue nessa situação-limite.”

De qualquer forma, aponta, o cenário indica a necessidade do Brasil ajustar as contas públicas para ficar menos vulnerável à turbulência internacional. 

Dólar em alta desde agosto

O dólar vem subindo com mais força desde o final de agosto, pois o mercado internacional vem sofrendo com incertezas que elevaram a aversão a ativos de países emergentes como o Brasil.  Alguns exemplos dessas incertezas são:

  • o agravamento do conflito no Oriente Médio;
  • a decepção com a economia da China, que lançou um pacote de estímulos considerado insuficiente;
  • e a queda mais lenta que o esperado nos juros americanos. 

Em momentos de incerteza, investidores de todo o mundo se protegem no dólar, e isso eleva a cotação da divisa norte-americana. Além disso, o fato de o Fed ter iniciado o corte de juros só em setembro elevou a atratividade dos títulos públicos do país, reforçando o valor da moeda americana. 

No Brasil, esse efeito foi sentido com mais força por problemas internos, principalmente a questão fiscal, com os gastos se elevando e a dívida pública crescendo. 

Em setembro, a dívida bruta foi equivalente a 78,3% do PIB, de acordo com o Banco Central. Os dados foram divulgados pelo BC nesta segunda-feira, bem acima dos 71,3% do PIB do início de 2023. 

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