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País vive grau de investimento em politica social, diz economista

Pedro Fernando Nery lançou um livro bastante interessante neste ano. A obra do economista se chama ‘Extremos – Um mapa para entender as desigualdades no Brasil’. Foi com isso em mente que a Inteligência Financeira o convidou para comentar dados divulgados pelo IBGE nesta semana.

Os dados à primeira vista parecem bastante positivos. O porcentual da população do País abaixo da linha de pobreza caiu de 31,6% para 27,4%. É a menor proporção desde 2012. Em um ano, quase 9 milhões de pessoas saíram da pobreza no Brasil.

Os números foram divulgados na quarta-feira (4). Nesta quinta-feira, a reportagem mandou três perguntas para o WhatsApp de Pedro Fernando Nery, que topou responder. Você confere as respostas a seguir.

Em linhas gerais os dados divulgados pelo IBGE pra um leigo parecem muito bons. Redução da pobreza pode significar redução de desigualdade. Essa leitura é correta? O que uma análise um pouco mais aprofundada apresenta em relação ao divulgado?

É um ótimo resultado. Não era previsto, cogitado, 5 anos atrás que conseguiríamos derrubar a taxa de extrema pobreza em 40%, e com uma pandemia no meio, que paradoxalmente foi um empurrão positivo para a ampliação das transferências de renda.

Vamos lembrar que a última década foi muito ruim para o combate à pobreza no Brasil. Houve uma crise terrível em 2015 e 2016, e depois uma recuperação econômica lenta, que pouco chegou nos mais pobres.

As taxas de pobreza e extrema pobreza ficaram estagnadas, foi uma espécie de década perdida neste sentido. Agora, por outro lado, parece que estamos em um momento de “grau de investimento” da política social, com uma melhora que precisa ser celebrada. A queda da pobreza é em alguma medida uma queda da desigualdade, pelo menos na queda da desigualdade de acesso a produtos básicos.

Em relação à redução da desigualdade no Brasil, quais são os caminhos que ainda precisamos seguir como sociedade civil e olhando para políticas governamentais?

Melhorar o sistema tributário é um consenso, embora seja menos consenso se isso deve ser feito com algum aumento da carga tributária total ou sem aumento dessa carga.

Isto é, todo mundo concorda que a tributação dos mais ricos deve aumentar. A discussão mais polêmica é se isso não deve vir acompanhado de um esforço de corte de gastos públicos, de desperdícios, o que é uma discussão legítima.

O ministro (Fernando) Haddad fez um discurso na TV importante recentemente, sinalizando para a proposta de tributar em pelo menos 10% a renda dos mais ricos, que hoje não chega nem a isso. É até pouco, mas pode ser um primeiro passo para as coisas irem mudando gradualmente.

Do ponto de vista da despesa, certamente temos ainda muito desperdício. O governo acerta em pautar o tema dos supersalários, mas está indo muito devagar na política para a primeira infância, que é o período da vida mais crítico para o combate à desigualdade de uma forma estrutural. Não podemos pensar em combater desigualdade focando apenas nos adultos.

Você lançou um livro neste ano bastante interessante justamente sobre desigualdade. Ou também sobre esse tema. Como tem sido em linhas gerais a repercussão da obra?

Tem sido positiva. O livro entrou em um circuito de podcasts que tem dado visibilidade aos temas, e tem sido incorporado também por professores em faculdades. Espero que ajude a despertar as pessoas para polêmicas que parecem às vezes anódinas, como a reforma tributária ou a PEC do ajuste fiscal.

São temas interessantes, controversos, se a gente olha eles pela ótica da desigualdade. Quando a gente pauta temas de economia focando em injustiças, as pessoas se engajam mais. O importante é discutir.

O que é o ‘3 perguntas pelo WhatsApp’

De quando em quanto, a Inteligência Financeira se propõe a fazer entrevistas rápidas sobre temas que envolvem nossa principal área de cobertura. Mas também sobre outros temas. A primeira edição foi publicada em novembro e tratava de burnout. A entrevista foi com o psiquiatra Daniel Martins de Barros, que é do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

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