Operação ‘Salve o Corinthians’: Clube, Gaviões da Fiel e Caixa lançam ‘vaquinha’ para quitar dívida da Neo Química Arena
“Salve o Corinthians …”
A saudação inaugural do hino do Sport Club Corinthians Paulista poucas vezes teve seu sentido original tão bem ressignificado quanto na tarde desta sexta-feira (18).
O clube, a torcida organizada Gaviões da Fiel e a Caixa Econômica Federal assinaram hoje um protocolo de intenções para a abertura de uma vaquinha online para quitar a dívida do Corinthians com o banco pela construção da Neo Química Arena.
A proposta partiu da Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do Timão, e contou com o aval da atual diretoria do clube antes de ser levada à Caixa Econômica Federal.
Com isso, os corinthianos terão a chance de confirmar na prática não apenas o potencial econômico-financeiro do clube, mas de justificar a fama de uma torcida tão fanática que há mais de meio século ostenta o epíteto de Fiel.
Se a iniciativa for bem sucedida, a direção do Corinthians terá um alívio e tanto para suas finanças.
De acordo com as informações mais recentes disponíveis, a dívida total do alvinegro do Parque São Jorge ultrapassa os R$ 2 bilhões.
Incluída nesse montante, a dívida referente ao estádio é estimada em R$ 710 milhões.
Supondo que as pesquisas que medem o tamanho das torcidas dos maiores times de futebol do Brasil estejam corretas, o Corinthians mobiliza entre 30 milhões e 31 milhões de torcedores espalhados pelo mundo.
E se cada corinthiano participasse da vaquinha?
É de se supor que a iniciativa não vai atingir 100% de mobilização. Mas, na hipótese de isso acontecer, cada corinthiano precisaria doar algo entre R$ 22,90 e R$ 23,67.
O cálculo resulta em um valor inferior à metade do preço médio de um ingresso para assistir a um jogo do Corinthians na Neo Química Arena — a saber, R$ 59,23 no que vai de 2024.
Como a torcida pretende quitar o estádio
O protocolo de intenções firmado hoje é o primeiro passo para que a torcida passe o chapéu em benefício do clube.
De acordo com as informações disponíveis, o dinheiro entrará direto em uma conta da Caixa Econômica Federal aberta exclusivamente para a quitação da dívida.
Nem o Corinthians nem a Gaviões da Fiel terão acesso aos recursos ali depositados.
No entanto, a campanha de arrecadação ainda não começou e os detalhes ainda serão divulgados.
Em nota publicada em seu perfil no Instagram, a torcida organizada informa que “irá trabalhar para anunciar a plataforma, o site e a chave PIX, permitindo que os pagamentos sejam feitos diretamente na conta da Caixa, sem a possibilidade de movimentação da conta pelo Gaviões ou pelo Corinthians”.
A Gaviões da Fiel alerta ainda aos torcedores para que não caiam em golpes.
“A assinatura não significa que a chave PIX estará ativa. No momento oportuno será divulgado em nossas redes sociais”, prossegue a torcida na nota
Depois de 1º de setembro, quando a direção do clube autorizou formalmente o envolvimento da torcida na quitação da dívida, golpistas tentam enganar torcedores interessados em apoiar a quitação da dívida por meio da divulgação de chaves PIX sem relação com a operação.
Não há estimativa de quanto foi roubado nesses golpes.
Veja aqui a publicação.
Uma breve história do estádio do Corinthians
Durante décadas, a construção de um novo estádio próprio para o Corinthians figurou como lenda urbana paulistana.
Nos anos 1970, nenhum estádio parecia suficiente para comportar a crescente torcida corinthiana.
A modesta Fazendinha, construída no terreno da sede social do clube, no Parque São Jorge, era usada cada vez mais raramente.
O histórico presidente corinthiano Vicente Matheus chegou a lançar um carnê para a construção de um estádio para 200 mil torcedores em Itaquera, na zona leste de São Paulo.
Mais de 30 anos separaram o “carnê do Itaquerão” do lançamento da pedra fundamental da Arena Corinthians, em maio de 2011.
Três anos depois, o estádio ficaria pronto a tempo de abrigar o jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014.
Com capacidade oficial para 47.605 torcedores sentados, a Arena Corinthians custou R$ 1 bilhão, segundo informe apresentado ao Ministério do Esporte em 2015.
Pelo plano financeiro original, a construção do estádio teria três fontes principais de financiamento:
- créditos tributários concedidos pela Prefeitura de São Paulo;
- comercialização dos naming rights; e
- um financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em 2020, o Corinthians fechou acordo com a Neo Química, pertencente à Hypera (HYPE3), em relação aos chamados naming rights.
A farmacêutica pagou R$ 300 milhões para que a Arena Corinthians passasse a ser chamada de Neo Química Arena até 2040.
Já o financiamento cedido pelo BNDES foi intermediado pela Caixa.
Originalmente contratado por R$ 400 milhões, o empréstimo é calculado atualmente em R$ 710 milhões, já contando os juros contratados.
Vale informar que toda a receita do clube com ingressos é depositada em uma conta específica destinada à quitação das parcelas da dívida corinthiana com a Caixa.
Somente em 2024, o Corinthians arrecadou mais de R$ 72 milhões em bilheteria. A média de receita com venda de ingressos do clube este ano é de R$ 2,49 milhões.
O impasse entre o Corinthians e a Caixa Econômica Federal começou em 2019.
Depois de seis meses de atrasos nos pagamentos, a Caixa foi à Justiça para cobrar uma dívida de R$ 536 milhões.
Em março de 2022, ao prorrogar o prazo para que as partes chegassem a um acordo, o juiz Victorio Giuzio Neto chamou a atenção para o risco de o estádio ser transferido para a Caixa e ir a leilão em caso de decisão desfavorável ao Corinthians.
Um acordo foi selado meses depois dessa advertência.
Desde então, porém, a crise da dívida do clube agravou-se substancialmente.
Agora o autoproclamado “bando de loucos” matou no peito a responsabilidade pela quitação do estádio — e vai colocar à prova a loucura da Fiel.