Mercado financeiro

o que falta ao Brasil

Há algumas semanas comentei numa das colunas que o esporte tinha virado, definitivamente, uma classe de ativos. Ainda que possa parecer óbvio, porque há vários casos de clubes com donos, a realidade é que esporte passou a ser um negócio quando compra e venda se tornaram recorrentes. Nesta última coluna de 2024, vamos falar sobre investimentos no esporte. Vamos ver negócios que aconteceram ao longo do ano, e como podemos imaginar os efeitos no Brasil em 2025.

Investimentos em esporte

A SportsInvest Advisory fez um apanhado de 12 negociações de 2024. Aqui vou citar alguns deles, além de outros que nos permitam uma análise geral do mercado.

Janeiro

A Bruin Capital aportou US$ 38 milhões na Box to Box. Esta empresa de conteúdo é responsável pela produção de “Drive to Survive”, documentário sobre a Fórmula 1 que pode ser visto na Netflix.

Além da F1, eles desenvolveram produções sobre a Tour de France (ciclismo), a Six Nations de rugby, e sobre o circuito de golf. O ecossistema do esporte passa, necessariamente, pela produção de conteúdos que vão além dos minutos de jogo.

Março

A Mercury/13 adquiriu o FC Como Women, da cidade de Como, na Itália. O clube participa da 1ª divisão italiana, e a aquisição é o primeiro passo na formação de um MCO (multiclub ownership) exclusivamente de equipes femininas. A modalidade cresce, as conexões aumentam, assim como os valores de negociações de atletas. Não dá mais para achar que o futebol feminino é apenas custo.

Abril

A Arctos Capital captou um novo fundo de US$ 4,1 bilhões. O objetivo é dar sequência à estratégia de investimentos em ativos esportivos, que tem no portfólio participações no Liverpool FC, no Golden State Warriors, na Aston Martin F1, PSG e negócios satélites.

A tese da Arctos é enxergar o esporte como investimento. Como uma classe de ativos descorrelacionada com fundamentos macroeconômicos, historicamente mal gerida e com problemas de liquidez, e uma base de consumidores fiéis.

Julho

A Cosm, empresa que constrói e administra salas de imersão visual que permitem aos espectadores assistirem competições esportivas como se estivessem dentro dos estádios e ginásios captou US$ 250 milhões para seu projeto de expansão.

Assim, a empresa tem uma instalação em Los Angeles e outra em Dallas, e está em processo de expansão. Este é um movimento que aproxima fãs de torcedores. Porque até hoje a grande diferença entre esses perfis é a localização. O fã é um interessado distante, que pode passar a ter a sensação de presença que só o torcedor, que é local, tem.

Outubro

Forest Road Company e a Ares Management compraram a ERT Formula E team, rebatizando-a para Kiro Race Co. A Fórmula E é uma competição global de carros elétricos, uma espécie de “F1 elétrica”, e que tem ajudado no desenvolvimento de tecnologias aplicados aos veículos elétricos de rua, como a F1 já faz.

Dezembro

Em agosto a NFL autorizou que fundos de private equity adquirissem participações em franquias que disputam a competição. Foram pré-aprovadas 8 empresas que estariam em processos de aquisição: Arctos, Ares, Sixth Street e um consórcio formado por Dynasty Equities, Blackstone, Carlyle, CVC e Ludis.

Em dezembro tivemos as duas primeiras operações, com a Arctos comprando 10% do Buffalo Bills por US$ 580 milhões e a Ares comprando 10% de uma holding que tem o Miami Dolphins, o Hard Rock Stadium e os direitos do GP de Miami de Fórmula 1 por US$ 810 milhões.

Esporte como plataforma eficiente

Temos, então, negócios de diversas origens, formas, valores e esportes, direta ou indiretamente na indústria. O esporte é uma plataforma eficiente para diversos acessos e desenvolvimentos, que vão da exposição de marcas, conexão com o fã e torcedor, com os praticantes de modalidades, com quem acompanha as transmissões dentro e fora das instalações.

Tanto é que tem movimentado interesse na indústria de direitos esportivos, com a chegada mais forte de players como Amazon, DAZN e Netflix, além das tradicionais empresas do segmento.

Lembrem-se do caso do grupo LVMH, que comprou o Paris FC, ou da recente expansão da Red Bull, cujo objetivo é vender lifestyle e energéticos em lata.

A real disputa do esporte

Assim, como em qualquer outra indústria há riscos, que nascem na opacidade com que os ativos e as estruturas são geridos, incluindo as oportunidades de negócios heterodoxos envolvendo atividades “estranhas”.

E chega à obsolescência por conta do surgimento de novas modalidades, passando pelo risco de excesso de opções e negócios. Mas isso está mudando.

Hoje o esporte disputa atenção com redes sociais, filmes, música, mas tem sabido se apropriar de diversos desses elementos para crescer como negócio.

No Brasil, ainda temos dificuldade em enxergar este movimento, por responsabilidade do próprio esporte e deus atores.

Precisamos, portanto, mudar este cenário, e para isso é preciso mais coragem, estar atento aos dados e próximo a profissionais que sejam capazes de conduzir esta mudança.

Que todos tenham um ótimo Natal e que 2025 seja um ano de conquistas!

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