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Lucro dos bancos avança no 3T24, mas Selic alta traz desafios para os próximos resultados; veja quem brilhou e decepcionou na temporada de balanços 

A temporada de balanços dos grandes bancos brasileiros chegou ao fim. Será que o Seu Dinheiro acertou mais do que errou nas suas projeções para o Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11), Banco do Brasil (BBAS3) e Nubank (ROXO34)?

Bem, acertar em cheio não é exatamente o objetivo. Entretanto, acertar uma tendência de melhora — ou piora — das instituições é o que vale para você, investidor. 

Começando pelos melhores resultados, o Itaú novamente brilhou com lucro acima do esperado e rentabilidade de quase 23%.

O Bradesco segue colhendo os primeiros frutos da ampla reestruturação comandada pelo CEO Marcelo Noronha, mas a percepção é que o banco vai precisar de mais tempo para voltar aos melhores dias.. 

Já o Santander segue na trajetória de melhoria das operações após o impacto das Lojas Americanas no resultado do banco em trimestres anteriores. O destaque vai para a melhora acima das projeções da rentabilidade.

O Nubank também entregou resultados acima do esperado. Mas desta vez os analistas enxergaram sinais de “cansaço” no ritmo vertiginoso de expansão do banco digital do cartão roxo. 

Por fim, o Banco do Brasil foi quem ficou na lanterna desse campeonato em virtude dos impactos do agronegócio nas provisões do banco.

Grandes bancos: o que esperar de agora em diante?

O final do ano se aproxima e as perspectivas para 2025 são de um panorama “desafiador”, como gostam de dizer os executivos. 

Em linha gerais, os juros brasileiros devem permanecer altos por mais tempo do que os operadores do mercado gostariam. De acordo com a edição da semana passada do Boletim Focus, a Selic ao fim de 2025 deve permanecer nos dois dígitos, em 11,50% ao ano.

Além disso, o atual panorama das contas públicas, com gastos governamentais elevados e aumento do déficit fiscal, devem gerar inflação no próximo ano, o que sustenta ainda mais a demora na redução das taxas.

“Predominam, neste momento, para 2025, sinalizações de uma certa exaustão de ímpeto de crescimento, dado um nível de juros mais elevado, cujo ciclo já se iniciou”, afirmam os analistas do BB Investimentos.

Veja em mais detalhes um pouco mais do que foi o terceiro trimestre para cada instituição — e como o cenário afetará cada um deles de maneira diferente: 

Itaú Unibanco (ITUB4)

IndicadorProjeções do Seu DinheiroResultado 3T24Evolução (t/t)Variação (a/a)
Lucro LíquidoR$ 10,424 bilhõesR$ 10,675 bilhões6,00%18,10%
ROE21,40%22,70%0,3 p.p.1,6 p.p.
Fonte: Balanço enviado à CVM

O maior banco privado brasileiro apresentou um resultado “sem nenhum senão”, como se diz na expressão popular.

Isso se reflete na recomendação dos analistas que acompanham o banco — que inclui nomes como BTG Pactual, JP Morgan, Goldman Sachs, entre outros —, que indicam a compra dos papéis ITUB4 com unanimidade. 

As principais linhas do balanço do Itaú vieram acima das projeções, com o bancão apresentando lucro e rentabilidade em alta. Os analistas que cobrem o Itaú ressaltaram essas qualidades com diversas recomendações de compra e elogios quase sem fim. 

Mesmo antes da publicação dos resultados, o JP Morgan afirmou que o banco é um “bom ativo para todos os climas” e as expectativas de crescimento eram bastante altas.

Ainda assim, o Itaú deve ser a instituição que melhor consegue navegar nesse contexto, segundo os analistas. Todo esse cenário de otimismo deixa uma pergunta: e os dividendos extraordinários? Quem dá a resposta é o próprio CEO do banco, Milton Maluhy Filho. 

Bradesco (BBDC4)

IndicadorProjeções do Seu DinheiroResultado 3T24Evolução (t/t)Variação (a/a)
Lucro LíquidoR$ 5,154 bilhõesR$ 5,225 bilhões13,10%10,80%
ROE (%)12,80%12,40%1,1 p.p.1,0 p.p.
Fonte: Balanço enviado à CVM

O Bradesco teve mais um trimestre positivo, executando seu plano iniciado há pouco menos de um ano da chegada de Marcelo Noronha à frente da instituição. 

Ainda que o lucro e a carteira de crédito do Bradesco tenham crescido, com uma inadimplência cada vez menor, algumas linhas do balanço chamaram a atenção. 

A primeira delas foi o ROE, que ficou abaixo da média das projeções do Seu Dinheiro, além do aumento das despesas com o pessoal — esta última, Noronha atribui ao aumento da equipe de tecnologia, que costuma ter salários mais elevados. 

Mesmo assim, os resultados do banco não podem ser considerados ruins, mas ainda ficaram aquém da concorrência. Dessa forma, o BTG Pactual permanece neutro em relação ao Bradesco, enquanto o Itaú BBA avalia como outperform — o equivalente a uma recomendação de compra dos papéis. 

Vale dizer que o BTG também celebrou a entrada do Bradesco no segmento de alta renda, com o lançamento do Principal, focado na categoria, ainda que depois de outros concorrentes terem produtos já melhor estabelecidos no mercado. 

Santander Brasil (SANB11)

IndicadorProjeções do Seu DinheiroResultado 3T24Evolução (t/t)Variação (a/a)
Lucro LíquidoR$ 3,493 bilhõesR$ 3,664 bilhões10,00%0,343
ROE15,60%17,00%1,5 p.p.3,9 p.p.
Fonte: Balanço enviado à CVM

Outro destaque importante na temporada de balanços dos grandes bancos foi o Santander. A instituição conseguiu melhorar a rentabilidade acima da média das projeções e surpreendeu os analistas. 

Em conferência com analistas para comentar os resultados, o CEO do banco, Mário Leão, afirmou que a instituição pretende continuar ampliando a carteira de crédito para pequenas e médias empresas (PMEs), ainda que de maneira mais contida do que a concorrência.

Isso porque o cenário local de juros mais elevados por mais tempo, somado com uma oferta de crédito ampla, pode influenciar negativamente na inadimplência do banco. 

Leão admitiu que o banco tem o que chamou de “sensibilidade negativa para juros altos”, mas que a instituição tentará neutralizar esse efeito e trazer um resultado menos volátil.

Para Larissa Quaresma, analista da Empiricus, o Santander reportou um bom resultado, com crescimento razoável da carteira de crédito.

Entretanto, ainda que o resultado tenha sido positivo, a analista foi categórica em afirmar que mantém a recomendação da ação SANB11 neutra. Questionada sobre os motivos, ela avaliou que o Santander necessitaria ter uma recuperação mais rápida no ROE para que as ações pudessem subir para compra.

Nubank (ROXO34)

IndicadorProjeções do Seu DinheiroResultado 3T24Evolução (t/t)Variação (a/a)
Lucro LíquidoUS$ 528 milhõesUS$ 553,4 milhões13,60%82,60%
ROE29,70%30,00%2,0 p.p.5,0 p.p.
Fonte: Balanço do Nubank.

O unicórnio brasileiro do ramo das fintechs reportou mais uma vez um lucro acima do esperado. Além disso, a inadimplência não veio em níveis tão preocupantes como parte do mercado temia..

De todo modo, os analistas começam a ver sinais de que o ritmo de crescimento do banco digital pode não ser tão vigoroso assim nos próximos trimestres. 

Conforme o fundador e CEO do Nubank, David Vélez, escreveu no release de resultados, a receita foi impulsionada tanto pela aquisição de clientes quanto pela melhora no engajamento por meio de iniciativas de cross-selling e up-selling, “combinada com lançamentos de produtos atrativos”.

O Nubank terminou o 3T24 com 109,7 milhões de clientes ativos, com uma taxa de atividade mensal de 84%. Trata-se de um acréscimo de 20,7 milhões de clientes na comparação com o mesmo período do ano passado.

Entretanto, as ações chegaram a registrar forte queda de mais de 10% após a publicação dos resultados, com os analistas do Itaú BBA rebaixando as ações para neutro

Isso porque a desaceleração das receitas foi maior do que o esperado, uma surpresa negativa para os analistas. Dessa forma, o relatório aponta que a potencial piora do mercado de crédito em 2025 pode impactar o custo dos empréstimos feitos pelo Nubank no próximo ano.

Banco do Brasil (BBAS3)

IndicadorProjeções do Seu DinheiroResultado 3T24Evolução (t/t)Variação (a/a)
Lucro LíquidoR$ 9,463 bilhõesR$ 9,515 bilhões0,10%8,30%
ROE21,20%21,10%0,14 p.p.0,46 p.p.
Fonte: Balanço enviado à CVM

Por último, o resultado do Banco do Brasil foi aquele que pior foi recebido pelo mercado de modo geral.

Isso porque o balanço do banco veio não só com uma surpresa negativa em relação às provisões, mas também porque os problemas envolvendo o agronegócio pesaram nos últimos três meses para a instituição. 

Com isso, os analistas ligaram a luz amarela — ou, melhor dizendo, a laranja — para um futuro de juros mais altos por mais tempo, ainda mais levando em conta que a carteira de crédito do BB cresceu quase 13% no trimestre, com forte participação do agro. 

Vale dizer que os executivos do Banco do Brasil, como a própria CEO do banco, Tarciana Medeiros, acredita que se trata de um evento pontual e que a instituição vem tomando medidas para amenizar esses problemas. 

Por fim, é preciso destacar que o BTG Pactual e o JP Morgan mantiveram a recomendação de compra dos papéis, enquanto o Itaú BBA permaneceu neutro em relação a BBAS3.

Além disso, as chuvas voltaram a cair sobre o Brasil, bem como a perspectiva meteorológica de um verão mais ameno, o que deve favorecer as colheitas.

O Plano Safra recorde para 2024 e 2025, com mais de R$ 400 bilhões destinados ao agronegócio, também tende a melhorar o cenário daqui para frente. Os analistas do JP Morgan escrevem que, apesar do trimestre fraco, os rendimentos com dividendos e a relação preço/lucro para 2025 permanece em 3,8 vezes, o que é um “piso forte” para o Banco do Brasil.

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