Mercado financeiro

Leilão de pequenas hidrelétricas mostra que expansão da oferta de energia está mais desafiadora

O anúncio de que o governo federal fará um leilão, em junho de 2025, para contratação de energia gerada por pequenas hidrelétricas revela pontos críticos e estratégicos na busca por uma matriz energética mais diversificada e resiliente. Contudo, a operacionalização desse processo envolve desafios técnicos e regulatórios que podem limitar a eficiência do certame.

A portaria destaca a prioridade para fontes hidrelétricas de pequeno porte (com potência de até 50 megawatts – MW). Essa escolha está em linha com a busca por projetos de menor impacto ambiental e pela descentralização da geração. Contudo, o setor enfrenta limitações, como dificuldades na obtenção de licenças ambientais e desafios no escoamento da energia em áreas remotas.

A possibilidade de aproveitamento de projetos já habilitados em leilões anteriores é um ponto positivo, reduzindo a burocracia para empreendedores e acelerando o processo de habilitação técnica. A contratação abre ainda uma oportunidade à indústria nacional de equipamentos para hidrelétricas, que está praticamente paralisada, vivendo basicamente da modernização e “retrofit” (modernização) de usinas.

No leilão, denominado “A-5”, pois o suprimento começa em cinco anos, serão negociados contratos com prazo de suprimento de 20 anos, com preços atualizados em relação ao teto estabelecido no Leilão “A-6”, de 2019.

O sucesso do leilão passa ainda pela capacidade do governo em articular soluções para os desafios de transmissão de energia, garantir segurança regulatória e atrair investidores. Com isso, a Abrapch, associação que representa as empresas do setor, vê seu pleito atendido pelo governo, já que considera que o leilão é fundamental para reequilibrar a participação da fonte na matriz energética, estagnada há mais de 15 anos.

Alexandre Viana, diretor-presidente da consultoria Envol Energy, diz que o leilão é uma boa oportunidade para a energia hidrelétrica, que tem custos de construção mais altos. No entanto, ele alerta que o volume de contratação não deve ser muito grande, pois isso poderia acabar aumentando o preço final para os consumidores.

Resta saber se as distribuidoras apresentarão a demanda necessária, o que deve ser feito entre os dias 3 e 10 de fevereiro por meio da “declaração de necessidade de compra de energia elétrica”. Esse cenário ocorre em um contexto de sobra de energia contratada, resultado da crescente migração de consumidores para a geração distribuída e para o mercado livre, fatores que têm desafiado o planejamento das concessionárias.

Hidrogênio verde, carros elétricos e “data centers”

Além disso, o crescimento das fontes eólica e solar expôs uma fragilidade do sistema energético: a intermitência, ou seja, estas fontes dependem de condições climáticas, como vento constante e sol abundante, e isto nem sempre coincide com os períodos de maior demanda, criando a necessidade de fontes complementares e maior capacidade de armazenamento ou transmissão.

O problema agora é outro: a necessidade de potência para atender o sistema no horário de ponta. A entrada de novas usinas no sistema vai voltar a ganhar importância se surgirem novas demandas, como o hidrogênio verde, os carros elétricos e os “data centers”.

*Com informações do Valor Econômico

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo