Juros futuros caem após falas de Guillen e acomodação do câmbio
Os juros futuros encerraram a sessão em queda firme, com exceção dos vértices de mais longo prazo da curva a termo. A redução do prêmio de risco nos vencimentos curtos e intermediários foi desencadeado por comentários do diretor de política econômica do Banco Central, Diogo Guillen, que foram percebidos pelos investidores como menos conservadores do que o esperado. Além disso, o bom desempenho do real em relação a moedas de economias pares do Brasil deu sustentação à queda das taxas, de acordo com operadores.
Ao fim da sessão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento de janeiro de 2026 teve queda de 15,08%, do ajuste anterior, para 14,955%; a do DI de janeiro de 2027 recuou de 15,43% a 15,315%; a do DI de janeiro de 2029 cedeu de 15,355% a 15,34%; e a do DI de janeiro de 2031 anotou leve alta de 15,21% para 15,24%.
O ambiente doméstico mais positivo deste pregão fez com que os juros futuros praticamente ignorassem a pressão dos Treasuries americanos durante boa parte da sessão, em meio à expectativa por um ciclo de corte de juros mais contido do Federal Reserve (Fed). Perto do fim da sessão, a taxa da T-note de dez anos subia de 4,769% a 4,793%.
Diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen tratou de afastar temores sobre dominância fiscal ao afirmar que o BC tem todos os instrumentos para levar a inflação de volta à meta de 3%. “Acho um equívoco discutir se o BC tem as ferramentas para isso”, afirmou durante participação em evento do Bradesco Asset Management.
O diretor de política econômica também foi incisivo ao dizer que há uma “barra alta” para que o Copom não cumpra a orientação dada na sua última reunião, de que a taxa Selic subirá em 1 ponto percentual em cada uma das duas próximas reuniões do colegiado, em janeiro e março. Na prática, o comentário afasta a possibilidade de um aperto ainda mais forte da autoridade monetária em vista da deterioração constante das expectativas de inflação.
Hoje, o relatório Focus mostrou nova piora no cenário-base para o IPCA, que agora indica uma alta de 5% este ano e de 4,05% em 2026, de 4,99% e 4,03%, respectivamente, das projeções anteriores. Ainda que a mudança possa ser considerada pequena em relação a ajustes recentes, “a desancoragem das expectativas de inflação para horizontes mais longos em relação à meta de 3,00% preocupa o Banco Central”, destacam Luiza Pineze e Alexandre Maluf, economistas da XP.
Vale ressaltar que a piora das projeções inflacionárias ocorre em um ambiente de ajuste também constante na expectativa para a Selic, que já se encontra em 15% para este ano – quadro mantido em relação ao Focus anterior.
Ioana Zamfir, estrategista-chefe para América Latina do Morgan Stanley, avalia que, Apesar da contínua deterioração do quadro inflacionário, é improvável que os juros futuros precifiquem uma taxa Selic ainda maior do que os cerca de 15,5% a 16% atuais para o fim de 2025, o que favorece um movimento de inclinação positiva da curva a termo.
Por isso o banco americano mantém uma posição que ganha com a diminuição do spread entre as taxas dos contratos de DI com vencimento em janeiro de 2027 e as taxas do DI para janeiro de 2031. Hoje, a taxa do título com vencimento mais curto encerrou a sessão 7,5 pontos-base acima da taxa mais longa, e se aproximou da meta da operação do Morgan Stanley, de spread zerado.
*Com informações do Valor Econômico