Japão precisa de mais 2,5 mil
As empresas japonesas listadas no mercado prime da bolsa de valores de Tóquio enfrentam dificuldades para alcançar a meta do governo de 30% de mulheres nos conselhos de administração até 2030. Isso, diante da escassez de candidatas internas e da dificuldade em convidar candidatas externas.
As empresas listadas na Tokyo Stock Exchange (TSE) Prime precisam adicionar pelo menos 2,5 mil mulheres aos conselhos para atingir a meta. Atualmente, elas contam apenas com 3.083 mulheres em cerca de 19 mil posições de membros de conselhos de administração.
Segundo uma pesquisa do “Nikkei Asia”, a porcentagem de mulheres em conselhos de 1.628 empresas listadas no TSE Prime era de 16,2% no fim de junho de 2024, muito aquém da média global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 29,6% em 2022.
Embora o número tenha aumentado 2,6 pontos percentuais em relação ao ano anterior, 4,2% de todas as empresas ainda não possuem nenhuma mulher em seus conselhos.
Além da meta estabelecida pelo governo japonês, de 30% até 2030, há também uma meta intermediária de 19% até 2025, que dois terços das empresas listadas no TSE Prime ainda não alcançaram.
Número limitado de candidatas
As empresas têm um número limitado de candidatas em seus escritórios. A porcentagem de mulheres que atuam como chefes de departamentos — potenciais candidatas a membros do conselho — era de apenas 8,2% em 2022 entre todas as empresas listadas no TSE. Isso significa que ainda levará tempo para desenvolver candidatas mulheres.
As empresas estão se apoiando em candidatas externas para alcançar a meta. Os dados do governo mostram que quase 9 em cada 10 mulheres em conselhos em 2023 foram convidadas de fora, enquanto 4 em cada 10 para homens.
Contrariando a crescente demanda, a oferta de candidatas femininas ainda é limitada. A porcentagem de diretoras externas que acumulam cargos em várias empresas era de 30% em 2023, enquanto para homens era de 15%, segundo a consultoria de governança ProNed.
A situação é ainda mais difícil para as empresas menores. “A remuneração para candidatos com experiência em gestão empresarial tende a ultrapassar 10 milhões de ienes por ano, um valor muito alto para elas oferecerem”, explicou.
Embora as metas do governo não sejam obrigatórias, os investidores institucionais estão tornando seus critérios de votação mais rígidos, pressionando as empresas listadas a responder. A taxa de mulheres em conselhos tornou-se um fator que afeta a taxa de aprovação dos executivos nas assembleias de acionistas das principais empresas japonesas.
Na assembleia geral anual da Canon em 2023, a proposta de eleição do presidente e CEO Fujio Mitarai recebeu apenas 50,59% dos votos a favor e quase foi rejeitada, já que a empresa não tinha diretoras. Sua taxa de aprovação recuperou-se para mais de 90% em 2024 após a convocação de uma diretora.
A Sumitomo Mitsui DS Asset Management, uma das maiores empresas de gestão de ativos do Japão, também apertou seus critérios de votação em janeiro de 2024, deixando de exigir uma diretora feminina para agora exigir “10% ou mais”. “Estamos alinhados com a meta do governo e continuaremos a apertar nossos critérios de votação, acompanhando o progresso das iniciativas das empresas”, explicou Junichi Sakaguchi, diretor de investimento responsável da empresa.
“Não são poucas as empresas que alegaram ter um pool fraco de candidatas femininas. Aconselhamos que avaliem quais são suas competências, e não suas empresas e cargos. Definitivamente, não concordamos em nomear mulheres sem competência ou sem tempo livre como diretoras apenas para preencher a cota”, disse ele, acrescentando que pediria a todas as empresas listadas no TSE que atingissem a meta de 30% de mulheres nos conselhos para que possam usufruir dos benefícios da diversidade de gênero.
Mais mulheres no mercado de trabalho
Embora a porcentagem de mulheres na força de trabalho no Japão tenha aumentado para 50% e as empresas se tornado mais conscientes do viés de gênero, ainda existem sistemas sociais que dificultam a promoção das mulheres no local de trabalho.
De acordo com o Código Civil do Japão, que remonta a 1898, os cônjuges devem unificar seus sobrenomes ao se casarem. Na maioria dos casos, as esposas adotam os sobrenomes dos maridos e usam seu sobrenome original em seus locais de trabalho, causando confusão processual, incluindo a assinatura de documentos oficiais.
“É importante que o Japão esteja avançando na direção certa, mas o ritmo é muito lento. Não podemos obter o verdadeiro benefício da diversidade antes de alcançarmos pelo menos 30%”, disse Sarah Liu, fundadora e diretora-gerente da consultoria australiana em diversidade e inclusão TDC Global.
“As empresas japonesas costumam dizer: ‘Promovemos uma mulher no ano passado’, mas isso não é rápido o suficiente”, disse Liu, observando que o Japão deve se libertar da noção social de que a mudança leva tempo. O que acelera os movimentos das empresas japonesas são “as ações dos líderes”, acrescentou ela.
Com informações do Valor Econômico.