IPO da Bradesco Seguros entra no radar do mercado
Empresas citadas na reportagem:
Em um almoço de fim de ano, o presidente da Bradesco Seguros, Ivan Gontijo, foi questionado por jornalistas sobre a possibilidade de abertura de capital de alguma unidade de negócio, a exemplo do que fez a Porto recentemente. A resposta foi protocolar, com o executivo afirmando que o tema “permeia as mentes” da alta administração, mas que isso dependerá das oportunidades dadas pelo mercado. “Se fizer sentido, estamos abertos para planejar algo mais estruturado.”
O tema poderia ter passado batido, mas, com o Bradesco ainda vivendo um momento desafiador, a declaração serviu para analistas de “sell-side” especularem sobre um eventual IPO de parte ou mesmo do braço geral de seguros do conglomerado.
O Citi apontou que a vertical de seguros tem sido em média 45% do total de receitas do Bradesco desde a pandemia. A vertical acumula lucro de R$ 6,5 bilhões este ano e patrimônio líquido de R$ 36,9 bilhões, com ROE médio de 23% nos últimos cinco trimestres.
“Como mencionamos recentemente em nossa atualização de cobertura de seguros, o setor está se beneficiando dos resultados decentes de subscrição e taxas de juros mais altas.”
Os analistas apontam que, com um múltiplo de 7,0 vezes o preço/lucro, a vertical de seguros do Bradesco seria avaliada em R$ 60,9 bilhões. Uma oferta que vendesse uma fatia de 20% na vertical representaria um impacto equivalente a 11% do capital Nível 1 do banco.
Já o BTG lembra que outros bancos com grandes unidades de seguros, como Banco do Brasil e Caixa, já fizeram IPO dessas verticais (BB Seguridade e Caixa Seguridade). Já o Itaú, além da própria seguradora, tem ainda uma fatia de 30,4% na Porto Seguro.
“O IPO da Bradesco Seguros é um assunto que já existe há muito tempo. Ouvimos falar sobre isso há pelo menos 15 anos. Mas, na verdade, faz sentido acreditar que essas discussões podem realmente ressurgir apesar das atuais condições ruins de mercado. Afinal, o Bradesco (como um grupo inteiro) está sob pressão significativa de uma perspectiva de avaliação, sendo negociado abaixo de seu valor contábil”, aponta o BTG.
Para os analistas, seria muito provável que o braço de seguros fosse negociado a um “valuation” muito maior em relação ao banco no caso de um IPO da vertical. “Além disso, poderia ajudar o Bradesco a melhorar sua posição de capital em termos muito mais atrativos.”
Para o Itaú BBA, o conglomerado do Bradesco não precisa de capital, mas um eventual IPO de seguros seria uma forma de destravar valor e mesmo preparar melhor a unidade para desafios operacionais do segmento. Eles apontam que, pegando como referência os múltiplos de BB Seguridade e Caixa Seguridade, a Bradesco Seguros poderia valer R$ 90 bilhões.
Como o conglomerado inteiro hoje vale cerca de R$ 135 bilhões na bolsa, tirando os R$ 90 bilhões da vertical de seguros, a parte bancária valeria R$ 45 bilhões. “Este número, por sua vez, implica um múltiplo de 0,34 vez o preço/valor contábil para a divisão bancária. Isso mostra como o ROE atual do banco, menor do que a média histórica, está sendo refletido, e também quão poderosos os lucros e valuations da vertical de seguros são para o grupo.”
Com informações do Valor Econômico