Economia

Investimento estrangeiro não escolherá Brasil, afirma ex-banqueiro

Conhecido por ser um dos fundadores do banco Pactual, Luiz Cesar Fernandes, que tem se resguardado dos holofotes nas últimas décadas, diz que não vê chances de o Brasil atrair investimento estrangeiro em grande volume. Além disso, avalia que as grandes empresas daqui como WEG (WEGE3) e JBS (JBSS3) tendem a buscar oportunidades fora do país.

Fernandes foi sócio do banco Pactual, hoje BTG Pactual, antes da venda da instituição, em 2006, para o UBS. Após a venda, o executivo se tornou fazendeiro até retornar ao mercado financeiro como sócio da consultoria Invixx.

Atualmente, o ex-banqueiro se mostra pessimista com o Brasil e diz que o atual governo tenta “revogar a lei da oferta e da procura” ao contestar os juros altos no país, que, segundo ele, são resultado de falta de confiança do mercado.

Nesse sentido, Fernandes avalia que as grandes empresas tendem a não direcionar investimentos ao país nos próximos anos, dificultando a manutenção de um crescimento robusto.

“Não vai acontecer (investimento massivo no Brasil) a menos que nós voltemos a ter credibilidade como país. Nós nunca tivemos sentimento de vira-lata como hoje”, disse Fernandes em evento em São Paulo na última sexta-feira (30).

Indústria automobilística

Para o executivo, o sentimento de vira-lata não é resultado de uma percepção incorreta do brasileiro sobre si mesmo. Mas, sim, de um descrédito dos investidores com relação à condução da política econômico do país.

Inclusive, ele contesta a durabilidade e eficiência do investimento estrangeiro recente em setores específicos.

Nesse sentido, um dos movimentos favoráveis ao Brasil foi o da indústria automobilística. Anteriormente, em março deste ano, a Stellantis anunciou que irá investir R$ 30 bilhões no Brasil até 2030. A empresa é dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM.

Assim, o volume de investimentos programados pelas montadoras no país alcançou a marca de R$ 95 bilhões até 2032, o maior ciclo da história.

Segundo a Anfavea, os investimentos podem ser ainda maiores, com aportes de R$ 117 bilhões até 2029.

Contudo, o que Fernandes afirma é que a indústria tem feito um movimento pouco relacionado ao ganho de eficiência.

Para ele, o investimento das outras montadoras tradicionais é “para defender market share“.

“Eu não acredito que nesse ambiente que temos haja investimento para valer”. Avalia o ex-banqueiro.

Então, na percepção de Fernandes, as montadoras tradicionais estariam interessadas somente em proteger seu mercado da entrada dos carros chineses. Ainda que a custo da rentabilidade dos negócios num primeiro momento.

“As empresas que estão supercapitalizadas não estão investindo no Brasil”, afirma.

Nesse sentido, ele menciona os movimentos da WEG (WEGE3) e da JBS na aquisição de ativos estrangeiro. Recentemente, a WEG (WEGE3) comprou a Volt, da Turquia.

Anteriormente, no ano passado, a empresa de motores industriais havia comprado a Regal Rexnord, com sede nos Estados Unidos.

Da mesma maneira, a JBS (JBSS3) investiu neste ano na holandesa Vivera, terceira maior produtora de alimentos à base de plantas do mundo.

Investimento estrangeiro não terá impulso do dólar

A indústria brasileira poderia se beneficiar de novas disparadas do dólar, contudo, isso não deve se repetir, segundo Fernandes. Ele crê em um dólar estável daqui em diante perante o real.

“Eu não vejo o dólar nem se apreciando ou desvalorizando muito em relação ao real. Eu acho que entre R$ 5,45 e R$ 5,60 está de bom tamanho. Talvez até fechando esse spread um pouco, entre R$ 5,45 e R$ 5,55”, avalia.

Para pensamentos mais pessimista sobre o real, ele brinca: “Se alguém disser que vai subir a R$ 6, eu faço hedge na hora”.

Sobre inflação, Fernandes avalia que ela não deve sofrer grandes disparadas, mas crê que as altas sutis e perenes dos preços seguirão corroendo o poder de compra dos brasileiros ao longo do tempo.

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