Inflação nos EUA leva Ibovespa ao recorde do dia na esteira das bolsas em NY, mas o investidor deve ter cuidado com a euforia
A inflação de agosto nos EUA desacelerou para 2,2% em agosto, aproximando-se da meta de 2% do Federal Reserve (Fed) — agora, o mercado de trabalho é a pedra no sapato do banco central norte-americano.
“A medida central preferida do Fed continua a seguir na direção certa, embora os efeitos de base estejam impulsionando o ritmo anual. Dado que a inflação continua contida, o Fed prestará ainda mais atenção aos desenvolvimentos do mercado de trabalho, com os dados do payroll de setembro divulgados na próxima sexta-feira”, disse Shernette McLeod, economista da TD Economics.
O PCE desacelerou para 0,1% em agosto de 0,2% em julho. Na comparação anual, a desaceleração foi de 2,5% para 2,2%. O núcleo do índice — que exclui os preços mais voláteis de alimentos e energia — subiu 0,1% em agosto, perdendo força, depois de marcar 0,2% em julho e avançou de 2,6% para 2,7% na comparação ano a ano.
Em agosto, a economia norte-americana criou 142 mil postos de trabalho, bem acima dos 89 mil de julho (dado revisado), porém abaixo das projeções que indicavam 160 mil vagas para o período. A taxa de desemprego caiu de 4,3% para 4,2%.
“Quando o PCE saiu nesta manhã, quase foi possível ouvir o mercado gritar ‘50! 50! 50!”, disse Stephen Stanley, economista-chefe do Santander para os EUA.
“Mas é importante lembrar que ainda há uma tonelada de dados a serem divulgados antes da próxima reunião, e os números do mercado de trabalho provavelmente serão mais cruciais para determinar o tamanho do próximo movimento do Fed do que os números da inflação”, acrescentou.
REVIRAVOLTA NOS CLÁSSICOS
Mercado quer mais e bolsas sobem aqui e lá fora
As apostas de que o Fed cortará de novo os juros em 0,50 ponto percentual (pp) em novembro subiram após o PCE, passando de 50,7% no dia anterior para 52,1%, de acordo com dados compilados pela ferramenta FedWatch do CME Group.
Já a possibilidade de um corte menor, de 0,25 pp, caiu de 49,3% ontem para 47,9% agora. Para a última reunião do ano, em dezembro, a maioria das apostas também se concentrava em um corte de 0,50 pp (50,1%), enquanto a probabilidade de cortes de 0,25 pp e de 0,75 pp eram de 25,1% e 24,8%, respectivamente.
O otimismo com mais cortes nas próximas reuniões também era visto nas bolsas. Em Wall Street, os três principais índices de ações operavam em alta, caminhando para encerrar a semana com ganhos.
Por aqui, após tocar a mínima aos 132.842,23 pontos, o Ibovespa renovou máxima na parte final da manhã (133.868,89 pontos).
Mais uma vez, a ação da Vale (VALE3) avança na esteira do minério de ferro — que fechou com valorização de 4,38% em Dalian, em semana marcada por uma série de anúncios de medidas de estímulo econômico na China, inclusive nesta sexta-feira (27), e que mexeram com as bolsas.
No mercado de câmbio, o dólar à vista chegou a bater máxima (R$ 5,4509) minutos depois da divulgação do PCE, mas voltou a ceder para a casa dos R$ 5,43.
O CORTE DE JUROS nos EUA é uma BOA NOTÍCIA para o Brasil e aqui está o MOTIVO
Nem tudo são flores…
Embora as bolsas estejam subindo e a maior parte do mercado conte com mais um corte de 0,50 pp, alguns especialistas recomendam cautela — e não só por conta do esfriamento do mercado de trabalho norte-americano.
Segundo Francisco Nobre, economista da XP Investimentos, os dados de hoje não forneceram nenhuma notícia significativa, embora continuem mostrando progresso no processo de desinflação e atividade econômica resiliente.
“De alta relevância, os números de inflação têm sido muito mais estáveis no índice PCE, com leituras de inflação mais baixas se tornando muito mais disseminadas. No entanto, ainda achamos que os riscos são bilaterais”, disse.
Segundo Nobre, a inflação anual nos EUA ainda está um pouco acima da meta, e há riscos de nova aceleração em meio ao consumo robusto, a flexibilização monetária do Fed e a quantidade material de estímulo pelas autoridades chinesas — o que pode elevar os preços globais das commodities, de acordo com o economista.
“Em relação à política monetária, a magnitude do corte de novembro — 0,25 pp ou 0,50 pp — dependerá, em última análise, dos dois próximos payrolls. No entanto, continuamos achando que um corte menor é mais provável e apropriado”, acrescenta.