Economia

Indicado por Lula, Galípolo mantém tom agressivo contra inflação; futuro presidente do Banco Central tenta colocar panos quentes em dólar a R$ 6,00

Após reforçar em encontro com empresários que a autarquia fará o que for necessário para levar a inflação à meta de 3%, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse, na noite da quinta-feira (28), ser normal ter de subir os juros durante um mandato de quatro anos na autoridade monetária.

O futuro presidente do Banco Central participou de um encontro com empresários — entre eles, Joesley Batista, André Esteves, Rubens Menin e Rubens Ometto — promovido pela Esfera Brasil.

Além disso, o atual diretor de política monetária ainda comentou que não dá para atender a todos os interesses ao mesmo tempo. 

“Você ir para o Banco Central e achar que não vai passar por momentos onde vai ter de subir juros, me parece muito estranho. Você vai passar por um mandato de quatro anos, é normal. E se você pretende ser o Mister Congeniality [Senhor Simpatia], talvez o lugar para você ir não seja o Banco Central”, disse Galípolo, que em janeiro assume como presidente do BC, no lugar de Roberto Campos Neto.

E acrescentou: “A função do Banco Central não é você sair obrigatoriamente aplaudido por todo mundo, mas você tem de ter que ter explicação do porquê está fazendo, sustentada tecnicamente e conseguir explicar à sociedade.”

Galípolo cita contraponto a Lula

Durante o encontro, foram levantadas questões sobre se Galípolo faria um contraponto ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que o indicou ao comando do BC, e até onde iria a liberdade de atuação de sua gestão.

A respeito de fazer contraponto dentro do governo, respondeu que o BC é “pouco hepático” nesse tema e se dedica a olhar exclusivamente ao que acontece com a inflação.

“As reações e função de reação do Banco Central não buscam se contrapor a isso ou aquilo […] O mandato é buscar a meta [de inflação].”

Do empresário Rubens Ometto, Galípolo ouviu que os investimentos esperados em infraestrutura e parcerias público-privadas não vão acontecer porque os juros vão subir, em razão do desequilíbrio das contas públicas.

Ao recorrer à ilustração, usada por Ometto em seu comentário, de um automóvel em movimento, ele assegurou que, na política monetária, o Banco Central está sentado no banco do motorista — ou seja, no controle —, “com direção, freio, acelerador e todas as ferramentas”.

“Na política monetária, esta eu te garanto, o Banco Central tem autonomia para tocar a política monetária que ele quiser, e estamos com todas as ferramentas para tocar”, respondeu Galípolo a Ometto.

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Impacto de inflação pior do que o dos juros

O diretor do BC observou que o impacto da inflação é pior para a população do que o dos juros, de modo que o mal maior seria não agir diante da pressão do câmbio desvalorizado e da atividade econômica aquecida sobre os preços.

Evitando fazer comentários sobre a política fiscal, ainda que reconhecendo o empenho do “amigo” Fernando Haddad, ministro da Fazenda, um dia após o anúncio do pacote de ajuste que levou a uma reação negativa do mercado financeiro, Galípolo frisou que a “bola” — isto é, o foco — do BC é a inflação, sendo os juros o instrumento da autoridade monetária para controlar a alta dos preços.

Ontem (28),o dólar manteve o passo do rali da véspera e chegou a superar o patamar de R$ 6,00 pela manhã após a apresentação do pacote fiscal e a ampliação da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil (cerca de cinco salários mínimos).

Incômodo com desancoragem

O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central destacou que a instituição segue firme em seu compromisso em perseguir a meta de inflação e que a atual desancoragem das expectativas inflacionárias incomoda o corpo diretivo da autarquia.

“Estamos todos no Banco Central muito incomodados com a desancoragem das expectativas e com a inflação corrente também”, afirmou Galípolo. “Mas se comparar com o passado, houve avanço significativo nos níveis de inflação nos últimos tempos”, ponderou.

Galípolo, o contracionista

Por ifm, Galípolo reforçou que, pelos indicadores, é lógico supor que a taxa de juro precisará de um juro em nível mais contracionista.

“Pelos indicadores, é lógico supor que precisará de juro em nível mais contracionista”, disse o diretor durante evento do Grupo Esfera. Mas, de acordo com Galípolo, o BC segue firme no objetivo de perseguir a meta de inflação.

“Isso pode se dar em doses diferentes, por mais custos, por menos custos, mas esse é um mandato do Banco Central em que a gente segue firme, recebe esse objetivo de perseguição da meta. Ainda que seja, muitas vezes, por um motivo que, para muita gente, pode ser estranho”, disse Galípolo, acrescentando que o BC está achando que precisa subir juros.

“O Banco Central, às vezes, é esse cara que é meio que o chato da festa. Normalmente, a festa parece uma coisa mais legal. Então, vamos baixar um pouco o som, vamos segurar um pouco a bebida para ter certeza que ninguém vai se machucar até o final da festa”, disse Galípolo

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