Ex-diretor do Banco Central do Brasil revela como se tornou um defensor do Bitcoin
Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central do Brasil, participou de uma conversa com o BlockTrends nesta quinta-feira (10), onde comentou sobre quando conheceu o Bitcoin e como passou a ser um defensor da criptomoeda.
Embora exiba orgulhosamente uma foto ao lado de Jerome Powell, presidente do Fed, em suas redes sociais, Volpon acredita que o Bitcoin seja uma proteção contra colapsos econômicos estatais.
Em sua visão, o Bitcoin é apenas o início do desenvolvimento de uma grande gama de tecnologias. Como exemplo, cita DeFi e Ethereum como uma evolução desse setor.
“De 2008 para cá, houve várias mudanças no ambiente monetário internacional que tem levado as pessoas a meio que perguntar se o Bitcoin, de fato, pode ser uma peça, uma das soluções possíveis para daquilo que está mais ou menos em curso, que é a perda de importância relativa do dólar americano nos mercados globais.”
Essa não seria a primeira vez que o mundo troca de moeda dominante, pelo contrário. A história mostra que existem ciclos de dominância e que o dólar americano está chegando ao seu fim, assim como aconteceu com o guilder holandês e a libra esterlina.
Embora o yuan chinês apareça no gráfico acima, alguns acreditam que o Bitcoin seria um forte candidato para ser a próxima moeda global, tanto por sua descentralização quanto por sua escassez.
Como Tony Volpon conheceu o Bitcoin
No início da conversa, Tony Volpon comenta ter conhecido o Bitcoin ainda quando trabalhava como diretor do Banco Central. No entanto, foi após a sua saída que começou a se envolver mais com esse mercado.
“O Bitcoin ocorreu no Banco Central, na época que eu tive lá em 2015, 2016. Um pessoal mais jovem […] que tinha acabado de entrar no Banco Central, foram eles. Eu tava na área internacional na época […] então o pessoal que tava nessa área de gerenciamento de riscos […] foram eles que falaram [sobre o] Bitcoin.”
“Foram eles que alertaram e tiveram algum interesse e a gente começou a estudar isso um pouquinho. A gente até formou um pequeno grupo de trabalho e começou a olhar isso. Ai posteriormente, quando sai do BC, tive alguns amigos no Brasil que estavam envolvidos em trading, em operar Bitcoin e outros ativos digitais como um todo, em cripto, e eventualmente minha esposa começou a trabalhar na área e foi crescendo o interesse”, comentou Volpon.
“Quando você cai naquele buraco de coelho, que é cripto, é difícil de sair.”
Na sua visão, o Bitcoin ainda tem limitações em sua utilização e que a própria comunidade deve resolver esses problemas nos próximos anos para que ele seja um concorrente do dólar americano como moeda. O mesmo acontece com a perspectiva das pessoas sobre o Bitcoin.
“No início do Bitcoin, o Bitcoin era muito associado a crime, lavagem de dinheiro, drogas, dark web, teve o FTX também. Hoje também acho que esse tipo de associação já está muito ultrapassado”, comentou Volpon. “Tem alguns jornalistas que ficam escrevendo artigo após artigo, dizendo que é ridículo, que não tem valor intrínseco, mas acho que isso também está sendo uma visão ultrapassada e cada vez mais minoritário.”
Bitcoin é uma proteção, diz Volpon
O Bitcoin é um ativo simples, baseado em descentralização, escassez e anti-censura. No entanto, seus casos de uso são os mais variados, podendo ser utilizado como meio de pagamento, reserva de valor ou até mesmo como um novo sistema financeiro.
Para Tony Volpon, o Bitcoin é um seguro que você aciona em caso de sinistro. Sua força está ligada justamente a história, com diversos países enfrentando crises diferentes que afetam a economia do cidadão.
“Todo sistema financeiro e a moeda daquele sistema dependem do Estado”, comentou Volpon. “Onde você vê a utilização do Bitcoin […] quando o Estado entra meio em colapso, como na Argentina, Turquia, a utilização do Bitcoin sobe porque ele acaba sendo um hedge contra esse tipo de desordem.”
“Você tem esses eventos geopolíticos, na medida que eles apontam para uma desordem maior, ai sim eu acho que os próprios agentes podem utilizar Bitcoin, pela sua descentralização, como um hedge contra esse tipo de evento. Especialmente se você é uma pessoa dentro de um país vivendo aquele evento. Um argentino na Argentina, quando teve o colapso da moeda, o surto inflacionário que você teve na Turquia ou a desordem política que você tem infelizmente em muitos países africanos.”
Em relação ao Brasil ou aos EUA, país onde Volpon vive atualmente, o ex-diretor do BCB destaca que o Brasil é muito mais organizado monetariamente que a Argentina, mas “sempre existe o risco de a gente entrar num processo mais desordenado”.
“Por isso que eu vejo o Bitcoin como um hedge. É importante ter essa noção, porque dentro da teorização financeira, hedge é alguma coisa que é um seguro que você está disposto a pagar para tê-lo. Então ele não necessariamente tem que te remunerar o tempo inteiro, é alguma coisa que vou acionar em caso de sinistro, em caso que a gente entre em processo mais desordenado.”
A conversa completa, com pouco mais de uma hora de duração, pode ser assistida no vídeo abaixo.