Empresas citadas na reportagem:
O empresário Nelson Tanure está comprando a rede de supermercados Dia, com 246 lojas no Estado de São Paulo. A oferta já estaria firmada, de acordo com o jornal O Globo. Embora ainda não tenha um valor fechado, estima-se que o negócio possa girar em torno de R$ 1 bilhão.
Nos planos do empresário, ainda estaria em jogo uma possível união com o GPA, que comanda as redes Pão de Açúcar e Extra, além das marcas Qualitá, Taeq e Club des Sommeliers. Ao todo, a rede conta com mais de 700 lojas físicas espalhadas pelo país. Segundo informações da Bloomberg, Tanure estaria sondando até mesmo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para viabilizar a fusão.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Tanure deve assumir o Dia por meio do fundo de investimento Arila. Confira mais detalhes sobre a negociação.
Mas, afinal, quem é Nelson Tanure? É o que você vai ver logo a seguir.
Quem é Nelson Tanure?
Nelson Sequeiros Rodriguez Tanure nasceu em Salvador, na Bahia, em 1951. É o caçula dos seis filhos de um comerciante libanês. Saiu de Salvador em 1977, aos 25 anos, para o Rio. O investidor é conhecido no mercado como um empresário que assume empresas falidas ou concordatárias e, de forma polêmica, tenta recuperá-las.
De acordo com reportagem de O Estado de S. Paulo de 2005, Tanure estreou em 1972 na sua cidade natal com a incorporadora Cinassa. “Fez empréstimos no Banco do Nordeste para construir edifícios cuja garantia eram os próprios apartamentos a serem vendidos. Seus clientes pagaram pelos apartamentos; mas a Cinassa não pagou as hipotecas. Processado por estelionato, Tanure foi embora da Bahia”, diz o texto.
Outra reportagem do ano 2000, da revista IstoÉ Dinheiro, lembra que Tanure fez fortuna começando com uma pequena construtora na Bahia e adquirindo, uma após a outra, uma série de empresas falidas ou concordatárias. “Foi assim com a fábrica de equipamentos de prospecção de petróleo Sequip, o estaleiro Verolme e a fabricante de turbinas Sade. Obstinado, Tanure chegou a dominar 80% do negócio de estaleiros no Brasil, até que afundou, em 1995, com US$ 600 milhões em dívidas. Vendeu a maior parte dos negócios, mas manteve o Verolme e muita vontade de voltar à tona”, destaca a reportagem.
Portfólio de Nelson Tanure
O portfólio do empresário inclui desde empresas de mídia como também infraestrutura e até empresas de petróleo. Por meio de sua investidora, a Société Mondiale, Nelson Tanure tem participação na gigante de telecomunicações brasileira Oi, empresa que protagonizou uma das maiores recuperações judiciais do país.
Desde de abril de 2019, Nelson Tanure passou a integrar o conselho administrativo da Gafisa. Também participou do aumento de capital da empresa, tornando-se um importante sócio da companhia, que chegou a enfrentar pedidos de falência.
Em mais uma investida, Tanure tornou-se em 2023 o maior acionista da Light, que teve a sua recuperação judicial homologado em junho deste ano. Ele adquiriu uma participação de 21,8% no capital social da empresa por meio da gestora WTN. Como parte de um plano para reestruturar financeiramente a empresa, Tanure propôs um aumento de capital de US$ 500 milhões na Light.
Tanure é cercado de controversas e é tratado por muitos como investidor arrojado, com processos administrativos abertos na CVM e até investigações por irregularidades em suas empresas.
Na Gafisa, o empresário virou réu em um processo administrativo sancionador aberto pela CVM no ano passado, junto de outros cinco executivos. As acusações apontavam que os conselheiros da companhia aprovaram em 2019 aumento de capital com condições de preço em desacordo com a Lei das Sociedades Anônimas.
Fundo Phoenix
Em abril deste ano, o Fundo Phoenix, que tem Nelson Tanure entre os cotistas, venceu o leilão de privatização da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) na bolsa de valores (B3), em São Paulo. A oferta foi de R$ 70,65 por ação, totalizando R$ 1,04 bilhão, com ágio de 33,68% em relação ao preço mínimo, de R$ 780 milhões.
Esta foi a primeira privatização da gestão de Tarcísio de Freitas à frente do governo do Estado – a Emae era a última estatal paulista do setor elétrico, que agora passará às mãos do setor privado.
Na área da comunicação, o empresário comprou em 2000 o Jornal do Brasil, publicação tradicional sediada no Rio de Janeiro que estava em situação pré-falimentar. Depois, arrendou a Gazeta Mercantil.
Supermercados Dia
Desde a semana passada, corre a notícia de que Nelson Tanure deve assumir o controle da rede de supermercados Dia. Além disso, passada a fase de renegociação de débitos e reestruturação da cadeia, deve partir para a criação de um grupo nacional de varejo mais robusto, segundo o Valor Econômico.
Haveria também interesse de uma fusão do Dia com o GPA (PCAR3), dono da rede Pão de Açúcar, de acordo com o jornal. “Maurício Quadrado, ex-sócio do Banco Master, instituição parceira de Tanure de longa data em outros negócios, tem assessorado o investidor para a discussão de um desenho viável”, diz a publicação
Currículo de Nelson Tanure
Em seu perfil no LinkedIn, Nelson Tanure se descreve como um investidor brasileiro que atua em diversos setores, principalmente na saúde.
“Atualmente é investidor relevante na Alliance Saúde, uma das principais redes de medicina diagnóstica do Brasil. Conhecida por possuir um dos mais modernos parques tecnológicos de medicina diagnóstica de alta complexidade do país, a Aliança está presente em 43 cidades de 10 estados brasileiros com mais de 120 unidades de atendimento”, diz o texto na rede social.
De acordo com o perfil, “Tanure, que também é investidor financeiro do laboratório Fonte Imagem fundado em 2017, no Rio de Janeiro, tem sua trajetória marcada pela atuação em múltiplas áreas de negócios, como representação estrangeira, geração de energia, bens de capital, serviços industriais, serviços petrolíferos , transporte marítimo, petróleo e gás, setor financeiro, imprensa, telecomunicações e setor imobiliário, bem como compra e venda de ativos estressados e participações minoritárias em diversos setores”.
A biografia no LinkedIn cita que entre as empresas das quais Tanure é acionista estão Light (Energia), Gafisa (Incorporação e Construção), Ligga e TIM Brasil (Telecomunicações), Prio (Petróleo e Gás) e Docas Investimentos S.A (Investimentos e Holdings).
Paralelamente aos investimentos em empresas, Nelson Tanure é lembrado também por sua paixão por música clássica e ópera. Inclusive, por alguns anos, foi vice-presidente da Orquestra Sinfônica Brasileira.
