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Empreendedorismo pode explicar a derrota da esquerda em SP

Os últimos dias que antecederam o segundo turno foram intensos. Mas o de sempre ocorreu. Ricardo Nunes (MDB), candidato a reeleição adotou postura defensiva pois estava à frente das pesquisas de intenção de votos. Guilherme Boulos (PSOL) partiu para o ataque para alcançar o impossível: tirar mais de dez pontos porcentuais de diferença e se eleger prefeito. Não conseguiu e o resultado talvez mostre algo que pode ter passado ao largo de debate da esquerda: a economia – ou o empreendedorismo – podem estar no centro da decisão em São Paulo.

Apagão, não empreendedorismo

Não foi o assunto no começo do segundo turno, quando o apagão elétrico tomou conta do debate. A estratégia do psolista parecia clara: houve falha de gestão grave por parte de uma empresa privada que fornece a energia em SP. E o enorme problema que atingiu milhões de pessoas poderia ser vinculado com a má administração de Nunes à frente da prefeitura.

O eleitor não se sensibilizou. Ou se sensibilizou pouco.

Empreendedorismo: um motorista chamado Paulo

Assim, no finzinho da segunda fase da campanha, um vídeo publicado no Instagram de Boulos mostrou que o caminho talvez fosse outro, o da questão do emprego. Ou da economia.

Ou da falta de emprego convencional que leva muitos e muitos trabalhadores para o caminho do empreendedorismo.

No vídeo, uma pessoa fala da dureza que é dirigir como motorista de aplicativo. Conta da rotina de 15 horas, interrompida apenas para comer e ir ao banheiro, e diz que a cidade não lhe dá nada em troca. Ao contrário. Diz que por isso vai votar em Boulos, colocado por ele como o candidato da mudança.

Era o gatilho de que algo poderia estar errado na campanha de Boulos. E que a pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva a pedido da Veja estava certa.

Dessa forma, um dado, mais do que todos outros, chamou a atenção e consolidou essa visão. 56% dos entrevistados – mais da metade, portanto – disse que o empreendedorismo é o melhor caminho para ascender na vida.

Empreendedorismo para conquistar seu sonho

Assim, dados da pesquisa Monitor Global de Empreendedorismo, realizada pelo Sebrae em parceria com a Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo, diz que a principal motivação para empreender é fazer a diferença no mundo.

É um conceito muito amplo para analisar de forma precisa.

Mas o segundo e terceiro colocados na lista são bem práticos. Empreendedores querem viajar pelo país e comprar a casa própria. Não nos parece ser o sonho de um empreendedor em série ou o inovador por trás de uma startup. É o brasileiro comum que antes tinha emprego com carteira assinada e agora não o tem.

Ah, outro dado. Em 2020, metade das pessoas que começaram um negócio era por necessidade. Hoje, o número caiu, mais ainda é de 39% do total.

A campanha da esquerda não entendeu isso.

Quem capturou o ‘fator empreendedorismo’ foi Marçal

Falastrão e caricato, foi justamente Pablo Marçal quem talvez tenha captado esse anseio da população por condições melhores de trabalho e para empreender.

A despeito de tudo o que foi a sua campanha, reforçada justamente por uma estratégia muitas vezes condenável, Marçal conquistou 1.719.274 votos no primeiro turno.

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Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito e governará capital paulista por mais quatro anos Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Num vídeo postado em uma rede social antes do primeiro turno por um empreendedor de sucesso em São Paulo, Marçal faz um breve discurso. Disse que 80% das pequenas empresas fecham até o terceiro ano. Que iria dar foco a isso no seu eventual governo. E que para ele aumentar o empreendedorismo é aumentar também a geração de empregos.

E, por muito pouco, não foi ao segundo turno. Boulos registrou 1.776.127 votos. Foi, portanto, uma diferença de 56,8 mil votos. O que não seria capaz de lotar o estádio do São Paulo, o Morumbi, hoje com capacidade pouco superior a 65 mil pagantes.

E os dados indicam que os votos de Marçal migraram mais para Nunes do que para Boulos, que não conseguiu captar nem a integralidade dos votos de Tabata Amaral, que fez 605.552 votos. Veja a tabela abaixo.

CandidatoVotação 1º turnoVotação 2º turnoDiferença totalDiferença porcentual
Ricardo Nunes1.8011393.393110+ 1591.71+ 88,38%
Guilherme Boulos1.776.1272.323.901+ 547.774+ 30,84%
Pablo Marçal1.719.274Não participou N/D N/D
Tabata Amaral605.552Não participou N/D N/D
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

Assim, sempre que uma candidatura perde, a coligação toda deve (ou pelo menos deveria) refletir o que deu errado. E a questão do emprego e do empreendedorismo talvez seja um bom começo para a esquerda.

Afinal, 2026 está logo ali na esquina.

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