Copom eleva a Selic pela primeira vez em mais de dois anos, para 10,75%; Campos Neto e diretores do BC indicam que podem acelerar o aperto nos juros
Dois meses após encerrar o ciclo de cortes nos juros, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) fez o oposto nesta quarta-feira (18) e deu início a um movimento de aperto na taxa Selic.
Em decisão unânime, Roberto Campos Netos, presidente do BC, e seus diretores elevaram os juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano.
Essa é a primeira vez que o Copom sobe a Selic em mais de dois anos — o último ajuste para cima foi em agosto de 2022. A alta ocorre a despeito da deflação registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, mas já era antecipada pelo mercado após a deterioração das projeções inflacionárias.
Vale relembrar que o Ministério da Fazenda atualizou na semana passada a estimativa para o IPCA em 2024, que passou para 4,25%, e para 3,4% em 2025. Já as projeções do Boletim Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4%, respectivamente
Os percentuais ficam acima do centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas ainda dentro da faixa de tolerância, e consideram, entre outros fatores, os impactos do câmbio mais depreciado nos preços e as tarifas de energia elétrica mais cara com a volta da bandeira vermelha.
Os “vilões” da inflação, na visão do Copom
No comunicado divulgado junto à decisão, o Copom avaliou que há uma “assimetria altista” no balanço do cenário inflacionário e listou três riscos principais:
- a desancoragem das expectativas por um período mais prolongado;
- uma resiliência maior do que a projetada na inflação de serviços;
- e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto nos preços por meio, por exemplo, de uma “taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”
O comitê também citou que há riscos de baixa para a inflação, mas apenas dois: uma desaceleração da economia global maior que a esperada e os impactos do aperto monetário sobre os preços. Portanto, para os dirigentes, o quadro atual demanda uma “política monetária mais contracionista”.
O tamanho do aperto na Selic
Com esse cenário já traçado desde antes da reunião do Copom, a elevação da Selic hoje não surpreende. A verdadeira dúvida do mercado estava na magnitude do aumento da taxa.
Enquanto boa parte dos analistas apostava em 0,25 ponto percentual, uma parte do mercado defendia um ajuste mais agressivo, de 0,5 ponto percentual.
Na visão de Felipe Guerra, sócio-fundador da Legacy Capital, por exemplo, se o BC adotar uma postura de subir gradualmente a Selic, a inflação vai “explodir” e pode passar dos 7%.
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Guerra afirma que subir os juros em um ritmo de 0,25 ponto percentual por reunião será como “enxugar gelo”. Assim, o ciclo de alta de juros pode se estender por até um ano e meio e levar a Selic de volta aos 13,50% ao ano.
No comunicado de hoje, o Copom não deu pistas sobre qual será o ritmo adotado nas próximas reuniões. Mas reiterou o “firme compromisso” com a convergência da inflação à meta e deixou a porta aberta para novos apertos e uma subida mais acelerada dos juros, se necessário.
Os dirigentes indicaram que a magnitude dos ajustes e do final do ciclo dependerá da evolução da dinâmica da inflação, “em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Fed iniciou ciclo de cortes nos EUA
Vale destacar que o início de um novo ciclo de alta da Selic no Brasil ocorre no mesmo dia em que os Estados Unidos cortaram os juros pela primeira vez em quatro anos.
O movimento de corte vinha sendo antecipado pelos participantes do mercado financeiro desde o fim do ano passado.
No entanto, pressões inflacionárias acompanhadas de um mercado de trabalho aquecido levaram o Federal Reserve, o BC dos EUA, a manter ao máximo as taxas nos níveis mais restritivos em mais de duas décadas.
Mas isso mudou hoje, quando o Fed anunciou mais cedo uma redução de 0,50 ponto porcentual na taxa de referência usada para conduzir a política monetária norte-americana.
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