Mercado financeiro

Copel informa venda de R$ 450 milhões em 13 pequenas usinas para Grupo Electra

A Companhia Paranaense de Energia Copel) informou nesta segunda-feira em fato relevante a venda de 11 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e centrais geradoras hidrelétricas (CGH), uma termelétrica e um parque eólico por R$ 450,5 milhões para o Grupo Electra. Segundo Diogo Mac Cord, vice-presidente de Estratégia, Novos Negócios e Transformação Digital da Copel, com a transação, a empresa concentrará esforços nas grandes usinas, que produzem em escala, e concluirá seu processo de descarbonização, já que havia vendido em julho a Companhia Paranaense de Gás (Compagas) e, em dezembro de 2023, a termelétrica a gás natural Araucária (Uega).

“Após a privatização, fizemos um plano de demissões voluntárias que teve a adesão de 25% do quadro total da companhia e trouxe benefícios em eficiência”, afirma Mac Cord. “A reorganização do portfólio permite que esse ganho operacional seja aproveitado mais rapidamente, com os profissionais atuando em ativos de maior porte.” A Copel começou o processo de venda das 13 unidades em maio, com a seleção de um grupo de potenciais investidores.

É a segunda maior operação envolvendo usinas de menor porte desde 2018. De acordo com Claudio Alves, presidente do Grupo Electra, a carteira em PCHs quase dobra agora, de 13 para 24, e a empresa passa a figurar entre as dez maiores do segmento – atualmente, a companhia está entre as cem primeiras do ranking. “É mais um passo para ampliar nossa participação de mercado”, comenta.

A maior parte do funding, 73%, veio da JiveMauá, por meio da emissão de debêntures da Electra a serem adquiridas pelos fundos de infraestrutura e de crédito da gestora. “Estamos trabalhando nessa operação há cinco meses”, explica Alves. A aquisição abrange um total de 118,7 megawatts, distribuídos em uma usina hidrelétrica com 36MW de potência instalada e o restante nos outros ativos, todos no Paraná.

Tanto os novos ativos hídricos adquiridos quanto os que já estavam na carteira do Grupo Electra, localizados em Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso, agora ficarão concentrados na recém-criada subsidiária Electra Hydra. A holding, fundada há 25 anos, inclui ainda o braço de comercializadora de energia e de usinas eólicas e solares centralizadas. De acordo com Alves, o movimento de venda de ativos de menor de produção das grandes companhias foi iniciado pela Cemig em 2022. Isso, afirma, “abre um leque de oportunidades para outros players focados em produção não centralizada.”

Segundo fontes de mercado, foram mais de 20 empresas interessadas, das quais oito enviaram propostas. O presidente da Electra explica que o grupo se diferenciou por apresentar recebíveis de PPAs (Power Purchase Agreements) – contratos de compra e venda de energia renovável de longo prazo, estabelecidos entre um consumidor e um desenvolvedor de energia – que serão alocados nas usinas.

“É um portfólio que nasce sem problemas de curtailment [interrupção na geração determinada pelo Operador Nacional de Energia Elétrica, que vem afetando fortemente o setor de fontes renováveis] e modulação de energia [ajuste do volume comprado de acordo com o preço e a hora do dia], e com produção contratada no longo prazo nos PPAs do Grupo Electra”, diz ele. A transação inclui também a obrigação de o grupo assumir uma dívida no valor de R$ 21,4 milhões com o BNDES. Cálculos de especialistas mostram que, com os recebíveis, o valor das unidades adquiridas pode chegar a R$ 1 bilhão.

Samer Serhan, sócio da área de crédito privado da JiveMauá, destaca que não bastava ter liquidez para comprar os ativos. Segundo ele, o recebível de longo prazo que a Electra tem por meio da comercializadora faz com que as PCHs tenham geração de caixa futura estável e previsível, motivo pelo qual a gestora entrou com os R$ 330 milhões na operação. De acordo com ele, já há interesse de outros investidores por R$ 130 milhões da emissão, mas Serhan ainda não decidiu se ficará com a totalidade dos papéis ou se distribuirá a mercado.

“Essa transação muda o patamar de atuação da JiveMauá”, diz o executivo. “Estamos obtendo sucesso grande de captação e desempenho dos fundos, e a perspectiva é continuar a entrar com valores maiores nessas operações fora do radar da maioria do mercado e nas quais temos nos destacado.” A gestora tem hoje R$ 19,1 bilhões sob gestão, sendo R$ 2,1 bilhões somente em crédito privado, incluindo infraestrutura. “Há espaço para mais crescimento em 2025”, conclui.

A termelétrica incluída no edital está paralisada e a eólica, segundo Alves, operacional mas usa uma tecnologia defasada, já que foi o primeiro parque do tipo do país. Neste caso, a empresa vai investir em novas máquinas e estudar se a unidade vai atuar no segmento de geração distribuída ou no mercado livre. A térmica, por sua vez, deve ser desativada. “Tomamos essa decisão tanto pela nossa filosofia de investimento em energias renováveis quanto pela escala da usina, que é bem pequena.”

A transação ainda precisa ser aprovada por Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Também Ministério de Minas e Energia, Ibama e Iphan precisam se manifestar. Os ativos estavam sob o guarda-chuva da GeT), subsidiária da empresa.

A oferta pública de ações da ex-estatal, em agosto do ano passado, movimentou R$ 5,2 bilhões e foi a primeira em bolsa desde a Eletrobras, em 2022, que chegou a R$ 34 bilhões. O governo do Paraná arrecadou R$ 3,1 bilhões e ficou com 15,9% da companhia, incluindo uma ação preferencial de classe especial com poder de veto, conhecida como golden share. A BNDESPar tem 22% e o restante está em circulação no mercado, parcela chamada de “free float”. A empresa está entre as maiores elétricas do Brasil. Atualmente, atende 4,5 milhões de unidades consumidoras em quase 400 municípios.

*Com informações do Valor Econômico

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