Consciência Negra e a relevância da pauta woke para a economia
Um dos bordões mais ouvidos nos últimos meses foi: “Que show da Xuxa é esse?”. Então, entrando na trend, neste mês da Consciência Negra, eu pergunto: “Que consciência é essa?” Quero abordar o enfraquecimento da pauta woke e propor reflexões sobre o seu significado para a economia.
Afinal, meu propósito é desmistificar a economia. Vem comigo?
O que significa o termo woke?
O termo woke surgiu como uma expressão de alerta para injustiças raciais e sociais. Ao longo dos anos, evoluiu para abranger um leque mais amplo de pautas, incluindo questões de gênero, orientação sexual e outras demandas de grupos que historicamente enfrentam desigualdades.
No entanto, a crítica à pauta woke como uma suposta guerra cultural acabou levando à sua perda de relevância e distorcendo muitos discursos, transformando-a em um tema polarizado.
É essencial destacar que o foco da pauta woke não é promover divisões entre grupos, como homens e mulheres, brancos e negros, heterossexuais e não-heterossexuais. Importante dizer isso no Mês da Consciência Negra. Sua essência está em promover a inclusão, encontrando um caminho para o desenvolvimento social e econômico em uma sociedade naturalmente diversa.
Representatividade no mercado financeiro e a consciência negra
Não há dúvida de que a representatividade é uma ferramenta poderosa para a construção de um ambiente inclusivo. Só assim todos podem se sentir pertencentes.
Quando uma pessoa vê alguém semelhante a ela ocupando um cargo de liderança, praticando algum esporte ou em campanhas de marketing, ela se sente inspirada a sonhar e alcançar objetivos.
O mercado financeiro, no entanto, ainda é frequentemente visto como um setor pouco acessível e inclusivo. A falta de representatividade entre diferentes grupos faz com que muitos brasileiros não se sintam motivados ou aptos a se engajar financeiramente. Isso limita seu potencial de investimento e crescimento patrimonial.
E isso é ruim para todos!
Dados da Anbima demonstram que apenas 37% dos brasileiros investem. A bolsa de valores brasileira, a B3, possui hoje cerca de 6 milhões de pessoas físicas investindo, o que corresponde a apenas 3% da população. Esse percentual é ínfimo se comparado a países como os Estados Unidos. Lá aproximadamente 56% das famílias possuem algum tipo de investimento em ações, ou a Austrália, onde cerca de 40% da população investe em renda variável.
Para que o mercado financeiro evolua, é necessário que mais pessoas sejam incluídas nele.
A falta de representatividade leva as pessoas a pensarem: “Isto não é para mim!”. E, se mais de 56% da população brasileira é composta por pessoas negras, mas não se vê representada no mercado financeiro, como esperar que essa maioria se sinta parte de um sistema que, de fato, depende dela para se fortalecer?
O impacto econômico da inclusão e representatividade
A inclusão financeira se tornou uma meta para muitas economias desenvolvidas. Quando se oferece acesso a crédito e oportunidades de investimento para todos os grupos sociais, o ciclo econômico se fortalece, pois mais pessoas têm condições de empreender, inovar e consumir.
No Brasil, o consumo da população negra representa cerca de 40% do total, sendo inclusive maior que o da classe A. Logo, falar em inclusão financeira é uma questão estratégica para o crescimento das instituições, do mercado financeiro e da economia.
Como isso ocorre?
Ao criar um ambiente de representatividade, ampliam-se as possibilidades de acesso a produtos financeiros, e o sistema ganha mais dinamismo. Afinal, investimentos e poupança são a base do desenvolvimento de qualquer nação. Eles promovem a geração de empregos, melhoram a renda e aumentam a qualidade de vida da população.
O Raio X do Investidor da Anbima revelou que apenas 29% dos brasileiros pretos e pardos investem em produtos financeiros, em comparação com 37% de pessoas brancas. Além disso, 63% dos negros no Brasil não guardam dinheiro de forma alguma.
Dados do Instituto Locomotiva mostram que 19% da população negra pertence à classe AB, 52% à classe C, e apenas 29% às classes D ou E, desmistificando o estereótipo de que pessoas negras estariam majoritariamente nas classes econômicas mais baixas.
Analisando estrategicamente esses dados, é possível perceber o quanto a representatividade poderia fomentar maior engajamento financeiro.
Em outras palavras, há um potencial econômico ainda inexplorado que, se mobilizado, poderia não apenas fortalecer o mercado financeiro, mas também impulsionar o crescimento econômico do país.
Woke: um convite à construção de uma sociedade equitativa e justa
Não existe guerra cultural entre identidades; a pauta woke é um chamado para que todos possamos refletir sobre a construção de uma sociedade mais justa. Ainda mais no Mês da Consciência Negra.
A representatividade no mercado financeiro é um pilar para a criação de um sistema forte e saudável que, ao incluir todos, se fortalece em sua totalidade. Assim, a pauta woke, longe de ser uma ameaça, é uma aliada poderosa para uma sociedade onde todos ganham: empresas, instituições financeiras, a economia e o cidadão brasileiro.
Vale lembrar, contudo, que para que a inclusão aconteça, é necessário despolarizar e combater a resistência que tende a deslegitimar a pauta woke como sendo uma guerra cultural.
Na realidade, ela representa um caminho para um futuro mais promissor, onde todos os indivíduos têm oportunidades de contribuir e crescer, independentemente de sua cor, gênero ou orientação.
Ratifico que “o futuro não chega do nada, ele dá sinais”, e esses sinais nos convidam a construir, no presente, um futuro mais inclusivo e igualitário, para que possamos alcançar um desenvolvimento social e econômico sustentável.
Até a próxima coluna!