Com alta de mais de 38%, bitcoin domina o ranking de maiores investimentos do mês; dólar dispara e aparece no pódio
Em forte alta desde o início do mês, o bitcoin (BTC) não deixou espaço para mais ninguém na corrida pelo título de melhor investimento de novembro. Impulsionada principalmente pela vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, a criptomoeda saltou 41,5% no período.
Ao longo de novembro, o BTC renovou sucessivas marcas históricas e chegou a encostar no inédito patamar dos US$ 100 mil. No ano, a alta acumulada é de três dígitos, ultrapassando os 183%.
Completam o pódio dos melhores investimentos uma dupla de dólar. Em meio ao estresse do mercado com o cenário fiscal brasileiro, o dólar à vista aparece na segunda colocação com alta de 3,81%, enquanto o PTAX — que é a taxa de câmbio de referência para a moeda norte-americana no Brasil — subiu 3,63%.
Outro destaque do mês, que também ficou marcado pela continuidade do ciclo de alta dos juros, foi a renda fixa. O Tesouro Selic, o CDI, o Índice de Debêntures da Anbima e a poupança foram os únicos outros ativos além das moedas a registrarem uma variação positiva em novembro.
Os principais produtos da renda variável, por outro lado, terminaram o período no vermelho. O IFIX, índice que reúne os maiores fundos imobiliários da bolsa brasileira, caiu 2,11%, em uma das piores performances da carteira do ano.
O Ibovespa, por sua vez, recuou 3,12%, com as ações de construtoras, varejistas e outros segmentos ligados ao consumo puxando a fila das perdas.
As últimas posições do ranking ficaram com os títulos públicos prefixados e atrelados à inflação. Vale relembrar que os preços desses ativos sofrem os efeitos da chamada marcação a mercado e possuem uma correlação inversa com os juros — ou seja, caem quando a Selic sobe, e vice-versa.
O Tesouro Prefixado com juros semestrais e vencimento em 2035 caiu 6,15%, enquanto o prefixado sem juros e com vencimento em 2031 cedeu 6,55%. A maior queda de novembro foi registrada pelo Tesouro IPCA+ 2045, que recuou 6,75% no mês e tomba 18,2% no ano.
Veja a seguir o ranking dos melhores e piores investimentos do mês:
Investimento | Rentabilidade no mês | Rentabilidade no ano |
Bitcoin | 38,86% | 183,36% |
Dólar à vista | 3,81% | 23,65% |
Dólar PTAX | 3,63% | 23,68% |
Tesouro Selic 2029 | 0,91% | 10,25% |
Tesouro Selic 2027 | 0,90% | 10,21% |
CDI* | 0,83% | 9,81% |
Índice de Debêntures Anbima Geral (IDA – Geral)* | 0,82% | 12,54% |
Poupança nova** | 0,57% | 6,41% |
Poupança antiga** | 0,57% | 6,41% |
Ouro (GOLD11) | 0,00% | 57,56% |
Tesouro Prefixado 2027 | -2,03% | – |
Tesouro IPCA+ 2029 | -2,06% | -0,61% |
IFIX | -2,11% | -5,26% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2035 | -3,03% | -4,44% |
Ibovespa | -3,12% | -6,35% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2040 | -3,96% | -6,40% |
Tesouro IPCA+ 2035 | -4,15% | -9,06% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055 | -4,99% | -10,91% |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2035 | -6,16% | – |
Tesouro Prefixado 2031 | -6,55% | – |
Tesouro IPCA+ 2045 | -6,75% | -18,20% |
(*) Até dia 30/10. (**) Poupança com aniversário no dia 28.
Todos os desempenhos estão cotados em real. A rentabilidade dos títulos públicos considera o preço de compra na manhã da data inicial e o preço de venda na manhã da data final, conforme cálculo do Tesouro Direto.
Fontes: Banco Central, Anbima, Tesouro Direto, Broadcast e Coinbase, Inc.
Trump lá e Haddad aqui: o que fez o bitcoin e o dólar irem às alturas?
O cenário político foi um dos fatores que mais pesou para o bom desempenho do bitcoin e do dólar em novembro, mas por motivos distintos.
Do lado das criptos, a notícia de que Trump voltará à Casa Branca, confirmada ainda no início do mês, teve impacto amplamente positivo nos preços e também impulsionou ações correlatas. O movimento ficou conhecido como “Trump Trade”, pois o republicano é visto como um defensor do segmento.
Trump é famoso por fazer diversos acenos para o setor de ativos digitais, como lançar uma coleção de figurinhas digitais no formato de NFTs em dezembro de 2022. A relação do republicano com o universo cripto se fortaleceu nos últimos meses da campanha presidencial, o que angariou o apoio de personalidades desse universo.
Entre as promessas do futuro ocupante da Casa Branca para esse segmento, estão a indicação de um novo chefe para a SEC, a CVM dos EUA, e a criação de um estoque estratégico nacional de bitcoin do governo norte-americano.
Já no caso do dólar, a depreciação do real também está ligada a uma promessa de campanha, mais especificamente ao compromisso do presidente Lula de aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
Lula exigiu que a medida fosse divulgada junto ao aguardado pacote de gastos do governo, antecipado ao longo do mês e cujo objetivo era justamente melhorar a percepção das contas públicas. Mas o acompanhante inesperado — e indesejado pelo potencial impacto na arrecadação — causou o efeito contrário e levou o risco fiscal às alturas.
Na visão do mercado, o governo optou por priorizar medidas que aumentam os gastos, em vez de apresentar cortes significativos de despesas. Com o aumento da pressão cambial, o dólar ultrapassou a marca psicológica dos R$ 6 e renovou os maiores patamares de fechamento da história nos últimos dias.
Cenário doméstico conturbado pesou sobre a renda variável
O desastrado anúncio do pacote de corte de gastos também pesou sobre os ativos de risco. O Ibovespa já vinha sendo penalizado pela demora do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da equipe econômica em liberar as medidas para o público — e as perdas só se intensificaram após a divulgação.
Isso porque a ameaça à arrecadação cria a expectativa de que o Banco Central talvez tenha de acelerar ainda mais o ciclo de alta dos juros para compensar o fiscal, o que eleva os juros futuros em todas as pontas.
Vale relembrar que a alta dos juros de mercado tende a pesar principalmente sobre as ações de setores ligados ao consumo e, consequentemente, ao crédito — que encarece em momentos de aperto monetário.
Confira abaixo os piores desempenhos do Ibovespa em outubro:
Empresa | Código | Desempenho |
MRV | MRVE3 | -23,70% |
Hapvida | HAPV3 | -23,30% |
Lojas Renner | LREN3 | -18,90% |
Cyrela | CYRE3 | -15,36% |
CSN Mineração | CMIN3 | -14,98% |
Braskem | BRKM5 | -14,58% |
Carrefour Brasil | CRFB3 | -14,55% |
Ultrapar | UGPA3 | -14,12% |
Cosan | CSAN3 | -13,79% |
Azul | AZUL4 | -13,20% |
Veja também as maiores altas entre as ações que compõem a carteira do principal índice da B3:
Empresa | Código | Desempenho |
Embraer | EMBR3 | 19,91% |
Marfrig | MRFG3 | 19,63% |
Brava | BRAV3 | 17,08% |
CVC Brasil | CVCB3 | 17,07% |
Metalúrgica Gerdau | GOAU3 | 12,92% |
Gerdau | GGBR4 | 12,62% |
Petrobras | PETR3 | 9,11% |
Petrobras | PETR4 | 8,33% |
Klabin | KLBN11 | 8,29% |
JBS | JBSS3 | 6,63% |
O cenário também não é favorável para os fundos imobiliários, pois as construções são altamente dependentes de crédito e taxas elevadas encarecem os financiamentos.
No caso da renda fixa, apesar de aumentar a atratividade da classe — especialmente dos títulos pós-fixados e os atrelados à Selic e ao CDI —, os juros maiores elevam as taxas pagas pelos títulos públicos prefixados e indexados à inflação, o que diminuiu os preços no mercado.