Ciclos e ciclos na região
A pandemia foi um choque muito forte, que atingiu todo o mundo praticamente ao mesmo momento. As respostas de política econômica ao choque também tiveram muitos elementos comuns, notadamente boas doses de estímulo fiscal e monetário.
Ao mesmo tempo, a pandemia ocasionou gargalos de oferta de bens. A combinação de aumento de demanda e restrição de oferta gerou um surto inflacionário global. As autoridades monetárias da região reagiram como se espera em países que praticam o regime de metas para inflação, com processos em geral tempestivos, sincronizados e agressivos de ajuste monetário.
Sincronia da política monetária
Com o passar do tempo, a sincronia da política monetária naturalmente vai diminuir, ainda que a maioria dos países da região siga com viés de distensão.
A perspectiva de divergência das políticas monetárias decorre de fatores como diferenças quanto ao estágio do ciclo econômico, posturas de política fiscal e sensibilidade em relação às decisões do Fed.
Nesse contexto, os economistas do Itaú Unibanco avaliam que a taxa de juros deve seguir em queda, até o final do ano, no Chile, Colômbia, México e Peru, ainda que em ritmos distintos – em contraste com o caso brasileiro. Isso considerando que o Fed reduza a taxa de juros em três oportunidades até dezembro, no ritmo de 25 pb.
Chile
No Chile, a expectativa é que o Banco Central continue reduzindo a taxa, mas em magnitude muito inferior ao que foi feito no ano passado, incluindo pausas entre as reuniões.
Esperamos que a taxa caia em setembro até 25 pb. No entanto, com dados de atividade mais fracos do que o esperado e um comportamento mais benigno da taxa de câmbio, é plausível que o Banco Central continue a reduzir a taxa de política monetária este ano.
Colômbia
Já na Colômbia, a expectativa é que as autoridades se sintam encorajadas a acelerar o ritmo de flexibilização monetária nas reuniões finais do ano, de 50 bps em setembro para 75 bps em outubro e dezembro.
México
O Banco Central do México, por sua vez, deve ser mais cauteloso, tendo em vista o comportamento recente da inflação, e continuar o processo ao ritmo de 25 bps, a despeito da flexibilização nos EUA, tendo em vista a relativa fraqueza do peso – que, por sua vez, deriva de um aumento da percepção de risco país.
Peru
Nesse grupo de países, certamente a economia peruana é a mais dolarizada (cerca de 25% do crédito total em dólares), mas o Banco Central do país não deve acompanhar pari passu o Fed, pois já se antecipou em boa medida, e esperam-se apenas duas reduções adicionais, para 5,0% ao final do ano.
Taxas no fim do ano
Com esses movimentos, as taxas de política monetária devem terminar o ano em 5,5%, 8,75%, 10,0% e 5%, no Chile, Colômbia, México e Peru, respectivamente.
Levando em conta as respectivas expectativas de inflação e estimativas de taxas neutras de juros, a política monetária ainda deve se encontrar em território bastante restritivo na Colômbia e no México no final do ano, ao passo que mais próxima da neutralidade no Chile e no Peru.
Nos primeiros haveria, portanto, consideravelmente mais espaço para flexibilização monetária adicional em 2025.
A divergência tende a se acentuar.