Campos Neto errou? Presidente do BC responde sobre condução da taxa de juros após relatório de inflação
O recente início de um ciclo de alta de juros com a taxa Selic em níveis já bastante restritivos tem alimentado questionamentos sobre se Roberto Campos Neto e os demais diretores do Banco Central (BC) teriam ido longe demais nos cortes promovidos durante o ciclo monetário anterior, de alívio.
Entre agosto do ano passado e o meio de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC cortou a Selic de 13,75% para 10,50% ao ano. O nível foi mantido até a quarta-feira da semana passada, quando o Copom subiu os juros pela primeira vez em dois anos, para 10,75% ao ano.
Feito o corte, bastou um resultado de IPCA-15 aquém das expectativas para reforçar os argumentos de quem considerava que o Copom simplesmente deveria ter mantido a Selic tal qual estava desde maio.
Hoje, durante a entrevista coletiva concedida após a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), Campos Neto acabou questionado sobre possíveis erros cometidos durante a condução da política monetária no passado recente.
O presidente do Banco Central respondeu de maneira hipotética, mas falou sobre os dois tipos de erros que podem ser começados por uma autoridade monetária ao se iniciar um ciclo.
“O primeiro tipo de erro é não fazer o suficiente e voltar a ter que fazer naquele ciclo”, disse Campos Neto.
“O outro erro é você fazer um pouquinho a mais e depois ter que fazer um ajuste com menor custo”, declarou.
Para Campos Neto, porém, o estágio de desenvolvimento econômico do país importa.
De acordo com ele, quando um país emergente interrompe um ciclo monetário para retomá-lo depois, o custo costuma ser muito elevado em termos de credibilidade.
“É muito raro você ver um país emergente pausar e recomeçar um ciclo na mesma direção”, disse Campos Neto. “No mundo desenvolvido isso já não é tão verdade.”
De qualquer modo, Campos Neto não considera que o BC esteja corrigindo erros do passado.
“Em algum momento a gente pode estar corrigindo alguma coisa que fez no passado, mas não considera que é um erro”, disse ele.
“A gente considera que, naquele momento, com as informações que a gente tinha naquele instante, com a visibilidade que a gente tinha, era o curso a ser seguido.”
Ainda nas palavras de Campos Neto, o BC busca ser o mais transparente possível e age com o objetivo de fazer a inflação convergir para a meta com o menor custo possível para a sociedade.
Próximos passos
Em relação à reunião de novembro, sua última à frente do BC, Campos Neto repetiu que o Copom está dependente de dados para calibrar o ciclo de aumento da taxa Selic e que não vai fornecer um guidance sobre os próximos passos.
“As opções estão abertas”, afirmou.