BTG vê inflação estourando a meta e Selic acelerando
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O BTG Pactual elevou suas projeções para inflação para 2024, citando pressões em alimentos, mercado de trabalho aquecido e câmbio depreciado. O banco agora também vê o IPCA fechar 2025 acima do teto da meta.
A projeção para 2024 passou de 4,8% para 5,0% e a expectativa para 2025, de 4,2% para 4,8%.
“Existem diversos riscos altistas para a inflação de curto e médio prazo e esses vêm se tornando mais proeminentes. O preço do boi gordo segue em alta, impulsionado por restrições na oferta de boi para abate em meio a demanda aquecida, e já se aproxima da máxima histórica, com indicadores coincidentes da inflação de carne bovina indicando um repasse forte para preços ao consumidor. Esperamos que pressões inflacionárias associadas à alta do boi persistam em 2025. Adicionalmente, a aceleração da inflação acumulada em 12 meses (tanto para o IPCA quanto para o IGP-M) deve pressionar a inflação de segmentos com alto grau de indexação, como os aluguéis residenciais”, escreve o economista Bruno Balassiano.
Cenário pior para inflação
Para 2025, contribui a maior inércia inflacionária, bem como os efeitos do repasse cambial e de preços de commodities metálicas e agropecuárias mais altos.
“Destacamos que a alta das expectativas de inflação não teve uma contribuição relevante para a revisão dado que o aumento das medianas do Focus segue modesta. No entanto, esperamos uma intensificação desse movimento de alta ao longo das próximas semanas e meses, o que deve pressionar nossas projeções de inflação”, acrescenta.
Crescimento do PIB
Houve revisão também no cenário de atividade. Mesmo com um impulso fiscal menor no terceiro trimestre, a economia mostrou sinais de resiliência, impulsionada pela expansão do crédito às famílias. Este cenário deve significar uma desaceleração menos abrupta da atividade, avalia o BTG Pactual em sua revisão de cenário.
O banco revisou de 0,7% para 0,8% a projeção para o PIB do terceiro trimestre, na comparação trimestral, após alta de 1,4% no segundo. Para 2024, a estimativa foi ajustada de 3,1% para 3,2%, com viés de alta.
Apesar do bom momento no curto prazo, a perspectiva para 2025 ficou mais adversa. Com a expectativa de juros mais altos para domar a inflação e também menor renda disponível para as famílias, o banco reviu de 1,9% para 1,6% a projeção para o PIB em 2025.
“Apesar da resiliência no curto prazo, entendemos que o cenário para a atividade econômica é cada vez mais desafiador devido ao baixo grau de ociosidade da economia, baixo nível de investimentos, forte deterioração das condições financeiras e elevação das expectativas de inflação. Nesse cenário, estímulos fiscais e creditícios tendem a produzir efeitos cada vez menores sobre o crescimento econômico e maiores sobre a inflação”, afirma o economista Bruno Martins.
Ciclo de alta da Selic maior
O BTG Pactual elevou também as suas projeções para a taxa Selic no fim de 2024 e de 2025, bem como o patamar dos juros básicos no final do atual ciclo de aperto monetário do Banco Central. No relatório, o economista-chefe para Brasil do banco, Claudio Ferraz, diz esperar uma nova aceleração do ritmo de alta de juros, para 0,75 ponto percentual, nas reuniões de dezembro e janeiro do Copom, antes de uma alta final de 0,5 ponto em março, levando a Selic ao patamar de 13,25%.
Ainda que o Copom tenha expressado “alguma predileção” por manter o ritmo de elevação da Selic em 0,5 ponto percentual por reunião, “julgamos que a deterioração que antevemos da inflação corrente e para 2025 e 2026, com sinais de que o processo de desancoragem das expectativas está se acentuando, em meio a um quadro de atividade resiliente, o BC precisará reavaliar seu ciclo de aperto monetário e acelerar o ritmo”, escreve Ferraz.
Em meio à deterioração das expectativas de inflação e a resiliência da atividade econômica, bem como a possibilidade da adoção de uma política fiscal menos expansionista, o Copom deve se manter aberto a diferentes ritmos de alta de juros por ora. “O Copom deve manter uma postura flexível para ajustar o ritmo conforme necessário, de modo a garantir a convergência da inflação e ajudar a preservar a estabilidade econômica no longo prazo”, diz o economista.
Com informações do Valor Econômico