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Bonds perpétuos: vale a pena investir?

Você já ouviu falar em bonds perpétuos? Estamos falando de um tipo especial de bond que não possui uma data de vencimento predeterminada, ou seja, o seu vencimento, na teoria, é perpétuo. Esses títulos são considerados mais arriscados e geralmente oferecem taxas de juros mais altas.

Mas será que vale a pena arriscar e acrescentar um bond perpétuo à sua carteira? Confira os que dizem os especialistas consultados pela Inteligência Financeira.

O que são bons perpétuos?

Bonds são títulos de dívida emitidos pelo governo ou empresas privadas, que captam dinheiro no mercado para financiar projetos, atividades ou até refinanciar dívidas. Esses papéis funcionam como um contrato de empréstimo, no qual o emissor se compromete a pagar juros ao investidor em uma data futura – que pode ser de alguns meses ou de décadas.

Portanto, bonds são títulos de dívida e representam a forma mais comum para o investidor ter papéis de renda fixa nos EUA.

Já os bonds perpétuos, também conhecidos como títulos perpétuos ou perpetual bonds, são um tipo especial de título de dívida que, ao contrário dos bonds tradicionais, não têm uma data fixa de vencimento.

“Isso significa que o emissor do bond nunca é obrigado a devolver o valor principal ao investidor. Em vez disso, o investidor recebe pagamentos de juros, chamados de ‘coupons’, regularmente, teoricamente para sempre”, explica Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez.

Júlia Wazlawick, especialista em investimentos na W1, reforça que o investidor que compra bonds perpétuos não recebe o valor principal de volta em um momento específico. “É como você emprestar dinheiro para uma empresa. Em troca, você recebe os juros continuadamente, mas sem a promessa de que o dinheiro emprestado vai ser devolvido”, compara Júlia.

Vencimento “perpétuo”

Mas, afinal, o que significa ter “vencimento perpétuo”? Nesse caso, o investidor continua recebendo os juros indefinidamente, desde que o emissor do bond continue honrando esses pagamentos. “Seria similar à compra de uma ação que paga dividendos frequentes”, compara o especialista da BGC Liquidez.

Apesar do “perpétuo” no nome, Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank, lembra que existe o “call date” pelo emissor desse tipo de bond. “Em resumo, essa data de recompra, prevista no momento da emissão, permite que o emissor compre os títulos antes do prazo à que medida que tenha sido cumprido o objetivo do bond ou mesmo mudaram as condições de mercado”, pontua a especialista.

Além disso, a planejadora financeira salienta que o resgate do bond perpétuo pode ocorrer no mercado secundário. “Só que, nessa venda, o investidor vai ficar sempre sujeito ao ágio ou deságio do preço, ou seja, à marcação a mercado do título. Então, é super importante que ele faça essa saída de forma estratégica. Para isso, o investidor não pode ter pressa e de fato ter um planejamento de longo prazo para não sair com prejuízo”, ressalta ela.

Afinal, devo investir em bonds perpétuos?

Os bonds perpétuos, explica Daniel Leal, são mais adequados para investidores que buscam uma renda constante e previsível ao longo do tempo, sem a necessidade de reaver o valor principal investido.

“Esses investidores geralmente são aqueles que estão mais interessados em obter um fluxo de caixa regular e têm uma maior tolerância ao risco, como pessoas que vivem de renda passiva ou fundos de pensão”, afirma o especialista em renda fixa.

Na avaliação de Larissa, do C6 Bank, os bonds perpétuos são para investidores que miram o longo prazo e desejam manter uma taxa de juros atrativa alta, como a que vigora atualmente nos Estados Unidos, por bastante tempo.

Riscos dos bonds perpétuos

Os bonds perpétuos são indicados para pessoas que buscam uma fonte constante de renda e estão tão dispostas a assumir um risco maior, de acordo com Júlia Wazlawick.

“Isso porque normalmente esses bonds oferecem juros mais altos. Mas isso não vem de graça. É bem importante estar ciente dos riscos. Então, por exemplo, se a empresa que emitir o bond tiver problemas financeiros, ela pode parar de pagar os juros. E, se a taxa de juros do mercado subir, o valor do bond pode cair. Assim, caso você precise vendê-lo, há chances de não conseguir recuperar o valor investido. Fora todo o problema de liquidez, porque não são títulos muito comuns”, diz a especialista.

Larissa Frias salienta que o riscos dos bonds perpétuos estão atrelados a essa falta de determinação de prazo. Assim, lembra ela, o investidor fica sujeito a carregar esse bond por prazo indeterminado a menos que o emissor decida comprar aquele título nas datas específicas.

Os principais riscos dos bons perpétuos são os seguintes, de acordo com Leal:

  • Risco de crédito: se a empresa ou governo que emitiu o bond passar por dificuldades financeiras, ela pode deixar de pagar os juros ou até mesmo falir, o que resultaria na perda do investimento.
  • Risco de taxa de juros: se as taxas de juros de mercado subirem, o valor do bond perpétuo pode cair, já que os investidores poderiam preferir bonds novos que pagam juros mais altos. Como o bond perpétuo não tem data de vencimento, o investidor fica exposto a essa variação por tempo indefinido.
  • Risco de inflação: como o pagamento dos juros é fixo, se a inflação subir, o valor real (poder de compra) dos pagamentos de juros diminui ao longo do tempo.

Bonds perpétuos: exemplos de sucesso e fracasso

Confira abaixo exemplos de bonds perpétuos que tiveram sucesso ou que fracassaram:

“Deu ruim”

Banco Santander em 2009

Um exemplo conhecido de bond perpétuo foi o emitido pela Banco Santander em 2009, após a crise financeira. “Este bond pagava uma taxa de juros inicial bastante atrativa, mas, com o tempo, o valor de mercado dele caiu significativamente, à medida que as condições econômicas mudaram e as taxas de juros subiram”, afirma Daniel Leal. Assim, muitas pessoas que compraram esse bond na emissão viram o valor de seus investimentos diminuir substancialmente, lembra o especialista.

Naquele ano, o banco teve sérios problemas financeiros e foi vendido para o Santander pelo valor de um euro. A instituição havia emitido um tipo específico de bonds perpétuos, os CoCo bonds, que são títulos contingentes convertíveis.

“Esses títulos podem ser convertidos em ações da empresa emissora ou então sofrer um corte no valor nominal se ocorrer alguns eventos gatilho. Esses gatilhos geralmente estão relacionados à situação financeira da empresa. Então, em caso de falência ou liquidação da companhia, os detentores de bonds perpétuos têm uma prioridade de pagamento inferior à de outros criadores. Nesse caso específico, os investidores desses títulos perderam todo o dinheiro que haviam investido”, afirma Júlia Wazlawick.

“Deu bom”

Por outro lado, há exemplos históricos de bonds perpétuos que se mantiveram sólidos ao longo de décadas. “Um caso famoso é o Consol bond emitido pelo governo britânico, que pagou juros regulares por mais de 100 anos. Esses bonds foram um bom negócio para investidores que buscavam segurança e rendimento fixo, especialmente em tempos de incerteza”, recorda o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez.

E no Brasil?

Tanto Banco do Brasil quanto Itaú têm títulos perpétuos em dólares para requerimento de capital. O resultado vai depender de quando teria sido a aquisição desses títulos, afirma o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez.

“Caso tivesse comprado o perpétuo do Banco do Brasil há um ano e vendido agora, o investidor teria tido um ganho de aproximadamente 27% em dólar. Esses exemplos mostram como os resultados dos bonds perpétuos podem variar bastante, dependendo de fatores como a situação econômica e a saúde financeira do emissor”, destaca Leal.

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