Banco Central subiu Selic e ‘tirou coelho da cartola’, diz banco
O Banco Central tomou uma decisão considerada inteligente na noite de quarta-feira (11), quando optou por elevar a Selic em 1 ponto percentual, a 12,25% ao ano, e “tirou um coelho da cartola” ao reassegurar o mercado com uma direção mais clara sobre o ciclo de juros a seguir. A avaliação é do economista de Brasil do Bank of America, David Beker.
Beker afirma que o quadro adiante é negativo para a renda variável no Brasil, contudo, porque o cenário para a economia brasileira promete ser “mais difícil” no próximo ano, com desaceleração da economia. “A economia terá de encontrar um equilíbrio tênue entre desaceleração sem entrar em recessão.”
Beker afirma que a decisão do Banco Central de subir a Selic ontem deve aliviar os prêmios do mercado sobre a inflação prevista para 2025 e 2026. A reancoragem da expectativa de preços na economia, porém, não deve ser “imediata”, de acordo com o economista.
Nesse sentido, o dólar também não deve cair de imediato, afirma Beker, porque hoje o que mais pesa contra a valorização do câmbio “depende de fatores do cenário internacional”.
Entre eles, está a previsão de novas tarifas comerciais dos Estados Unidos assim que o presidente eleito Donald Trump assumir o cargo em 20 de janeiro.
“Temos que navegar com equilíbrio. A economia desacelera pelas altas da Selic via Banco Central, mas não pode haver uma recessão. Esse novo ritmo faz com que possamos ter uma desaceleração nas expectativas de inflação”, diz Beker.
“Mas conseguir esse equilíbrio tênue não é trivial”, acrescenta. O BofA prevê que o PIB do Brasil em 2025 termine em 2%, ante a expansão de 3% prevista para 2024.
Decisão do Copom ‘foi excelente’, diz economista do BofA
Para ele, foi “excelente” a elevação da Selic pelo Banco Central em 1 ponto – além da sinalização de mais duas altas de mesma magnitude. O BC conseguiu se comprometer com uma visão razoável entre a parcela do mercado que esperava uma postura mais firme, e também com os agentes que julgavam não ser necessária uma alta de 1 ponto, e sim de 0,75 ponto.
“Retomar o guidance foi muito inteligente da parte do BC, nesse sentido”, continua o economista do Bank of America. O banco pretende atualizar ainda suas projeções para a Selic terminal em 2025, que agora está em 13,50%.
“O risco neste momento é para mais (alta nos juros).”
Outra forma de interpretar a decisão sobre a Selic é de que o Banco Central minimiza ruídos de transição. Em 2025, o atual diretor de política monetária e presidente indicado por Lula, Gabriel Galípolo, assume o cargo hoje ocupado por Roberto Campos Neto.
Ao tirar a lupa do Brasil e analisar o continente, Beker afirma que os investidores internacionais estão neste momento mais animados com o que se passa no país vizinho.
O banco explica que a volta da Argentina ao MSCI Emerging Markets Index, da BlackRock, é possível a depender do crescimento da economia em dois anos. Mas, no máximo, o retorno do país ao principal índice de mercados emergentes do mundo deve ocorrer no segundo semestre de 2026, prevê Beker.
“O preço dos ativos da Argentina já é outro. Estamos mantendo uma visão construtiva para todos os ativos do país.”
O prêmio de risco da Argentina caiu para investidores. Isso significa uma valorização de bonds argentinos, assim como do valor de renda variável listada na bolsa local, no índice S&P Merval.
“Mas hoje o fluxo de investidores não pode mudar, porque quem tem mandato para investir em emergentes não pode mudar muito de benchmark“, diz Beker ao reforçar que a volta da Argentina ao MSCI pode levar à entrada de capital.
A previsão do Bank of America para o PIB da Argentina neste ano é de queda de 3%. No entanto, para 2025, deve haver uma reversão para alta próxima de 4%.
Sobre a decisão Milei de cortar 90% dos impostos na Argentina, Beker afirma que a direção “de tirar o peso do Estado sobre a economia” é bem-visto pelo mercado.