Ações do Ibovespa que ganham e perdem no atual momento
Algumas ações do Ibovespa desidrataram em 2024. A inflação, os juros e a saúde fiscal do país ajudam a explicar essa queda. Assim, quais ativos podem sofrer mais agora com a perspectiva de altas de juros e inflação? Tem algum papel que se beneficia disso? E quais empresas podem se favorecer do pacote de corte de gastos?
A Inteligência Financeira buscou especialistas para responder a essas perguntas. E esse cenário apresenta alguns setores campeões em meio ao cenário pessimista. Vale antecipar que seguradoras, bancos e empresas de energia podem ser bons ativos de proteção.
Ações do Ibovespa que prometem: bancos e seguradoras
Assim, apostar em IRB (IRBR3), Caixa Seguridade (CXSE3) e BB Seguridade (BBS3) no setor de seguros pode ser uma boa alternativa para o investidor. Além disso, bancões, como Itaú Unibanco, BTG, Bradesco, Santander e Banco do Brasil devem seguir sustentando bons resultados.
“As ações de banco tendem a ganhar com o cenário atual. Se os juros estão altos, a inflação está elevada no momento, por isso que ele (setor de bancos) também está subindo. Então, são as ações que capturam isso e pagam um bom dividend yield”, explica Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank.
Marcos Duarte, analista da Nova Futura Investimentos, destaca neste cenário o BTG (BPAC11) entre os serviços de investimento. Além disso, o Itaú (ITUB4) é uma boa opção no varejo, segundo o analista.
“Em geral, a taxa de juros em alta permite aumentar também os juros na cobrança de empréstimos e outros serviços. Então, como o dinheiro é uma mercadoria para os bancos, essa mercadoria fica mais cara com os juros altos”. A avaliação é de Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais.
Já no caso das seguradoras, “elas recebem os prêmios pagos pelos clientes e durante o período do seguro são obrigadas a reinvestir (a maior parte) em investimentos conservadores”, detalha Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos.
Inflação no mundo pode impulsionar ações do Ibovespa
Se os preços também enveredarem por um caminho de altas, algumas das principais ações da bolsa podem se beneficiar.
“Empresas de commodities, como as do setor de mineração e de alimentos, costumam se valorizar com a inflação elevada, já que os preços dos produtos que vendem tendem a acompanhar o aumento geral de preços”, diz Duarte.
“Vale (VALE3), no setor de mineração, é um bom exemplo, assim como Petrobras (PETR4), cujos preços de venda são atrelados ao mercado internacional. Além disso, empresas do setor de alimentos, como BRF (BRFS3), que podem repassar parte da inflação ao consumidor, também se beneficiam”, acrescenta.
Nesse sentido, Villegas destaca o segmento de transmissão, que “tem maior poder de barganha, com contratos de longo prazo corrigidos pela inflação”.
Setores de consumo discricionário e varejo, como Magazine Luiza (MGLU3), Lojas Renner (LREN3) e C&A (CEAB3), tendem a sofrer em cenários de juros e inflação altos. “Isso porque uma inflação alta reduz o poder de compra dos consumidores e encarece o crédito, na prática as pessoas pensam mais antes de gastar”, diz Duarte.
O setor imobiliário também é impactado, já que o custo de financiamento aumenta e a procura por novos imóveis tende a cair.” Empresas como Cury (Cury3), EzTec (EZTC3) e Cyrela (CYRE3) podem enfrentar problemas para manter o caixa em ordem”, destaca o analista da Nova Futura.
Contudo, nesse setor ele diz que a inflação tem particularidades a depender do segmento de cada construtora ou incorporadora. A EzTec, por exemplo, trabalha com imóveis de alta renda e pode estar mais protegida porque a inflação tende a afetar menos as pessoas com mais dinheiro.
Além disso, a inflação pode impactar revendedoras, como Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3), que dependem de financiamentos para consumidores e renovação de frota. “E enfrentam retração de vendas e custos mais elevados para financiamentos e aluguéis de veículos”, explica Duarte.
Elétricas protegem contra a inflação
Não dá para dizer que as empresas de energia elétrica se beneficiam da inflação. Contudo, respondem melhor ao aumento de preços. “Isso porque conseguem repassar esse custo para o consumidor, o que impacta diretamente no aumento de receitas delas”, explica Alves.
Além das elétricas, também as companhias de saneamento básico, telefonia e algumas empresas de luxo também podem ter desempenho melhor que a maioria em caso de pressão inflacionária.
E sobre o corte de gastos? Como ele afeta a bolsa?
Alguns analistas destacam que o impacto do corte de gastos sobre as empresas vai depender de como ele será estruturado. Um pacote que não agrade o mercado pode significar novas perdas.
Por outro lado, se o pacote for como o esperado ou perto disso, algumas empresas em particular serão beneficiadas.
Segundo Villegas, companhias ligadas com a economia doméstica, empresas de menor capitalização (small caps) – que precisam se capitalizar a custo maior – e as alavancadas devem ser as mais beneficiadas.
Assim, essas empresas geralmente estão nos setores de consumo (do varejo aos serviços de locação, turismo e viagem) podem ser especialmente impactadas.
“Então, ainda que não se tenha uma mudança imediata, a melhora de perspectiva pode reduzir os juros futuros, a pressão sobre o dólar. Assim, trazer uma expectativa de melhora no geral para a bolsa, em especial para as ações que hoje sofrem com o crédito mais caro”, detalha Alves.