A live do adeus: Campos Neto diz que o mundo terá que aprender a conviver com juros altos, fala da autonomia do BC e do processo de transição
No apagar das luzes de seu mandato à frente do Banco Central, Roberto Campos Neto fez nesta sexta-feira (20) uma live de despedida e mandou um recado: o mundo vai ter que aprender a conviver com juros altos por mais tempo.
Segundo RCN, o processo de desinflação ao redor do mundo não ocorreu a contento e lembrou que a política fiscal foi o centro de 80% das discussões em fóruns globais.
“O fiscal não é só um problema do Brasil, é um problema global”, disse ele, acrescentando que o crescimento da dívida global como um dos principais desafios para o mundo.
Os juros no Brasil
Campos Neto deixou o comando do BC no dia 31 de dezembro. Ele será substituído pelo atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo.
Quando assumiu a chefia do órgão, em 2019, a Selic estava em 6,5% ao ano — a taxa chegou a mínima histórica de 2% em 2020, e depois voltou a subir.
Campos Neto entrega o BC com juros de 12,25% ao ano — na última decisão, o Copom elevou a Selic em 1 ponto percentual e contratou mais dois aumentos do mesmo calibre até março de 2025.
Sobre sua passagem pelo BC, Campos Neto disse hoje: “Eu não posso dizer que os últimos seis anos foram calmos. Na verdade, eu acho que, se pensarmos todos os tipos de problemas que poderiam ter dado, eu sempre digo que estamos com um álbum de figurinha completo”.
Campos Neto lembrou ainda que foi o primeiro membro do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a alertar sobre os impactos da pandemia na economia.
Também destacou que o BC foi elogiado por ter reagido rapidamente às mudanças, injetando liquidez no mercado no auge da pandemia de covid-19 e, depois, elevando os juros rapidamente para combater o repique da inflação.
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Muito além dos juros: a autonomia do BC
A autonomia operacional do BC foi uma bandeira da gestão de Campos Neto, que tomou para si a tarefa de articular com parlamentares a aprovação da medida.
Mesmo assim, o banqueiro central não conseguiu avançar na autonomia financeira. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o tema está parada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ).
RCN, no entanto, comemorou hoje a conquista da autonomia institucional como uma das principais mudanças durante a sua gestão.
“Acho que coloca a instituição à frente das pessoas, à frente da ideologia, à frente dos governos, à frente do tempo político, com um tempo diferente do tempo político, com um tempo institucional mais adequado às características necessárias para o cumprimento das nossas missões”, disse.
A transição: Galípolo vem aí
A partir de 1 de janeiro de 2025, Galípolo será o novo presidente do Banco Central brasileiro.
Campos Neto vê a transição para o indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um processo suave.
“A gente teve muito ruído nessa transição, mas eu acho que a minha parte para contribuir com esse processo é fazer uma transição suave, e a gente está dando o exemplo de uma transição que é muito suave”, afirmou.
Na quinta-feira (19), durante uma entrevista coletiva, Campos Neto e Galípolo relataram que, nos últimos meses, o papel do futuro presidente do BC nas decisões da autarquia tem crescido.
Galípolo é hoje diretor de Política Monetária, mas já teve um peso maior na última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).