A Honda vai se juntar à Nissan? O que uma megafusão entre as duas fabricantes de carros japonesas significa para a indústria automotiva mundial
Quem nunca escutou alguém dizer “carro para mim, só japonês”? Apesar de caros, os modelos japoneses vendidos por aqui são conhecidos por não dar dor de cabeça quando o assunto é oficina. E para quem quer conferir se essas fabricantes fazem jus à fama, pode escolher entre ter um Nissan, um Honda, um Mitsubishi ou um Toyota.
Mas, em breve, esse leque de opções pode diminuir. Segundo o jornal de negócios japonês Nikkei, a Nissan e a Honda estão planejando uma megafusão — que ainda pode contar com a Mitsubishi, da qual a Nissan é a principal acionista com uma participação de 24%.
Até o momento, no entanto, a união das duas fabricantes japonesas não passa de rumor — embora tanto a Nissan quanto a Honda não tenham confirmado ou negado a possibilidade.
E há um motivo para isso: a megafusão faz todo sentido para as companhias.
Em um momento no qual muitas gigantes do setor automotivo estão lutando para lidar com a competição de fabricantes globais de veículos elétricos como a Tesla e a BYD, a Nissan e a Honda poderiam reunir ativos, economizar dinheiro em custos e impulsionar as tecnologias que precisarão para o futuro.
Basta pensar que a megafusão entre as duas japonesas daria origem ao terceiro maior grupo automotivo do mundo em vendas de veículos — com 8 milhões de vendas anuais, de acordo com o Citi — o que colocaria a Nissan-Honda-Mitsubishi atrás da Toyota e da alemã Volkswagen, que atualmente enfrenta uma crise.
A reação do mercado à megafusão Nissan-Honda
As ações da Nissan dispararam quase 24% nesta quarta-feira (18), no melhor dia de negociação da empresa em pelo menos 40 anos, de acordo com a FactSet.
Ainda assim, o preço das ações listadas em Tóquio permanece quase 25% menor no ano até o momento.
As ações da Honda não tiveram a mesma performance. Os papéis da fabricante japonesa iniciaram as negociações em Nova York com queda de mais de 3%.
Uma das explicações para o comportamento tão distinto das ações é que, no caso da Nissan, a megafusão pode ampliar o acesso da fabricante ao mercado norte-americano.
Segundo analistas, hoje, a Nissan está fora de sintonia com o mercado dos EUA e a união com a Honda pode ajustar esse descompasso.
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As curvas no caminho dessa união
Se andar em um Honda ou em um Nissan é ter a certeza de um passeio tranquilo, o mesmo pode não acontecer com a megafusão — que deve enfrentar obstáculos para sair do papel.
Analistas expressaram preocupações sobre a probabilidade de escrutínio político no Japão, dado o potencial de cortes de empregos se um acordo for aprovado, enquanto o fim da aliança da Nissan com a francesa Renault é considerado fundamental para o processo.
O JPMorgan, para quem os obstáculos a serem superados para a megafusão ir adiante são altos, diz que a questão envolvendo a Renault é complexa.
Segundo o banco, a Nissan precisa esclarecer onde a relação de capital com a Renault — que inclui o governo francês — vai acabar e também fornecer detalhes sobre a proposta de reestruturação recentemente anunciada.
No início de novembro, a Nissan iniciou um plano de reestruturação que inclui o corte de 9 mil empregos e a redução da capacidade global de produção em um quinto.
O plano também inclui a redução da participação na Mitsubishi de 34% para até 24%, e o diretor-presidente da empresa, Makoto Uchida, fez um corte voluntário de 50% no salário.
A megafusão Nissan-Honda pegou no tranco
Relatórios sobre a megafusão entre a Nissan e a Honda deixam claro para quem é de fora do setor automotivo que essa não é uma possibilidade totalmente inesperada.
Em março, as duas fabricantes japonesas firmaram uma parceria estratégica para colaborar na produção de componentes-chave para carros elétricos.
Também chamou atenção de alguns analistas a abordagem da Foxconn à Nissan.
De acordo com a Bloomberg, a fornecedora da Apple abordou a Nissan sobre assumir uma participação na companhia.
A empresa, com sede em Taiwan, tem investido pesadamente em veículos elétricos nos últimos anos.
Do lado da Honda, a companhia recentemente testou a temperatura da água em uma possível parceria com a General Motors, que acabou não evoluindo — a GM acabou anunciando junto com a sul-coreana Hyundai a possibilidade de uma parceria em carros elétricos.
*Com informações da CNBC e do Nikkei