Poupar é um hábito tão importante para garantir uma vida financeira saudável que existe até um Dia Mundial da Poupança, não por acaso celebrado hoje (31). A ideia surgiu há 100 anos, durante o 1º Congresso Internacional de Bancos de Poupança (World Society of Savings Banks) em Milão, na Itália, como uma estratégia para incentivar as famílias a poupar.
O hábito de poupar, no entanto, não está tão presente na vida dos brasileiros. De acordo com a 7ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, da Anbima, apenas 32% dos entrevistados responderam que conseguiram economizar em 2023.
Chama a atenção, porém, que mesmo entre as classes A/B, o porcentual de poupadores representa menos da metade dos entrevistados: 48%.
Mas por que será que poupar é tão difícil? Será que existem estratégias para criar e manter o hábito de poupar dinheiro? A boa notícia é que sim, elas existem e não são impossíveis de colocar em prática.
Para saber quais são e como executar no dia a dia, conversamos com o economista Fabricio Silvestre, da Levante Inside Corp. e com a consultora financeira Natália Villalpando, da Onze. Confira a seguir.
Para que poupar?
Poupar é essencial não só para ter uma vida financeira saudável, mas também para ter um equilíbrio emocional e familiar, assegura Fabricio Silvestre. “Ao longo da vida, convivemos com um certo grau de incerteza, ou seja, não sabemos todas as coisas que nos esperam. Podemos enfrentar desemprego, problemas de saúde, com a família e com a casa, por exemplo.”
Nesse sentido, o hábito de poupar nos assegura a manutenção de gastos essenciais e não essenciais, favorecendo uma melhor alocação de recursos.
Além disso, poupar também nos permite formar um patrimônio para assegurar o consumo durante a redução da nossa carga de trabalho quando estamos com uma idade mais avançada. E permite, ainda, aproveitar a oportunidade de acessar investimentos inesperados que nos permitam obter ganhos acima da média do mercado.
Para Natália Villalpando, poupar é essencial para manter uma vida financeira equilibrada e evitar que, em casos de emergência, seja necessário recorrer a créditos com altos juros, como o cartão de crédito ou o cheque especial.
Além disso, poupar permite que as pessoas planejem e realizem seus objetivos de forma mais estruturada.
“Esse hábito contribui para desenvolver a disciplina financeira, reforçando a importância de não gastar todo o valor que se ganha. Ao reservar uma parte dos rendimentos, torna-se mais fácil alcançar metas e realizar sonhos com segurança financeira.”
Como guardar dinheiro todo mês?
Tudo depende de planejamento, execução e monitoramento das nossas receitas e despesas, de modo a separar no começo do mês um determinado montante que será destinado à poupança. “O ideal é separar de 5% a 10% da renda líquida todos os meses”, diz Silvestre.
O conselho de Natalia para conseguir poupar todo mês é reservar uma parte dos ganhos para investir. Ela, porém, é mais audaciosa e acredita que o ideal é destinar entre 10% e 30% da renda para investimentos.
“Manter-se dentro dos limites do próprio padrão de vida ajuda a evitar novas dívidas e possibilita um controle financeiro mais saudável.”
Mas se a pessoa já está endividada, deve, então, priorizar o pagamento dessas obrigações.
“É importante fazer um levantamento das dívidas, verificar o custo (juros) de cada uma e buscar uma renegociação com parcelas que se ajustem ao orçamento mensal. Dessa forma, é possível organizar a situação financeira e, gradualmente, criar o hábito de poupar”, diz Natalia.
Quais são as estratégias para poupar todo mês?
Existem diversas estratégias para poupar todo mês, assegura a consultora financeira.
Para quem ainda não tem o hábito de poupar, programar investimentos automáticos pode ser uma excelente alternativa. Configurar esses investimentos para o dia em que o salário é creditado ajuda a criar o hábito de poupar, garantindo que uma parte dos ganhos seja direcionada ao futuro.
Outra dica é criar o “boleto” do investimento: muitas pessoas são boas pagadoras de contas, mas têm dificuldades em investir. Criar um “boleto fictício” para o investimento pode ajudar a desenvolver esse hábito de forma prática e disciplinada. Veja também como se organizar financeiramente para 2025
Qual é o momento ideal de começar a poupar?
Quanto mais cedo melhor, concordam os entrevistados.
Silvestre ressalta que poupar é o primeiro passo para investir. “Assim, quanto mais cedo investir, maior a probabilidade de acumular um patrimônio”, diz.
Natalia lembra que quanto mais cedo a pessoa começar, mais rápido desenvolverá o hábito de poupar. Segundo ela, o ideal é ter esse hábito desde a infância.
“Ao ser consciente da importância de investir, de planejar e realizar metas, a pessoa se tornará um adulto mais equilibrado financeiramente. Assim, se evita gastos por impulso, que podem gerar frustrações e dívidas”, diz.
Quanto da renda que deveria ser poupado todo mês?
Fabricio Silvestre avalia que, em sua visão, a divisão entre reserva de emergência, reserva dos sonhos e reserva de aposentadoria ocorre de forma temporal. Num primeiro momento, toda poupança se torna reserva de emergência.
Assim que o poupador acumular o valor da reserva de emergência, pode passar, então, a direcionar o volume poupado para a reserva de sonhos e aposentadoria. Minha sugestão é que, chegada a essa fase, poupe 30% para a realização de sonhos e 70% para garantir a aposentadoria. Mas isso depende também do momento de vida do poupador e de suas preferências e apetite ao risco.
Para Natalia, a reserva de emergência deve ser a prioridade inicial e deve cobrir de três a seis vezes o valor das despesas mensais.
Ao construir a reserva de emergência, porém, é essencial definir suas prioridades, distribuindo os recursos de maneira que cada objetivo seja atingido conforme o prazo estabelecido.
