Bolsa e dólar

Selic em alta não é motivo para fugir para a renda fixa: tubarões do mercado revelam estratégia para escolher boas ações para lucrar na bolsa

O novo ciclo de aumento de juros no Brasil diminuiu o apetite dos investidores com a bolsa brasileira. Mas na avaliação de uma dupla de tubarões do mercado financeiro, a Selic em alta não é motivo para fugir das ações para a renda fixa.

Para Florian Bartunek, sócio-fundador da Constellation e um dos gestores mais respeitados do país — responsável por cuidar do dinheiro de gigantes como George Soros e Jorge Paulo Lemann —, sempre que surge o questionamento “para que investir em ações e não na renda fixa”, é sinal de que a bolsa está barata.

“As pessoas dizem que nada bate o CDI e historicamente a própria bolsa não superou. Mas os bons fundos e modelos de investimento bateram tanto o CDI quanto o Ibovespa. Quando você fica no longo prazo e escolhe as boas companhias, você supera muito a bolsa e a média da renda fixa”, disse o gestor, durante o evento AGF Day, da plataforma ligada ao megainvestidor Luiz Barsi.

Segundo ele, o mercado brasilerio vivencia um momento conturbado para ativos de maior risco, como fundos multimercados e ações, mas também uma janela de oportunidade para quem souber onde alocar.

“Pouquíssimos investidores têm ações hoje em dia, os multimercados provavelmente tem zero de renda variável. Um exemplo disso é que Stuhlberger demitiu todo o time de investimentos em ações: quando o maior gestor de hedge fund no Brasil demite toda a equipe de renda variável, talvez seja um sinal. Mas eu sou otimista, acho que é um momento bom em termos de teses.”

Para César Paiva, CEO da Real Investor, gestora com mais de R$ 8 bilhões em ativos sob gestão, é quando os preços dos ativos estão muito baixos que os retornos prospectivos são muito melhores.

“Os investidores bagunçam alguns conceitos. Se você investir nas boas empresas, você vai ganhar mais do que na renda fixa. Se você quer comprar bons negócios a bons preços, você pode ganhar até mais, porque às vezes compra com uma taxa de retorno muito boa e paga quase metade do valor do patrimônio.”

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Como investir em boas ações?

A recomendação do “Warren Buffett de Londrina” para investir em ações é o “feijão com arroz bem feito”: comprar uma boa empresa a um preço atrativo

Seria simples se fosse tão fácil. Mas na vida real, é improvável que você seja o único a descobrir um “joia perdida” no baú de ações da B3.

“Geralmente, a maioria das pessoas conhecem as boas empresas e as ações se tornam muito bem precificadas, o que não é uma boa oportunidade de investimento, porque você não vai ter margem de segurança. Porque uma boa empresa e um bom investimento são coisas diferentes”, disse Paiva.

Mas o inverso também é verdade: não é porque uma empresa está descontada que é uma boa pedida para a carteira de investimentos. Às vezes, um negócio barato é apenas um negócio ruim, sem perspectivas, com má gestão ou inserida em uma indústria problemática.

É por isso, segundo o gestor, que somente quando você conhece o negócio que você consegue encontrar esses papéis e separar as empresas que gostaria de ser sócio e as que estão em um momento de preço atrativo e abaixo do valor justo.

“Nós não temos interesse em ser sócios de empresas muito endividadas. Já passou do tempo de as empresas no Brasil aprenderem que a dívida aqui é cara, coloca em risco e o mercado é muito instável. Eu gosto de empresas com modelos de negócio menos alavancados e mais resilientes, porque a gente sabe que, no país, o negócio vai ter que passar por momentos difíceis.”

Na visão de Paiva, a diversificação em setores e fatores de risco é a principal forma de se defender dos ventos contrários — como os juros altos, por exemplo.

Por isso, o portfólio do “Warren Buffett de Londrina” contém ações do setor de utilities — que inclui empresas de saneamento e energia, por exemplo —, cujos contratos regulados protegem da inflação e são mais previsíveis. 

Enquanto o mundo cresce, a bolsa brasileira patina: o que está acontecendo?

A Real Investor ainda aposta no setor de construção — desde que muito descontadas — e empresas exportadoras, que conseguem lucrar mesmo com o Brasil indo mal e o câmbio nas alturas.

O gestor da Constellation faz coro a Paiva: a melhor estratégia para escolher boas ações na bolsa brasileira é começar a investir por negócios que você já conhece.

“Tem coisas que você usa no dia-a-dia e acaba não investindo. Mas eu sou cliente do Itaú (ITUB4) e do Nubank (ROXO33), eu conheço os serviços e sei que são espetaculares. Quando eu alugo um carro, eu faço na Localiza e não em outras locadoras. Então o mais fácil é começar por negócios que você conhece”, disse Bartunek, em evento.

Em termos de alocação, Bartunek revela apostas em “teses específicas”, como Mercado Livre (MELI34), Klabin (KLBN11) e Totvs (TOTS3). 

No entanto, não adianta investir na bolsa para o curto prazo: todos os melhores métodos de apostas e de investimentos, você aplica ao longo do tempo. Nas palavras do gigante da renda variável, o mais importante do investimento em bolsa é não perder — e se você sair do jogo, você perde.

ETF ou ações: os tubarões dizem qual é melhor

É por isso que o investimento “passivo” em bolsa por meio de ETFs (fundos de investimentos atrelados a índices) também não atrai a atenção dos gestores.

“Em geral, a maioria dos investidores e gestores não consegue bater o índice e underperforma a bolsa, então estaria melhor em um investimento passivo. Eu diria que 90% das pessoas deveriam fazer investimentos passivos, e isso vai aumentar”, afirmou o sócio-fundador da Constellation.

Para Bartunek, com a tendência no crescimento dos ETFs, a expectativa é que os gestores que não conseguem gerar valor e cobram caro sejam cada vez mais “expulsos” do mercado.

“Quem quer se dedicar ao assunto deveria fazer investimentos ativos próprios ou investir em gestores ativos. Você se diverte, é um desafio intelectual dos mais difíceis e ainda ganha dinheiro. Sou muito fã de ser ativo, mas, para quem não tem tempo e tino para o negócio, não recomendo”, acrescentou.

Segundo Paiva, da Real Investor, os grandes índices de ações normalmente carregam ativos muito caros dentro de si — enquanto a escolha “a dedo” permitiria comprar “muita oportunidade largada em que o carrego por si só já valeria a pena”. 

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