Economia

Por que é importante discutir as bets?

Um bom tempo atrás durante conversa reservada, um agente do mercado financeiro disse desconfiar que o dinheiro do consumidor estava indo para as bets, o que ajudava a tirar o fôlego do setor varejista no Brasil. Não dei bola.

Mas o assunto, e as apostas online, foram crescendo pouco a pouco no Brasil e nesta semana o tema veio à tona com força. Ocorre que tornou-se pública análise técnica realizada pelo Banco Central a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM).

Do relatório constava a informação de que beneficiários do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões via Pix para empresas de apostas virtuais, as conhecidas bets. E isso apenas em agosto. Esse montante foi enviado por um grupo de cinco milhões de pessoas. Quatro milhões são chefes de família.

Entenda: por que a informação é importante

Aqui cabe destacar um detalhe importante. No Bolsa Família, ser o chefe de família indica que essa é a pessoa que de fato saca o benefício todo mês.

Assim, se é essa a pessoa que realmente define onde será gasto o benefício não se sabe. Mas temos aqui um fato: o dinheiro saiu da conta e foi para apostas.

Essas quatro milhões de pessoas enviaram às bets o montante total de R$ 2 bilhões. É 66,66% do valor apurado pelos técnicos da autoridade monetária.

E por que saber isso importa?

Porque como o próprio governo federal destaca na página oficial do programa, o Bolsa Família é “o maior programa de transferência de renda do Brasil, reconhecido internacionalmente por já ter tirado milhões de famílias da fome”.

Mas vamos fazer as contas

Mas o problema não está nos grandes valores, que chamam a atenção, mas nos pequenos.

Assim, a mediana dos gastos dos beneficiários do Bolsa Família é de R$ 100, segundo o BC.

O valor do Bolsa Família médio é de R$ 684,47. Então, um beneficiário que gastou R$ 100 em apostas online abriu mão de quase 15% do montante a que tem direito do Bolsa Família.

Ou mais de 10% do valor de uma cesta básica segundo apuração do Dieese para a cidade de São Paulo.

As bets e os investimentos

Mas para além do impacto no Bolsa Família, o assunto bets transborda para os investimentos.

É por isso que antes neste ano, mais ou menos em abril, chamou a atenção informação divulgada pela Anbima, a associação que reúne as entidades do mercado financeiro e de capitais.

De acordo com a entidade, 14% da população brasileira usa apps de apostas. Então, 40% das pessoas encaram apostas como uma maneira de ganhar dinheiro rápido em momentos de necessidade. E 22% consideram as apostas online como um tipo de investimento financeiro. O bom senso sugere que não se trata nem de uma coisa, nem de outra.

Então, não é necessariamente uma surpresa o fato de o presidente do Banco Central, Roberto Campos, classificar o assunto como preocupante. “Por que o BC olha coisas desse tipo? Por que são relevantes para o canal de crédito e inadimplência”.

Entendeu?

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Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Mecanismos de controles

Enquanto as empresas de apostas encharcam o mercado publicitário com propagandas. E na esteira, estampam suas marcas nas camisas dos principais clubes de futebol da primeira divisão do futebol, o governo dá seus passos diante do assunto.

O secretário de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda, Régis Dudena, afirmou que a regulamentação das bets prevê travas. As empresas terão de traçar perfis do cliente e enviá-los á Fazenda. Dudena diz que a decisão de apostar ou não é individual e o foco é garantir que se aposte pouco se você ganha pouco.

Na outra ponta, o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) disse que seus associados tomaram a decisão voluntária de banir o uso de cartões de crédito como forma de pagamento. É uma forma de conter o gasto por impulso. Mas isso significa restringir 0,5% dos depósitos realizados pelos clientes.

Como se vê, o assunto ainda tem potencial para ser destaque em muitas outras semanas.

Com informações do Valor Econômico

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