Uma gangue venezuelana expande seu alcance mortal par os Estados Unidos
Autoridades dos Estados Unidos observaram com assombro a disseminação de uma gangue venezuelana conhecida por desmembrar rivais do Chile à Colômbia.
Mas a gangue conhecida como Tren de Aragua parecia contida na América Latina.
Então, no fim do ano passado, Anthony Salisbury, um alto funcionário do Departamento de Segurança Interna, recebeu um telefonema.
“Ei, você já ouviu falar do Tren de Aragua?”, perguntou uma autoridade do Texas. “Por favor, não me diga que vocês os viram”, respondeu Salisbury.
Na verdade, disse o colega, os membros do Tren de Aragua estavam operando no Texas.
Agora, diz Salisbury, há também dezenas de crimes envolvendo a gangue em Miami, onde tem base no país.
“Eles se expandiram rápido na América Latina e estão se expandindo aqui”, afirmou ele.
Egresso de uma prisão da Venezuela, o Tren de Aragua transformou-se em uma terrível força criminosa em menos de uma década.
É o “MS com esteroides”, como disse uma autoridade federal, referindo-se à gangue da América Central Mara Salvatrucha (MS), que tem ramificações nos EUA.
Criminalidade é tema de campanha presidencial nos EUA
O crime envolvendo imigrantes tornou-se um grande tema na campanha presidencial dos EUA.
Assim, o ex-presidente Donald Trump vem invocando repetidamente os “crimes cometidos por migrantes”.
Dados federais sobre a criminalidade mostram que os homicídios e outros crimes caíram, e que os EUA são hoje muito mais seguros do que antes.
A gangue não é um nome conhecido, mas suas atividades são uma fonte de fascínio nas redes sociais.
“Acho que o Tren de Aragua pode ajudar a eleger Trump”, diz Michael Shifter, pesquisador sênior do centro de estudos Inter-American Dialogue.
Assim como a máfia italiana seguiu a onda de imigração para os EUA no século XX, o Tren de Aragua foi também junto com os quase oito milhões de venezuelanos que fugiram do ditador Nicolás Maduro.
Portanto, as autoridades americanas temem que o mesmo padrão surja nos EUA, onde mais de 700 mil venezuelanos se estabeleceram nos últimos quatro anos.
Membros do Tren de Aragua são suspeitos de atirar em policiais de Nova York, de assassinar um ex-policial venezuelano da Flórida e de crimes em Chicago e no Texas.
No total, há mais de 100 investigações nos EUA envolvendo supostos membros do Tren de Aragua.
Enquanto isso, o Departamento de Estado ofereceu recompensas de até US$ 12 milhões por informações que levem à prisão de três líderes do grupo.
Ramificações do Tren de Aragua no Chile e na Colômbia
O Tren de Aragua primeiro se mudou para a Colômbia antes de se estabelecer no Peru, Chile, Equador e outros países, segundo autoridades policiais.
A gangue busca oportunidades melhores do que na Venezuela, onde a economia naufragou sob o comando de Maduro, levando à hiperinflação e à pobreza, agravadas pelas sanções impostas pelos EUA.
O grupo encontrou um território particularmente lucrativo em Nova York, onde cometem assaltos na Macy’s, Sunglass Hut e outras lojas de alto padrão.
Além disso, membros da gangue com motos também rouba celulares de pedestres, segundo autoridades.
“É uma onda de crime que nunca tínhamos visto antes”, diz Joseph Kenny, chefe dos detetives do Departamento de Polícia de Nova York
Os membros ostentam tatuagens com representações de um trem, o número 23 usado pela lenda da NBA Michael Jordan, e o símbolo da Nike.
Sem relações diplomáticas, sem ajuda
É difícil para a polícia determinar a ficha criminal de um suspeito porque os EUA não têm laços diplomáticos com a Venezuela.
“Eles podem ser procurados por assassinato na Venezuela e nem ficamos sabendo disso”, afirma.
O Tren de Aragua se expandiu rapidamente a partir de suas origens na prisão venezuelana de Tocorón, traficando drogas, contratando assassinos e extorquindo empresas fora dos muros da penitenciária, segundo autoridades policiais.
Autoridades do governo venezuelano não responderam a pedidos para comentários.
O ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, chamou o Tren de Aragua de fruto da imaginação da mídia.
Crimes internacionais
O grupo se ramificou para a Colômbia por volta de 2018, estabelecendo-se nos bairros operários lotados da zona sul de Bogotá, onde gangues brigam pela venda de drogas, administram bordéis e exigem uma “vacina” mensal, ou pagamento por proteção, dos comerciantes, segundo investigadores.
Em pouco tempo, o Tren de Aragua estava matando rivais, deixando os restos em sacos de lixo nas ruas.
O Tren de Aragua encontrou um ambiente convidativo no Chile, uma geografia mais rica e de baixa criminalidade.
“A gangue busca ganhos”, diz Ronna Rísquez, uma jornalista venezuelana e autora de um livro sobre a quadrilha. “No Chile, havia possibilidades.”
Carolina Tohá, ministra do Interior do Chile, descreveu como a gangue carrega armas pesadas, demonstra grande crueldade ao acertar contas e comete crimes que as autoridades nunca viram no passado.
Em fevereiro, o Tren de Aragua sequestrou um dissidente venezuelano em seu apartamento e o matou.
Seu corpo foi encontrado em uma mala enterrada sob 1,20 metro de concreto em uma favela das proximidades.
As autoridades chilenas rastrearam um dos fundadores do Tren de Aragua, Larry Álvarez, até Santiago, onde ele vinha operando um restaurante venezuelano a quatro quadras do palácio presidencial desde 2018.
Embora parecesse estar ganhando a vida honestamente como outros venezuelanos no Chile, Álvarez na verdade estava cometendo crimes que incluíram um homicídio, segundo disseram investigadores.
Quando seu disfarce foi descoberto, Álvarez fugiu para a Colômbia.
De uma fazenda no próspero cinturão do café, Álvarez, mais conhecido como Larry Changa, continuou comandando o tráfico de drogas no Chile, segundo promotores colombianos.
Recentemente, a polícia o prendeu, e ele está na prisão aguardando extradição para o Chile.
Com informações do Valor Econômico.