Quem é Walter Salles, diretor de ‘Ainda Estou Aqui’?
Fernanda Torres postou um vídeo numa rede social em que ela aparece emocionada após a primeira exibição de ‘Ainda estou aqui’, no último domingo (1). A plateia no Festival de Veneza aplaudiu o filme por dez minutos. Torres está emocionada, Selton Mello está emocionado. E o diretor do filme, Walter Salles, está emocionado. Na legenda, a atriz escreve: “Viva o cinema brasileiro! Viva Walter Salles”.
O cineasta tem 68 anos e uma carreira consolidada entre os principais diretores brasileiros. Não seria preciso escrever isso. É óbvio. Assim como é óbvio que ele é reconhecido também internacionalmente e que tem muito dinheiro na conta bancária. Esse não deve ser o foco.
O que talvez você não saiba é que o brasileiro conhece muito mais Salles no seu dia a dia do que imagina. Afinal, a síntese das histórias que ele leva às telas tem sempre a história do Brasil e dos brasileiros como pano de fundo. O Brasil e os brasileiros da desigualdade social, das misérias e das riquezas. Do bruto e do belo. O Brasil e os brasileiros também dos sonhos.
Walter Salles: ‘Central do Brasil’ e ‘Linha de passe’
É isso que transparece em ‘Linha de passe’, filme que conta os sonhos, desejos e frustrações de jovens da periferia de São Paulo. É principalmente assim em ‘Central do Brasil’, o filme icônico sobre uma mulher que escreve cartas no centro do Rio de Janeiro e um menino que tenta encontrar o pai que nunca conheceu.
Mas é também assim quando Salles transfere sua visão única para a América Latina e conta a história de um jovem Che Guevara que em uma viagem pelo continente se transforma, e se transforma, no ícone da luta utópica a partir das armas.
Assim, em 1998, à Folha de S.Paulo, em entrevista para o psicanalista Jurandir Freire Costa, Walter Salles declarou que ao assistir ‘Vidas Secas’ entendeu melhor o que aconteceu à época. Melhor que ao assistir toda a produção televisiva a respeito. E que o mesmo ocorreu com ‘São Paulo S/A’, o filme de Luiz Sergio Person que mostra muito da corrupção ainda incipiente dos centros urbanos brasileiros.
O que se encontra em ‘Ainda estou aqui’
E é um pouco dessa tentativa de traduzir o Brasil para os brasileiros que espera-se de ‘Ainda estou aqui’, o primeiro filme original da Globoplay.
A adaptação cinematográfica do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva lançado em 2015 e que retrata a história do pai do autor, Rubens Paiva. Ele foi morto pela ditadura militar que assolou o país a partir de 1964.
Ou melhor.
O livro retrata a ausência do pai e a ascensão da mãe, Eunice Paiva. De dona de casa mãe de cinco filhos, ela transforma-se em advogada. Das boas e de sucesso. E que jamais abandona a resposta para o que ocorreu com o marido assassinado pela repressão.
Os prêmios de Walter Salles
Dessa maneira, a repercussão em torno do filme mais recente de Walter Salles indica que a fita pode ter um caminho de sucesso pela frente de público e crítica. Mas isso não é necessariamente uma novidade para o cineasta.
Assim, ‘Central do Brasil’ venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim. O filme ganhou também o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. E o BAFTA. O prêmio também foi concedido para ‘Diários de Motocicleta’.
Mas os prêmios não resumem as qualidades dos filmes, ainda bem!
Assim, ao ser entrevistado pela TV Globo sobre a repercussão de ‘Ainda estou aqui’ em Veneza, Walter Salles, emocionado, declarou que ficou feliz pelo esforço coletivo colocado no filme. “Foi uma experiência humana muito forte”, disse.
Viva Walter Salles!