Economia

Existe espaço para o real se fortalecer mesmo que o Banco Central não suba a Selic — e aqui estão os motivos, segundo a Kinea Investimentos

Nos últimos meses, o principal tema no mercado era a incerteza fiscal que rondava a economia brasileira. Após o contingenciamento de R$ 15 bilhões pelo governo, o mercado se voltou ao debate da necessidade de um novo ciclo de alta dos juros pelo Banco Central. 

Mas, mesmo se o BC não elevar a taxa Selic na reunião deste mês, ainda existirá espaço para que o real se fortaleça, segundo a Kinea Investimentos, uma das maiores gestoras do Brasil, com R$ 140 bilhões em ativos sob gestão.

De acordo com a Carta do Gestor de agosto, divulgada nesta semana pela Kinea, “a extensiva comunicação do Banco Central” até o momento sugere novas elevações da Selic nas próximas reuniões, reforçando a expectativa do mercado pela alta da taxa.

“Mesmo se a autoridade monetária votar pela manutenção das taxas, o aumento do diferencial de juros frente à economia norte-americana, aliada com a visão mais construtiva para o fiscal de curto prazo, pode levar à boa performance do real. Dessa forma, temos posição comprada na moeda”, afirma a Kinea Investimentos, em seu relatório mensal. 

  • Ferramenta liberada: entenda qual a carteira recomendada para o seu perfil de investidor. Simule aqui

O “efeito Rashomon” da economia norte-americana

Segundo a gestora, os mercados vivem hoje a expectativa do início dos cortes de juros nos Estados Unidos pelo Banco Central americano, após fortes flutuações de projeções durante o ano. 

Durante o Simpósio de Jackson Hole, no final do mês passado, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, deu sinal verde para o corte de juros nos EUA. 

Entretanto, embora a sinfonia tenha agradado os investidores, uma nota dos acordes de Powell ficou faltando: ele não disse a magnitude do corte das taxas que está no horizonte. 

Para a Kinea, o mercado ainda vive sob o “efeito Rashomon”, expressão tirada do clássico filme japonês dirigido por Akira Kurosawa, lançado em 1950. Hoje, o termo é usado para situações em que diferentes testemunhas dão relatos contraditórios do mesmo evento.

Na visão da gestora, o atual estado da economia global, particularmente da economia norte-americana, ainda é uma das maiores controvérsias do mercado. 

“Narrativas variam de uma economia que parece desacelerar, com um mercado de trabalho mais fraco que o esperado, permitindo que o Fed inicie seu ciclo de cortes de juros; até perspectivas que incluem uma economia ainda acima do seu potencial e inibindo cortes de juros significativos por parte do banco central”, afirma a carta da Kinea Investimentos. 

Apesar do cenário, a Kinea também permanece comprada no dólar e na bolsa norte-americana, “principalmente no setor de tecnologia e áreas que devem se beneficiar do esperado ciclo de corte de juros”.

  • Proteja seus investimentos: dólar e ouro são ativos “clássicos” para quem quer blindar o patrimônio da volatilidade do mercado. Qual a melhor forma de investir em cada um? Descubra aqui. 

E o “efeito Rashomon” no Brasil e o Banco Central

Também no Brasil o efeito Rashomon parece estar presente, segundo a gestora. Por aqui, as narrativas variam de uma economia em que a inflação parece estar sob controle e, com os cortes previstos nos Estados Unidos, as taxas atuais de juros “parecem apropriadas”.

“Para outra, onde a forte atividade e pressões do mercado de trabalho levariam ao recrudescimento da inflação e gerariam a necessidade de um novo ciclo de alta de juros”. 

Na reunião de julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic a 10,50% ao ano. De acordo com a última projeção do Boletim Focus, o mercado acredita que os juros ainda devem permanecer no mesmo patamar até o fim deste ano. 

Entretanto, a alta de 1,4% no PIB brasileiro no segundo trimestre de 2024 pode ser o argumento que faltava para que o BC eleve a taxa de juros na reunião daqui a duas semanas.

Os ativos chineses e o mercado de ações

O relatório da Kinea cita ainda dois outros efeitos controversos. O atual estado da economia chinesa também traz um conjunto de conflitantes narrativas sobre as implicações da desaceleração naquele país e os preços de ativos, de acordo com a gestora. 

Por um lado, os dados econômicos continuam a indicar desaceleração em diversas áreas da economia e uma nova queda no preço do minério de ferro. Por outro, os ativos chineses seguem suportados pelos cortes de juros que se aproximam nos EUA.

A gestora também cita a subida de Kamala Harris nas pesquisas, “muito menos focada em tarifas comerciais do que seria Donald Trump.” “Para o curto prazo, o fator mais importante é que ainda consideramos a eleição de Donald Trump como mais provável e, consequentemente, sua agenda comercial como grande risco para a moeda chinesa.”

“Permanecemos vendidos na moeda [yuan] e usamos o mercado de ações chinês como um hedge para demais posições compradas em mercados emergentes e desenvolvidos.”

“Estamos também mais construtivos em alguns nomes da bolsa brasileira, mantendo um posicionamento neutro”. Entre as empresas brasileiras citadas na lista estão Itaú (ITUB4), Sabesp (SBSP3), Embraer (EMBR3), Vivara (VIVA3) e Eletrobras (ELET3).

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo