Mercado financeiro

Lula não vai dizer o que o Banco Central vai fazer

O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que não há, em seus contatos com Lula, conversas no sentido de o presidente da República dizer o que o BC deve fazer.

“Em todas as conversas com Lula vejo uma clareza sobre como a inflação é ruim para a população e a confiança no BC e nos seus diretores que vão fazer o trabalho para colocar a inflação dentro da meta”, disse durante coletiva em Brasília.

“Foi isso que escutei hoje pela manhã quando perguntei se ele estava bem para viajar”, afirmou, em referência à liberação que Lula teve hoje para retornar a Brasília após realizar uma cirurgia na cabeça.

“Não há na [minha] relação com Lula dizer o que o BC vai fazer”, afirmou.

Galípolo também disse que “não existe nessa rotina dar ciência [ao presidente da República] do que o BC vai fazer, nem do ponto de vista legal, nem do que ele [Lula] jamais chegou a discutir comigo”, afirmou.

“Não há nenhum tipo de dinâmica sobre as ações do BC. O que há é uma ciência de que a inflação é muito ruim para a população”, disse.

Ataque especulativo

Na coletiva, Galípolo também afirmou que “a ideia de ataque especulativo” não “representa bem” os movimentos recentes do mercado. Segundo ele, o presidente Lula e os ministros da área econômica concordam com essa avaliação.

“Não é correto tentar tratar o mercado como um bloco monolítico, como se fosse uma coisa só, coordenada em um único sentido. Basta a gente entender que o mercado funciona com posição contrárias. Para existir mercado precisa existir alguém comprando e alguém vendendo”, disse, destacando que o mercado tem “vencedores e perdedores”.

Na véspera, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo federal tem recebido informações de que a desvalorização recente do câmbio pode ser explicada em parte por “especulação”.

Galípolo disse, por sua vez, que “a ideia de ataque especulativo enquanto coordenado não representa bem os movimentos” recentes do mercado. De acordo com ele, essa interpretação “é bem compreendida e aceita” por Lula, Haddad e os demais ministros da área econômica, durante as conversas sobre o tema.

“O próprio presidente da República concorda”, disse. “Tem ruído de comunicação, é normal, mas é importante esclarecer.”

Aperto monetário

Sobre os rumos da taxa Selic, Gabriel Galípolo afirmou que o movimento de sinalizar altas de 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) foi “bastante corajoso” a partir da materialização dos riscos.

“A gente tem clareza para onde a gente está indo, dando o passo que a gente deu. Eu acho que já foi bastante corajoso a partir da materialização dos riscos poder fazer essa sinalização para mais duas reuniões para frente. O que vai acontecer dali pra frente, acho que a gente vai ter que aguardar”, disse.

Galíplo também disse que “não existem bons ventos para uma nau sem direção”.

Segundo Galípolo, a materialização de alguns riscos tirou incertezas sobre os juros e permitiu que o Copom oferecesse um “guidance”. O diretor disse que a direção clara é de caminhar para uma taxa de juros em “patamar restritivo com alguma segurança”.

Galípolo ainda afirmou que “vocês sabem que eu sou bem apegado a guidance. Então acho que a barra é alta, a barra é alta para gente fazer qualquer tipo de mudança no guidance”.

Galípolo também comentou sobre a transição da presidência e afirmou que foi uma transição “entre amigos” e “muito amistosa”.

“Roberto (Campos Neto) em todas as reuniões atuou com a preocupação em relação ao país sempre, pensando no que era melhor para a economia brasileira e o que era para o país, em fortalecer a gente”, disse.

Com informações do Valor Econômico

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