até 50g podem ser retiradas de uma tonelada de lixo urbano
O ouro foi a grande medida de valor durante séculos. Depois, o petróleo foi apresentado como a nova fonte de riqueza. Mais recentemente, os dados surgiram como uma espécie de panaceia. E agora, o ouro parece estar entre os itens mais desejados novamente. Ao menos no mundo dos investimentos. Assim, para aumentar a oferta, a Ambipar (AMBP3) tem buscado o metal raro em um local inusitado: o lixo.
A empresa informa ter gastado R$ 100 milhões em sua planta de mineração urbana em São José dos Campos (SP) para aumentar a produção de metais a partir do que as pessoas jogam fora. Vale dizer que mineração urbana é justamente isso, a atividade de encontrar e reutilizar metais e outros itens.
Então, boa parte desse investimento da Ambipar foi com foco em eletroeletrônicos de maior valor agregado, como celulares e notebooks. Esses itens oferecem maior possibilidade de minerar metais valiosos a partir do lixo urbano.
Ouro em patamar recorde
Nesse sentido, a aposta da Ambipar é devolver ao mercado metais de diferentes tipos, inclusive o ouro, que está está entre os ativos mais valorizados em 2024. O metal bateu preço histórico e chegou a US$ 2.670 por onça troy nesta segunda (16). Isso equivale a mais de R$ 16 mil reais.
“Aqui, dependendo do caso, (entregamos) de 30g a 50 g de ouro oriundo do lixo urbano”, diz Marcelo Oliveira, head de Mineração Urbana da Ambipar. Isso representaria algo entre uma onça e uma onça e meia de ouro por tonelada.
Apesar dos números apresentados, a Ambipar não acredita que a mineração urbana concorra com a tradicional. Então, as atividades devem ser complementares. Nesse sentido, veja aqui como funciona a mineração de ouro tradicional e quanto ela recolhe do metal por tonelada de rejeito.
Apesar do otimismo da Ambipar com relação ao potencial de mineração de ouro no lixo urbano, a realidade ainda é desafiadora.
A empresa não quis dizer quanto consegue recolher de ouro por tonelada de sucata, mas os números indicam um caminho longo a percorrer. Cerca de 55% do que a companhia recebe é ferro e 30% plástico. Metais não ferrosos, classe em que está o ouro, respondem por apenas 6%. Outros tipos de materiais, 9%.
A Ambipar processa algo perto de 10 mil toneladas de lixo por ano na planta de São José dos Campos. Ou seja, cerca de 5,5 mil toneladas de ferro e apenas 600 toneladas são de metais não ferrosos, o que equivale a menos de 2 toneladas por dia.
Coleta ainda é desafio para mineração urbana
Um dos gargalos da mineração urbana está na baixa eficiência da coleta seletiva. Estima-se que o país reaproveite algo abaixo de 5% do lixo reciclável.
Atualmente, a Ambipar conta com mais de 150 cooperativas para recolher materiais recicláveis, além de parcerias com players da indústria e do varejo.
Mineração urbana na prática e a separação dos materiais
Então, a Ambipar utiliza esses parceiros como fonte de sua matéria-prima, o lixo. O processo de separação do material para mineração urbana é quase todo automatizado.
Nesse sentido, as máquinas separam os metais úteis do plástico. Assim, só de ferro, são produzidas de 30 a 40 toneladas por dia.
Então, os demais metais não ferrosos são separados e ganham outro destino. É o caso do ouro.
Por fim, a ideia é que 100% do material encaminhado à planta de mineração urbana da Ambipar seja reutilizado e que nada do que foi direcionado para o local seja destinado a aterro sanitário ou descartado de volta na natureza.
Assim, a Ambipar entrega boa parte do ferro que produz para a Gerdau. E com relação ao plástico uma das grandes clientes é a produtora de chuveiros Lorenzetti.
O jornalista viajou a convite da empresa para conhecer a fábrica do interior de São Paulo.