Mercado financeiro

BofA vê Argentina de Milei com otimismo; e o Brasil?

O cenário para investir em mercados emergentes se complica cada vez mais, já que a queda de juros nos Estados Unidos será menor que a esperada, afirma David Beker, chefe de economia do Bank of America no Brasil. Assim, a Argentina do presidente Javier Milei é o mercado preferido no momento para investidores dentro da América Latina, graças ao esforço em reduzir o déficit do governo e dissolver “o papel do Estado na economia”, afirma Beker.

O país vizinho não consta no principal índice de emergentes listado em Nova York, o MSCI Emerging Markets, da Black Rock. “Mas, se tudo der certo, a Argentina pode voltar ao MSCI até 2026”, diz Beker.

Por outro lado, ao discutir a decisão do Copom de elevar a Selic em 1 ponto percentual na quarta-feira (11), Beker projeta um cenário “mais difícil” para ativos brasileiros, assim como uma desaceleração da economia.

Ao tirar a lupa do Brasil e analisar o continente, Beker afirma que os investidores internacionais estão neste momento mais animados com o que se passa no país vizinho.

“O preço dos ativos da Argentina já é outro. Estamos mantendo uma visão construtiva para todos os ativos do país.”

O prêmio de risco da Argentina caiu para investidores. Isso significa uma valorização de bonds argentinos, assim como do valor de renda variável listada na bolsa local no índice S&P Merval.

Assim, a volta da Argentina ao MSCI Emerging Markets Index, da BlackRock, é possível a depender do crescimento da economia em dois anos. Mas, no máximo, o retorno do país ao principal índice de mercados emergentes do mundo deve ocorrer no segundo semestre de 2026, prevê Beker.

“Mas hoje o fluxo de investidores não pode mudar, porque quem tem mandato para investir em emergentes não pode mudar muito de benchmark“, diz Beker ao reforçar que a volta da Argentina ao MSCI pode levar à entrada de capital.

A previsão do Bank of America para o PIB da Argentina neste ano é de queda de 3%. No entanto, para 2025, deve haver reversão para alta próxima de 4%.

Sobre a decisão de Milei de cortar 90% dos impostos na Argentina, Beker afirma que a direção “de tirar o peso do Estado sobre a economia” é bem-visto pelo mercado.

Beker afirma que a decisão do Banco Central de subir a Selic ontem deve aliviar os prêmios do mercado sobre a inflação prevista para 2025 e 2026. A reancoragem da expectativa de preços na economia, porém, não deve ser “imediata”, de acordo com o economista.

Nesse sentido, o dólar também não deve cair de imediato, afirma Beker, porque hoje o que mais pesa contra a valorização do câmbio “depende de fatores do cenário internacional”.

Para ele, foi “excelente” a elevação da Selic pelo Banco Central em 1 ponto – além da sinalização de mais duas altas de mesma magnitude. O BC conseguiu se comprometer com uma visão razoável entre a parcela do mercado que esperava uma postura mais firme, e também com os agentes que julgavam não ser necessária uma alta de 1 ponto, e sim de 0,75 ponto.

Outra forma de interpretar a decisão sobre a Selic é de que o Banco Central minimiza ruídos de transição. Em 2025, o atual diretor de política monetária e presidente indicado por Lula, Gabriel Galípolo, assume o cargo hoje ocupado por Roberto Campos Neto.

“Temos que navegar com equilíbrio. A economia desacelera pelas altas da Selic via Banco Central, mas não pode haver uma recessão. Esse novo ritmo faz com que possamos ter uma desaceleração nas expectativas de inflação”, diz Beker.

“Mas conseguir esse equilíbrio tênue não é trivial”, acrescenta.

O BofA prevê que o PIB do Brasil em 2025 termine em 2%, ante a expansão de 3% prevista para 2024.

Em contrapartida, o FMI (Fundo Monetário Internacional) espera que a economia da Argentina ceda 3,5% neste ano, mas suba 5% em 2025.

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