Turismo de luxo não é Paris: viajantes endinheirados buscam autenticidade e destinos fora do padrão
Sol, praia e mar. É isso que o turista brasileiro com dinheiro no bolso está buscando, tanto Boomers quanto Millennials e Zoomers (membros da geração Z).
Nesse contexto, um destino no Brasil tem despontado como a “viagem dos sonhos” de muitos: os Lençóis Maranhenses. Em uma disputa acirrada, Fernando de Noronha fica em segundo lugar. Logo em seguida, Amazonas e Bonito.
Somada à busca por destinos mais relacionados à natureza, os viajantes de luxo estão considerando cada vez mais as práticas de sustentabilidade dos destinos e hotéis, que são mais valorizados e bem vistos ao adotarem um compromisso com o meio ambiente.
O conforto nível 5 estrelas e a sofisticação ainda são importantes para essa classe de viajantes, mas já não basta oferecer um serviço de altíssima qualidade, porém massificado.
Os turistas endinheirados querem autenticidade, roteiros personalizados, com passeios diferenciados, e experiências de bem-estar – o chamado wellness, que está em alta não só no turismo, mas em outros segmentos da economia também.
As conclusões são do Anuário de Tendências de Luxo 2025, feito pela ILTM (International Luxury Travel Market) em parceria com o Panrotas e TRVL LAB.
O que quer o viajante de luxo brasileiro?
As tendências de overtourism (turismo excessivo) já estavam afastando muitos ricaços de cidades como Veneza, Barcelona e Paris.
Esse público busca privacidade e personalização, com roteiros feitos sob medida e hotéis de alto padrão que oferecem uma hospedagem diferenciada.
Nada de resorts gigantescos nem um hotel no burburinho da Times Square. A intenção é ir para uma ilha pouco explorada da Indonésia ou para uma praia deserta no Nordeste.
Seja como for, o esforço para agradar a essa classe de turistas parece estar dando certo: a BLTA (Brazilian Luxury Travel Association), que só inclui as hospedagens brasileiras de mais alto padrão, reportou um aumento de quase 10% no faturamento dos hotéis associados. Entre eles, estão os hotéis da rede Fasano e Emiliano, o Nannai Noronha, o Txai Resort (Itacaré) e o Rosewood, em São Paulo.
Especificamente no Brasil, o mercado de turismo de luxo “se destaca principalmenteem regiões paradisíacas e em destinos culturais exclusivos”, segundo o relatório.
Não à toa, muitas redes hoteleiras estão fazendo investimentos massivos na região do Nordeste, que concentra grande parte dos destinos de “turismo de sol e praia”, que é o mais buscado pelos viajantes locais.
Alguns destinos de mais difícil acesso, como os Lençóis Maranhenses, ainda enfrentam problemas de segurança e logística. Estes são gargalos que, na visão do relatório, precisam ser resolvidos para “atrair e fidelizar os turistas de luxo”.
Mas, afinal, quem são exatamente as pessoas que estão consumindo esse tipo de viagem?
Quem é o turista de alto padrão no Brasil?
Provavelmente, uma pessoa endinheirada entre 30 a 49 anos, com renda mensal entre R$ 30 mil a R$ 50 mil, moradora da Região Sudeste, que costuma fazer de 2 a 5 viagens nacionais e 1 a 3 internacionais por ano.
Embora esta seja a persona visada pelo mercado, dados da consultoria McKinsey revelam que nem todos os turistas de luxo são milionários, como era de se esperar– 35% têm patrimônio líquido inferior a US$ 1 milhão. Alguns são apenas pessoas que têm viagens como prioridade financeira.
Apesar desse dado curioso, são os endinheirados – com patrimônio líquido entre US$ 1 milhão e US$ 30 milhões – que continuam impulsionando de forma expressiva o crescimento do setor de viagens de alto padrão, segundo a McKinsey.
Os números do turismo de luxo
O fantasma da pandemia parece finalmente ter parado de assombrar o setor turístico. De acordo com a Organização Mundial do Turismo, dezembro será o mês oficial da virada de chave, igualando o número de viagens internacionais com os mesmos níveis de 2019.
Em algumas regiões, esse “breakeven” já tinha sido atingido. No Oriente Médio, as chegadas internacionais nos aeroportos (que é a métrica usada pela Organização) foram 29% maiores nos nove primeiros meses de 2024 do que no mesmo período de 2019.
Nesse cenário, foi o turismo de luxo que se afetou menos pela pandemia e foi o primeiro a se recuperar e ultrapassar os recordes de 2019, segundo o Anuário da ILTM.
“A crescente demanda por viagens de luxo deixou de ser novidade e, portanto, as impressionantes projeções para os próximos anos não deveriam surpreender ninguém”, escreve o estudo.
Os dados da McKinsey confirmam essa demanda aquecida. As viagens “premium” movimentaram cerca de US$ 239 bilhões (R$ 1,4 trilhão) em 2023.
Para 2028, a expectativa é que a cifra alcance US$ 391 bilhões (R$ 2,3 trilhões)
Nos próximos 10 anos, o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), que representa o setor privado da indústria de turismo global, espera que o turismo contribua com 11,4% da economia mundial.