o que falta para funcionar?
Na última semana, o Banco Central (BC) publicou a resolução nº 406, que regulamenta a chamada “jornada sem redirecionamento” (JSR). Essa medida permitirá uma nova esteira de inovação no âmbito do Pix e do Open Finance, incluindo, por exemplo, a oferta do Pix em carteiras digitais (wallets) e seu uso em pagamentos por aproximação.
A possibilidade de utilizar o Pix em situações atualmente restritas a cartões, com a tecnologia NFC, tem sido o centro de algumas discussões. Afinal, a facilidade que o recurso traz pode agradar muito aos consumidores. O próprio BC, por meio de Carlos Brandt, considerado o “pai do Pix”, ressaltou essa possibilidade em um evento recente.
Quando começa?
Ainda não há empresas oferecendo essa opção ao consumidor. Segundo a resolução do BC, os testes devem começar em novembro para um conjunto de empresas que representa 90% do ecossistema financeiro, incluindo Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú, Nubank, Santander, Banco Pan, Banco Inter, C6, Mercado Pago, entre outras. A oferta da JSR deve estar 100% pronta em fevereiro de 2025.
Na prática, a JSR permite fazer exatamente o que seu nome indica: ao realizar um pagamento, o consumidor autoriza a transação uma única vez e, em seguida, não precisa mais acessar a área do banco para efetuar pagamentos com aquela conta. O procedimento agiliza significativamente o processo de pagamentos via Pix — atualmente, é necessário copiar o código e colá-lo na área do banco para concretizar o pagamento.
No âmbito do Open Finance, a JSR é a base para que mais soluções surjam, como o pagamento por aproximação no mundo físico e o pagamento por biometria no mundo online. A JSR já existia desde o ano passado, porém, antes da resolução 406 do BC, era necessário fazer acordos bilaterais para que fosse ofertada — como no caso do Google, que fechou parcerias com o C6 e o PicPay. A partir da resolução, as maiores instituições passam a ser obrigadas a oferecer esse tipo de fluxo de pagamento, eliminando a necessidade de acordos bilaterais. Essa era uma demanda forte do mercado que foi atendida pelo BC.
Por que é importante?
A grande novidade que a JSR traz está relacionada a um aspecto técnico: um protocolo de segurança global chamado FIDO (Fast Identity Online). Ele garante que as partes envolvidas na operação (quem recebe e quem paga) tenham a certeza de que o usuário possui uma identidade verdadeira. Essa tecnologia foi criada por uma associação global que conta com grandes empresas como membros, incluindo Microsoft e Google.
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“É um grande ganho para o nosso ecossistema de Pix e Open Finance. Esse protocolo garante a identidade, assegura que o dispositivo pertence ao usuário e possui credibilidade global. Todas as partes podem confiar”, explica Gustavo Bresler, COO do Iniciador, iniciador de pagamento regulamentado pelo BC.
O FIDO é uma espécie de chip presente na maioria dos aparelhos celulares ao redor do mundo. No Brasil, o FIDO está presente em 97,2% dos aparelhos Android ativos, disponível desde 2016 com o lançamento do Android 7 Nougat, e em 97,6% dos aparelhos iOS ativos, disponível desde 2021 com o lançamento do iOS 14.5.
Essa segurança se traduz principalmente na biometria facial nos smartphones. Por isso, a solução vem sendo chamada de “Pix Biometria” de maneira mais abrangente — na prática, após a primeira autorização, será possível realizar um Pix com a leitura digital do rosto em uma compra online e usar o Pix por aproximação do celular no mundo físico, assim como o consumidor já faz para desbloquear o uso do cartão de crédito na wallet do celular.
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Casos de uso
Essa nova tecnologia e a esteira de novidades podem se traduzir em inúmeras ofertas ao consumidor. Daniel Ruhman, CEO da Cumbuca, app de divisão de gastos, compartilhou alguns casos de uso possíveis. Primeiro, o pagamento por aproximação, como já fazemos com cartões de crédito e débito — no caso do Pix, visualmente ainda não está definido o formato que o consumidor usará, mas, em última instância, poderia ser um cartão que represente a conta da qual o dinheiro para fazer o Pix será debitado. Outra possibilidade é o pagamento por aproximação de celular para celular, apenas encostando um no outro entre pessoas físicas.
Além disso, seria possível realizar o pagamento por aproximação em transportes públicos, por exemplo, com o dinheiro do Pix caindo diretamente na conta do governo, sem a necessidade de cartões específicos para isso, como o bilhete único. Ainda, em shows em que o consumo interno é feito por meio de cartão e os funcionários circulam com maquininhas, seria possível substituir diretamente pela jornada sem redirecionamento e com aproximação, por exemplo. Além disso, seria viável conectar essa jornada de pagamento em aplicativos como iFood e Uber, entre outras empresas de serviços.
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“O potencial é gigantesco. O novo formato reduz intermediários e facilita a vida do usuário. O dispositivo será autorizado, conectado à conta do cliente, que fará aprovações para utilizar a jornada”, ressalta Ruhman.
Por regra, o usuário poderá definir limites de valores para as transações, períodos em que poderá utilizar a JSR, quantidade de vezes que a transação será autorizada e cancelar essa autorização quando desejar.
O que ainda falta?
Embora haja interesse do cliente em usar e de algumas empresas em oferecer a solução, é provável que ainda leve um tempo até que isso chegue ao dia a dia do brasileiro, segundo especialistas. O processo não é simples de ser definido, pois envolve muitos agentes, além de padrões de infraestrutura tecnológica.
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“Ainda não temos um padrão para que a solução funcione. Estamos estudando e avaliando as opções para que seja possível utilizar a aproximação em qualquer sistema operacional, em qualquer maquininha. É necessário hoje um arranjo entre a tecnologia NFC e o Pix, arranjo que já existe no mundo dos cartões, permitindo pagar tanto com o cartão físico quanto com o cartão digital na wallet do consumidor”, explica Nic Marcondes, head de Open Finance da Delend, plataforma de infraestrutura de Open Finance.