Economia

Juros futuros sobem e chegam a 15% com piora das expectativas no Focus e risco fiscal

Os juros futuros tiveram mais um pregão de amplo estresse nesta segunda-feira (9), o que levou as taxas a encerraram o dia na casa dos 15% nos vértices intermediários da curva a termo. A deterioração renovada das expectativas de inflação e de juros capturada pelo relatório Focus foi o gatilho inicial para o movimento de elevação das taxas futuras, que se acentuou diante de notícias que aumentaram o temor do mercado quanto a uma possível desidratação ou atraso na votação do pacote fiscal no Congresso Nacional.

Neste ambiente, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento de janeiro de 2026 teve alta de 14,415%, do ajuste anterior, para 14,59%; a do DI de janeiro de 2027 disparou de 14,765% para 15,02%; a do DI de janeiro de 2029 aumentou de 14,47% para 14,685%; e a do DI de janeiro de 2031 anotou avanço de 14,195% para 14,35%.

Às vésperas da próxima decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom), o aumento do prêmio de risco fiscal faz com que o mercado coloque cada vez mais nos preços uma alta de 1 ponto percentual (p.p.) da taxa Selic pelo colegiado. Hoje, o mercado de opções digitais de Copom encerrou a sessão precificando chance de 70% para elevação no ritmo citado, contra apenas 20,5% para uma alta de 0,75 ponto percentual — que é o cenário-base da maioria dos economistas consultados pelo Valor.

Os temores de que o real impacto do ajuste fiscal pretendido pelo governo fique abaixo da soma de pouco mais de R$ 70 bilhões ao longo de 2025 e 2026 foram renovados hoje diante da resistência às mudanças das regras para o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). Além disso, com cerca de duas semanas até o início do recesso parlamentar, é possível que o pacote sequer seja votado neste ano, diante do imbróglio com as regras para o pagamento de emendas aos congressistas. Hoje, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino negou um pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) para reconsiderar o endurecimento das regras para os repasses.

Refletindo o mau humor do mercado com a política fiscal, o relatório Focus de hoje mostrou uma projeção-base bem mais elevada para a taxa Selic e o IPCA nos próximos anos. Agora, o mercado antevê uma inflação de 4,84% em 2024, 4,59% em 2025 e 4,00% em 2026 – de 4,71%, 4,40% e 3,81%, respectivamente, nas projeções anteriores. Já para a Selic a mediana passou de 11,75% a 12% ao fim deste ano, e de 12,63% a 13,50% para o ano que vem.

Às vésperas da próxima decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom), o aumento do prêmio de risco fiscal faz com que o mercado coloque cada vez mais nos preços uma alta de 1 ponto percentual da taxa Selic nesta quarta-feira. Hoje, o mercado de opções digitais de Copom encerrou a sessão precificando chance de 70% para elevação no ritmo citado, contra apenas 20,5% para uma alta de 0,75 ponto percentual – que é o cenário-base da maioria dos economistas consultados pelo Valor.

À luz da piora da deterioração do quadro doméstico, o Itaú revisou o seu cenário-base e agora prevê que o Copom aumente a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 12,25%, na decisão de política monetária do colegiado na quarta-feira.

“Tal decisão, unânime, seria justificada pela piora do cenário base e das projeções de inflação, com um balanço de riscos ainda assimétrico para cima, que levam à necessidade de avançar mais em território contracionista”, escreve o economista-chefe do banco, Mario Mesquita, em relatório publicado hoje. Ele ainda espera que o Copom sinalize outra alta de 1 ponto na reunião de janeiro, o que deve levar a taxa Selic a um patamar maior do que a atual projeção do Itaú para o fim do ciclo de aperto monetário, de 13,50%.

O descompasso entre as políticas fiscal e monetária tem alimentado o temor de que o Brasil passe por um quadro de dominância fiscal. Para Ioana Zamfir, estrategista-chefe para América Latina do Morgan Stanley, tais riscos têm se materializado caso a dominância fiscal seja entendida pela ótica de Olivier Blanchard, economista francês que a define como o momento em que “as expectativas de inflação começam a responder mais à política fiscal que à monetária”.

“Na ausência de algumas mudanças nas medidas fiscais propostas que apontem para alguma vontade de abordar as preocupações do mercado com relação à trajetória da dívida, acreditamos que há mais prêmios de risco a serem precificados no câmbio e nas taxas”, diz Zamfir.

Para ela, a menos que um novo choque fiscal negativo ocorra, a tendência é que os vencimentos mais curtos da curva de juros futuros fiquem mais estáveis daqui pra frente, enquanto a ponta longa tem espaço para subir à medida que precifica as incertezas fiscais de médio prazo. Neste sentido, o Morgan Stanley abriu posição aplicada (que aposta na queda das taxas) em contratos de DI de janeiro de 2027, contra uma posição tomada (que aposta no aumento das taxas) em contratos de DI de janeiro de 2031. Na prática, a operação aposta em uma inclinação da curva de juros brasileira.

*Com informações do Valor Econômico

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