Selic em 11,25% reforça IPCA+ e desafia renda fixa privada; veja análise em vídeo
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) pela elevação em 50 pontos-base na taxa básica de juros (Selic), para 11,25% ao ano, nesta quarta-feira (6), veio com sinalizações para maior persistência inflacionária e um ciclo de aperto monetário mais forte.
Do lado dos investimentos, títulos atrelados à inflação seguem atraentes, enquanto o cenário para a renda fixa no setor privado se torna mais desafiador, avaliam especialistas.
Em live de repercussão sobre a decisão do Copom feita pelo InfoMoney na noite desta quarta-feira (6) – assista acima -, a head de Renda Fixa no Research da XP, Camilla Dolle, explicou que mesmo diante da expectativa de novos aumentos na taxa de juros, em sua estratégia, os títulos pós-fixados atrelados à Selic estão mais relacionados à alocação para caixa, na reserva de emergência.
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“Claro que temos uma expectativa de aumento da Taxa Selic para os próximos períodos, isso deve favorecer esses títulos em rentabilidade ao longo do tempo”, disse Camilla. “Mas não podemos esquecer de como estão os juros reais no Brasil. Tem títulos pagando IPCA + quase 7% ao ano.”
Cenário inflacionário
No comunicado da decisão publicado pelo Copom após a reunião, a desancoragem das expectativas de inflação por um período mais prolongado e a resiliência na inflação de serviços foram riscos de alta destacados.
Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, foram destacados a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
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“O comunicado não trouxe grandes novidades em termo de comunicação. Essa preocupação com inflação corrente e inflação prospectiva estava no último comunicado”, diz o economista da XP, Alexandre Maluf. “Eu diria que o principal ponto do documento são as previsões de inflação para o futuro, especialmente para o horizonte que o Copom olha com mais atenção, e esse horizonte é o segundo semestre de 2026.”
No último comunicado, o Banco Central previa o IPCA em 3,5% no primeiro trimestre de 2026, valor elevado para 3,6% no último comunicado. O valor foi de 3,4% na reunião de julho.
A XP revisou seu cenário para a Selic: antes prevendo uma taxa básica de juros em 12% em janeiro de 2025, a casa avalia um valor de 13,25% em maio do próximo ano. A avaliação é de que a Selic deve passar por ajustes sucessivos de 50 pontos-base até atingir este valor, manter o patamar e retomar cortes nas duas últimas reuniões de 2025, batendo 12,25% em dezembro do ano que vem.
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Títulos de renda fixa privados
O cenário de aumento dos juros deve servir para diminuir ainda mais a diferença na remuneração de títulos públicos atrelados à Selic e títulos privados, como debêntures. Segundo avaliou a head de Operações de Investimentos da UNICRED do Brasil, Patricia Palomo, a alta demanda por títulos desse tipo apertou ainda mais seus prêmios na comparação com aqueles emitidos pelo Tesouro, livres de risco.
“A decisão de investimento tem que considerar isso e buscar ativos que façam o equilíbrio correto entre o spread [diferença entre o rendimento dos títulos] e o risco que está oferecendo”, diz Palomo. Diante do aumento da taxa de juros e inflação persistente, explica, empresas mais alavancadas e com menor capacidade de repasse das elevações para manutenção das margens têm um risco adicional.
Fed, Donald Trump e fluxo estrangeiro
Nesta quinta-feira (7), um dia após a reunião do Copom no Brasil, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) se reúne para definir sobre a sua política monetária. A expectativa do mercado é por um novo corte, no sentido contrário às últimas decisões do Banco Central brasileiro.
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A diferença na direção das políticas monetárias poderiam abrir caminho para um fluxo maior de capital estrangeiro no Brasil, já que haveria uma expansão no spread. O receio quanto à política fiscal do Brasil, no entanto, ainda bloqueia uma consolidação desse cenário, avalia Palomo.
Para Alexandre Maluf, o resultado das eleições americanas, que sagraram Donald Trump vencedor, não deve levar a um impacto direto relevante no Brasil. “Se não houver um impacto de curto prazo tão substancial no câmbio, o efeito direto aqui é muito baixo”, disse.
Na avaliação do economista, questões internas se sobrepõem às internacionais nesse caso, o que até fez o Real ir comparativamente bem hoje, mesmo diante do aumento do índice Dólar e do mau desempenho de moedas emergentes. “Nossos desafios fiscais são muito mais relevantes no curto prazo, a apresentação dessa medida de corte de despesas do governo que o mercado tem aguardado com tanta ansiedade.”
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