4 armadilhas do cérebro que atrapalham a vida financeira
Quantas decisões da nossa vida financeira, desde as mais simples até o cálculo do valuation de uma empresa, sofrem impacto das nossas emoções? Para um especialista, todas são afetadas, em maior ou em menor grau.
“Toda decisão que o ser humano toma, por mais matemática que ela pareça, tem sempre um componente cognitivo”, afirma Diego Ozorio, doutor em Administração com ênfase em finanças comportamentais e professor da FGV.
O professor ministrou aula em um webinar sobre finanças comportamentais que a FGV apresentou na semana que passou. Ozorio centrou a sua apresentação nos impactos do cérebro para a avaliação de empresas por analistas, o famoso “valuation”, mas trouxe lições que servem para diferentes frentes da vida financeira.
“Dos modelos mais intuitivos aos mais avançados, você vai usar a sua intuição. ‘Mas eu fiz tudo em conta?’ Mas você tomou uma decisão, por exemplo, se você usou a média [dos resultados] dos últimos 3 anos ou dos últimos 5 anos. Mesmo a decisão mais racional ela é irracional”, argumenta.
Na apresentação, o professor Diego Ozorio citou quatro possíveis vieses, espécies de armadilhas do cérebro, que podem afetar boas decisões na vida financeira. A pesquisa se baseia nos escritos dos autores Daniel Kahneman e Amos Tversky. Vamos listá-los abaixo.
Finanças comportamentais: 4 armadilhas do cérebro
1. O viés da ‘representatividade’
O professor explica que todos nós levamos um pouco de quem nós somos para as nossas decisões, o que é esperado.
“Coisas que você viveu na sua profissão, que você leu num livro, formam o HD da sua cognição e você usa elas quando você faz uma escolha”, explica.
E qual é o risco? Ora, olhar apenas para o seu próprio umbigo. “Podem criar falsos cognitivos ou desconsiderar elementos relevantes que não fizeram parte das suas experiências. O cara viveu dentro de um ambiente, você ignora aspectos relevantes de um mercado porque você nunca viveu isso”, explica.
2. O viés da ‘disponibilidade’
O segundo viés de julgamento em destaque é o da disponibilidade. De acordo com Diego Ozorio, isso acontece quando você decide considerando aqueles fatores que mais aparecem. Por exemplo, uma notícia em destaque.
“É aquilo que chama mais atenção”, resume. São aqueles dados cognitivos chamativos, emotivos ou viscerais.
No caso do valuation, por exemplo, notícias com especulações sobre alguma mudança de lei que afetam um mercado chamam a atenção, mas podem te levar a ignorar “outros elementos relevantes, porém discretos”.
3. O viés da ‘ancoragem’
Sabe quando você brigava com seu irmão e corria para contar para a sua mãe primeiro, esperando que isso fosse fazer ela ficar do seu lado? Então, é disso que estamos falando.
“No caso da ancoragem, você usa os dados primitivos. O que são dados primitivos? É a primeira informação que você tem a respeito de qualquer assunto. Isso tem um peso cognitivo maior do que a segunda, que a terceira e assim por diante”, resume o professor.
E o risco? Não dar a devida atenção para os fatos que apareçam depois. “Quando você toma uma decisão equivocada por motivos de ancoragem, você fica absolutamente inerte à tudo que vem depois da primeira informação obtida”, afirma.
4. O viés do ‘enquadramento’
Fechando, nós temos o viés do enquadramento. De acordo com o professor da FGV, vale um olhar método cartesiano e do princípio de se fracionar um problema em vários para melhor solucioná-lo.
“Uma tendência natural do ser humano é transformar o problemão em probleminhas e ir resolvendo um atrás do outro até terminar. Segundo o método cartesiano, você vai do mais fácil para o mais difícil”, explica Diego Ozorio.
“Qual é o grande problema cognitivo desse enquadramento? Quando você acha que porque você planejou muito vai dar certo”, diz o professor.
Ou seja, esse planejamento pode trazer um excesso de autoconfiança. “Isso é um equívoco. Você fez um planejamento maravilhoso e tudo mais, mas o mundo vai seguir o caminho que ele quiser”, afirma.