Economia

Até quando vai a queda de braço entre o mercado e o governo?

No final da sexta-feira (1), nas principais agências de câmbio do país, a preço do dólar para compra, incluindo IOF e taxa administrativa, era de R$ 6,190. Bem acima da já elevada cotação de fechamento na bolsa de valores – R$ 5,86, maior patamar desde maio de 2020. E a maior cotação do governo Lula. No ano, o dólar acumula valorização de quase 21%. Então, vale a pergunta: até quando vai a queda de braço entre mercado e governo?

Os juros futuros, por sua vez, que carregam as expectativas do mercado para as taxas de juros à frente, também saltaram às máximas do ano. Para 2027, no final da sexta-feira, a taxa já era negociada acima dos 13% ao ano.

A queda de braço entre o mercado e o governo deve durar pelo menos mais alguns dias. Isso porque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passará a próxima semana em um giro pela Europa.

Haddad está com a missão de apresentar o plano de corte de gastos, estimado pela equipe econômica entre R$ 30 e R$ 50 bilhões.

Porém, o mercado espera um pacote fiscal com corte de R$ 50 a R$ 60 bilhões.

Qual o tamanho da dívida pública?

Hoje, a dívida do governo corresponde a quase 80% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2014, este montante equivalia a cerca de 50% do PIB.

A Secretaria do Tesouro Nacional, subordinada ao Ministério da Fazenda, é a responsável pela gestão da dívida pública federal.

Segundo números divulgados na quinta-feira (31) à noite pelo Tesouro Nacional, a Dívida Pública Federal (DPF) passou de R$ 7,035 trilhões em agosto para R$ 6,948 trilhões no mês de setembro, queda de 1,25%.

O recuo é explicado pela queda de 3,68% do dólar no mês de setembro e pelo vencimento de títulos brasileiros que circulavam no mercado internacional.

Com a queda em setembro, a DPF ficou temporariamente abaixo do previsto. De acordo com o Plano Anual de Financiamento, apresentado no fim de janeiro e revisado em setembro, o estoque da DPF deve encerrar 2024 entre R$ 7 trilhões e R$ 7,4 trilhões.

Quando o governo precisa pagar sua dívida?

No entanto, segundo o professor da Fundação Dom Cabral Bruno Carazza o problema é que esta Dívida Pública Federal (DPF) trilionária vence em um prazo médio de quatro ano.

Os vencimentos da DPF podem mudar devido a diversos fatores, como a taxa Selic, instabilidades no mercado e até o crescimento econômico.

A tabela mostra os vencimentos da DPF.

DPF
(em bilhões de R$)
VencimentosAgo/24Set/24
Até 12 meses1.244,3417,69% 11.239,4217,84%
De 1 a 2 anos1.343,0519,09%1.271,2118,30%
De 2 a 3 anos980,0013,93%1.216,8017,51%
De 3 a 4 anos870,2412,37%747,2610,76%
De 4 a 5 anos700,029,95%757,0510,90%
Acima de 5 anos1.897,8726,98%1.715,9624,70%
TOTAL7.035,51100,00%6.947,71100,00%
Fonte: Tesouro Nacional, Relatório Mensal da Dívida Pública Federal/Setembro de 2024

Isso significa que o governo tem de renegociar todo esse montante num prazo muito curto. O que coloca enorme pressão sobre o governo.

Tanto no curto prazo, basta ver a volatilidade do mercado, quanto no médio prazo, pois com uma dívida tão alta, a chance é de que numa renegociação os juros fiquem ainda mais elevados.

Você, investidor, é sócio da dívida

A maior parte da dívida é interna, com credores brasileiros. Os principais credores da DPF são:

  • Instituições financeiras
  • Previdência
  • Fundos de investimento
  • Não-residentes
  • Seguradoras
  • Fundos administrados pela União

Bancos, fundos de investimento e fundos previdência possuem em suas carteiras de investimentos títulos do Tesouro Nacional, como as NTNBs, que são títulos do Tesouro Direto.

O investidor pessoa física, você, portanto, também adquire estes mesmos títulos ao investir no Tesouro Direto, programa do Tesouro Nacional que permite apostar em títulos públicos federais.

Ou seja, ao comprar um título do Tesouro o investidor empresta dinheiro ao governo em troca de uma rentabilidade. O investidor recebe juros quando resgata o título. Daí, a importância deste debate.

As emissões do Tesouro Direto em setembro atingiram R$ 6,7 bilhões, enquanto os
resgates corresponderam a R$ 6,1 bilhões, o que resultou em emissão líquida de
R$ 582,28 milhões.

O título mais demandado pelos investidores foi o Tesouro Selic, que respondeu por 57,10% do montante vendido.

Queda de braço tem prazo para terminar?

A queda de braço entre o mercado e o governo deve durar pelo menos mais alguns dias. Isso porque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passará a próxima semana em um giro pela Europa.

A viagem, que estava prevista, foi informada na quinta-feira (31) pela assessoria de imprensa da pasta, embora ainda não conste na agenda oficial do ministro.

Segundo a assessoria do ministro, alguns compromissos ainda estão em fase de confirmação e serão divulgados conforme forem fechados.

Haddad tem previsão de embarque na próxima segunda-feira (4), e deverá regressar ao Brasil no sábado (9). Na prática, o titular da Fazenda só estará de volta a Brasília em 11 de novembro.

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